Mural https://mural.blogfolha.uol.com.br Os bastidores do jornalismo nas periferias de SP Mon, 27 Dec 2021 13:12:41 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Caro leitor https://mural.blogfolha.uol.com.br/2021/12/27/caro-leitor/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2021/12/27/caro-leitor/#respond Mon, 27 Dec 2021 13:11:23 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=18081 Este blog continua na Folha, mas, agora, em um novo endereço. Acesse https://www1.folha.uol.com.br/blogs/mural/ para continuar lendo tudo que o blog Mural publica.

Os textos já publicados permanecerão neste espaço para serem lidos e relidos.

Clique a seguir para ler o novo texto o blog:

Nas periferias, 2021 termina com misto de esperança e incerteza

 

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Como aplicamos 8 indicadores de credibilidade em nosso jornalismo https://mural.blogfolha.uol.com.br/2021/12/01/como-aplicamos-8-indicadores-de-credibilidade-em-nosso-jornalismo/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2021/12/01/como-aplicamos-8-indicadores-de-credibilidade-em-nosso-jornalismo/#respond Wed, 01 Dec 2021 17:56:47 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2021/12/05-320x213.jpeg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=18063 Anderson Meneses

Foi em maio de 2018 que aceitamos o desafiador convite da Ângela Pimenta e do professor Francisco Belda para aplicar, no jornalismo da Agência Mural, os indicadores do Trust Project (Projeto Credibilidade).

Confesso que a gente não tinha entendido muito bem o que deveria acontecer na prática, mas aceitamos. A animação dos dois por trazer o projeto para o Brasil e a nossa vontade de discutir ética no jornalismo falaram mais alto.

De lá para cá foram diversas reuniões, encontros virtuais, debates, conversas, documentos do drive e muita conversa. Paulo Talarico (editor-chefe) e Amanda Gedra (desenvolvedora web) me acompanharam nessa jornada junto com os gestores.

Como contamos semana passada, no dia 24 de novembro, entregamos aos nossos leitores um novo site. Com ele, atendemos os requisitos de conformidade dos 8 indicadores de Credibilidade, ao lado de outras organizações jornalísticas como esta Folha, a Amazônia Real, Nexo Jornal, O Povo, Poder360, Gazeta do Espírito Santo, e os dois mais novos integrantes: a Ponte Jornalismo e a GauchaZH.

Mas o que significa estes indicadores na prática? E como isso aparece para o leitor? É isso que vou tentar responder nesta thread. Bora lá?

Disponibilizamos em nosso rodapé a Política de Ética que precisa ser seguida por toda rede de correspondente da Mural, além da nossa Política de Prática de Correções. E em nosso site institucional é possível saber todos os financiadores da nossa organização sem fins lucrativos.

No fim da reportagem, exibimos o nome, foto, biografia, bairro e o Linkedin da-o jornalista. Cada autor tem uma página que agrega todas as suas publicações. O leitor também terá acesso ao e-mail dos correspondentes. – correspondente local é o “cargo” dado a todo jornalista aqui na Mural e estão em nossa linda página de equipe.

Ressaltamos para o leitor se aquela história que ele está lendo é uma Opinião, Crônica ou Notícia. Para aqueles conteúdos apoiados, também exibimos uma mensagem e o logo do apoiador no início do texto.

Agora os jornalistas podem disponibilizar para os leitores o processo e os dados necessários para apurar uma reportagem. A ideia é contar como uma reportagem foi feita e apresentar os dados utilizados na apuração e os arquivos recebidos via Lei de Acesso à Informação no campo “Como fizemos?” no fim da página.

Além da nossa política editorial disseminada internamente, mantemos em destaque os 10 princípios para a cobertura jornalística das periferias. Mais dois documentos importantes que guiam o nosso jornalismo.

Agora, identificamos as pautas com uma tag do local, além de lançar a página “Sua Quebrada”, onde é possível navegar por todas as regiões da Grande São Paulo.

