Nova linha da CPTM não minimiza longos trajetos de ônibus em Guarulhos

Sidney Pereira
Mais de cinquenta anos após a desativação do Trem da Cantareira, o famoso Trem das Onze, a cidade de Guarulhos voltou a ter ligação sobre trilhos com a capital. A um custo de R$ 2,3 bilhões, no último sábado (31), entrou em operação parcial a linha 13-Jade, que liga a estação Engenheiro Goulart, na zona leste, ao aeroporto internacional.
Com 12,2 km de extensão, a nova linha tem apenas duas estações em Guarulhos: Cecap, que dá acesso à rodoviária e ao terminal de ônibus Cecap, e Aeroporto, com saída para o terminal de ônibus Taboão.
Apesar da inauguração da nova linha, moradores de bairros próximos às estações, como Jardim Presidente Dutra, São João e Bonsucesso, ainda deverão gastar mais tempo para completar a viagem de ônibus.
O motorista Clécio Souza, 35, mora no Jardim São João e diz gastar até uma hora de ônibus para ir do terminal Taboão até a sua casa. “Essa estação nova é muito bonita, mas pra mim nada vai mudar. Se tivesse uma estação no meu bairro, não iria gastar nem dez minutos pra chegar”, lamenta.

A mesma situação relata a diarista Maria Júlia Rodrigues, 23. “Vou todo dia à zona leste e seria muito bom se o trem me deixasse perto de casa. Vou gastar 30 minutos de trem e mais 50 no ônibus”, diz.
O trajeto da nova linha ainda é curto, principalmente quando comparado ao do antigo Trem da Cantareira, que saía do centro de São Paulo, cruzava a zona norte e tinha 45 paradas, sendo cinco em Guarulhos.
Segundo a CPTM, a previsão é que linha Jade seja usada diariamente por 120 mil passageiros. Ela “beneficiará principalmente os moradores das duas maiores cidades do Estado, além de atender aos turistas e aos profissionais que vêm a São Paulo para negócios”.
Durante o mês de abril, os trens operam apenas aos sábados e domingos, das 10h às 15h, em intervalos de 30 minutos e sem cobrança de tarifa. O trajeto dura cerca de 15 minutos.
Em maio, a circulação passará a ser diária, mantendo a gratuidade e o mesmo horário. A operação plena começa somente em junho, das 4h à meia noite, e com pagamento de passagem, hoje de R$ 4. Nesse mês, também entrará em funcionamento o trem Connect, que fará o trajeto da estação Brás ao aeroporto em 35 minutos, em horários ainda não divulgados, e com o mesmo valor da tarifa comum.
Na etapa final de implantação da linha 13, a CPTM ainda prevê para julho o início do serviço Airport-Express que liga aeroporto e a estação da Luz, sem paradas, com quatro horários programados e uma tarifa diferenciada, que ainda não definida.
Na chegada ao aeroporto, ônibus de conexão ainda apresenta falhas
No domingo de Páscoa, a reportagem da Agência Mural visitou as novas estações da linha 13. Já na primeira viagem do dia, às 10h, uma pequena multidão aguardava o embarque na estação Engenheiro Goulart. Muitas famílias também foram conhecer a novidade. A maioria não fazia questão de sentar, e as portas eram disputadas na busca pelo melhor ângulo do trajeto até o aeroporto.
Uma das exceções foi a costureira Cristine Andrade, 53, que embarcaria para o Rio de Janeiro. Acompanhada dos filhos e do sobrinho, ela confessou que nem sabia da inauguração da linha, mas foi avisada por um amigo do trajeto para chegar ao aeroporto.
“Fiquei hospedada na Vila Madalena, e ele fez todo o roteiro pra gente chegar até aqui”, conta. A costureira confessa que gostou ainda mais da notícia quando fez a simulação de uma corrida particular em um aplicativo de transporte. “Iria dar mais de 80 reais”, comenta.
No entanto, quando o trem chega ao aeroporto, os passageiros ainda devem embarcar em um ônibus de conexão. A estação fica próxima ao terminal 1, o menos movimentado e distante dos terminais 2 e 3, que recebem os principais voos domésticos e internacionais.
O ônibus circular gratuito leva dois minutos para chegar ao terminal 1, nove minutos até o terminal 2 e 14 minutos até o terminal 3. Embora espaçoso, ele ficou lotado já no terminal 1.
Cercado de malas, em pé e quase sem poder se mexer, o comerciante Uriel Campelo, 50, diz que estranhou a superlotação. “Sou do Recife e venho sempre a São Paulo a trabalho ou passeio, mas hoje a situação está complicada. E é domingo de manhã, heim”, enfatiza.
Questionada sobre o motivo de os terminais 2 e 3 não terem estação próxima e se houve estudo para a implantação do sistema, a GRU Airport não respondeu e se limitou a informar que a localização foi decidida “com base nas necessidades técnicas de funcionamento do aeroporto e mediante alinhamento com a CPTM e o Governo do Estado de São Paulo”.
A concessionária também justificou que a decisão levou em conta “obrigações contratuais e as obras previstas no Plano de Gestão da Infraestrutura do Aeroporto Internacional de São Paulo, aprovado em 2013, ano em que foi concedido à iniciativa privada”.
Sidney Pereira é correspondente da Vila Maria
sidneypereira.mural@gmail.com