Criamos a “Declaração de Diversidade de Vozes” e disponibilizamos os dados de faixa etária e cor/raça de nossa rede de muralistas.

Em toda reportagem também aparece o botão “Reportar erro”. O formulário é enviado ao nosso editor-chefe, que analisa e responde todos os casos.

E por último, apresentamos o “Tijolilson”. Ele está presente em todo o site da Mural e sempre levará o leitor para conversar com a redação.

E seguimos um padrão para exibir tudo no código fonte. A ideia é fornecer aos buscadores e mídias sociais padrões técnicos consistentes de que precisam para apresentar notícias confiáveis, relevantes e honestas. Google, Facebook e Bing já usam na hora de exibir um resultado.

No fim, descobri que credibilidade se constrói com transparência e conversas. E é isso que os indicadores buscam. 

Anderson Meneses é codiretor e cofundador da Agência Mural de Jornalismo das Periferias
anderson@agenciamural.org.br

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Celebrando novos ciclos contrariando as estatísticas https://mural.blogfolha.uol.com.br/2021/11/26/celebrando-novos-ciclos-contrariando-as-estatisticas/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2021/11/26/celebrando-novos-ciclos-contrariando-as-estatisticas/#respond Fri, 26 Nov 2021 21:31:45 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2021/11/bolos-festas-anderson-meneses1-1-320x213.jpeg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=18052 Anderson Meneses

Eu tinha por volta de dez anos de idade quando minha mãe começou a preparar festas infantis para complementar a renda de casa. A cozinha, a sala e os quartos ficavam tomados de lembrancinhas, docinhos, salgadinhos e bolos dos mais variados temas.

Os meus irmãos e cunhadas se juntavam em casa para ajudar a montar e entregar nas festas. Virou uma fábrica. Havia dias que eram feitas até quatro festas diferentes. 

Como era muito pequeno, minha missão era abrir as forminhas de docinhos e ajudar no transporte e montagem da festa na casa das pessoas. Normalmente moradores da região, que ficavam encantados com a dedicação e o carinho, que minha mãe fazia a gente ter por cada uma das entregas.

Eu aprendi a celebrar nesse ambiente. Todo fim de semana ajudava a encher bexigas em uma salinha bem pequena, em salões de festa alugados ou até em vielas, onde corredores estreitos abriam espaços para celebrar mais um ano de vida de algum ou alguma moradora.

Na quarta-feira, dia 24 de novembro, mais uma festa aconteceu, mas dessa vez não apenas em Pirituba, mas sim em todas as 51 quebradas onde a Agência Mural de Jornalismo das Periferias está presente. Completamos 11 anos de existência (desde o primeiro post neste blog). E por aqui compartilhamos outras vez o porquê da importância de celebrar a vida, principalmente quando a gente está contrariando as estatísticas. 

E, neste aniversário, decidimos que o presente seria fortalecer ainda mais nossa missão, e com os nossos! Ou seja, fazer bom jornalismo sobre as bordas da Grande São Paulo, cobrir a falta de informações sobre essas regiões e quebrar os preconceitos que historicamente marcam as quebradas.

Ilustração que marca aniversário da Agência Mural (Magno Borges/Agência Mural)

A festa vai acontecer no nosso novo site, que ganha um desenho pensado cuidadosamente para o nosso público prioritário, os e as jovens das periferias.

Mas por que desenhar um novo site?

Em todos estes anos, a Mural construiu sua própria linguagem. As nossas reportagens em textos, podcasts, vídeos e ilustrações são vivas e com personalidade. Mas ainda faltava “atualizar” a “casa” onde reunimos diariamente toda a nossa produção.

Além disso, nossa cobertura cresceu nos últimos anos, e também precisávamos organizar e hierarquizar melhor nossas histórias, para nos conectarmos ainda mais facilmente com nossa audiência.

Esse novo site chega após um ano de muito trabalho, reuniões, conversas e desconstruções de como poderíamos reinventar o jornalismo nas quebradas. E tudo isso em meio à maior crise da nossa história em termos sanitários, políticos e econômicos.

Um projeto feito a várias mãos. Que não é apenas um novo desenho de tema ou uma reformulação para colocar mais banners na página. É sim uma nova proposta de olhar e apontar um dos possíveis caminhos para o futuro do jornalismo nas periferias.

Te convido a (re)conhecer a casa “nova”. Infelizmente hoje não podemos servir docinhos, salgadinhos e cortar o bolo, mas se pudesse fazer um pedido na hora de apagar a velinha seria para que mais pessoas pudessem estar com a gente nessa festinha. Bora?

Anderson Meneses é codiretor e cofundador da Agência Mural de Jornalismo das Periferias.
anderson@agenciamural.org.br

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O lugar onde vivo esteve no pódio da Olimpíada de Língua Portuguesa https://mural.blogfolha.uol.com.br/2021/10/22/o-lugar-onde-vivo-esteve-no-podio-da-olimpiada-de-lingua-portuguesa/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2021/10/22/o-lugar-onde-vivo-esteve-no-podio-da-olimpiada-de-lingua-portuguesa/#respond Fri, 22 Oct 2021 21:56:02 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2021/10/51424221355_35d96cd320_c-320x213.jpg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=18012 Vagner de Alencar

Quarta-feira, dia 20 de outubro: eu chorei diante de centenas de  estudantes do 3º ano do ensino médio de escolas públicas de todo o Brasil. Convidado a falar na 7ª Olimpíada de Língua Portuguesa para semifinalistas do concurso, a emoção, literalmente, subiu ao pódio. Todos nós ganhamos. 

As lágrimas foram inevitáveis quando a imagem de Deusane e Luzimar, professoras de uma das escolas por onde passei, em Barra do Choça (BA), surgiu logo no começo de minha apresentação.

Na imagem de sete anos atrás, elas mostravam em um painel fotos e crônicas usadas para estimular seus alunos na categoria “crônica” da Olimpíada de Língua Portuguesa daquele ano. No painel estava eu. 

Os textos retratavam o cotidiano do povoado que havia ficado para trás assim que me mudei para Paraisópolis, segunda maior favela de São Paulo.

Palestra para estudantes semifinalistas da categoria “Artigo de Opinião”, na 7ª edição da Olimpíada de Língua Portuguesa (Reprodução)

Nesta semana, falar com estudantes na Olimpíada foi resgatar essa lembrança. Foi poder ler de Lucicarla, moradora do povoado onde cresci na Bahia, a seguinte mensagem. “Eu era dessa época. Você me inspirou a gostar de escrever”. 

Entre inspirações, tive o prazer de estar acompanhado, nesta Olímpiada, por Cintia Gomes, diretora institucional da Agência Mural.

Ela mostrou para os estudantes como um jornal escolar, criado durante o ensino médio, foi a fagulha para, anos mais tarde, acender a chama pela profissão de jornalista e, assim, poder escrever as histórias não contadas sobre seu bairro. 

O bairro do Jardim Ângela que, em 1996, foi considerado o mais violento do mundo pela ONU (Organização das Nações Unidas). 

Cintia sabia que havia mais (e outras) narrativas a serem contadas. O que vem fazendo nos últimos dez anos.

“Nascer e estar na periferia é algo que a gente carrega conosco. Nas reportagens da faculdade, eu sempre queria escrever sobre o meu bairro, contar o que via e não encontrava nos grandes veículos”, contou aos alunos. 

Na apresentação, Cintia apresentou imagens do Regaço, o jornal escolar produzido por ela junto com outros colegas, de palestras com jovens e até da participação na bancada do programa Roda Viva, da TV Cultura, quando foi convidada a entrevistar o secretário de educação do estado de São Paulo. 

Enquanto há dez meses, ainda no pico da pandemia, Cintia entrevistava, ao vivo e em rede nacional, o secretário, nesta semana, com o avanço da vacinação, acompanhamos a obrigatoriedade da “volta à escola” em São Paulo e em alguns estados do país. 

Diante desse momento, que ainda exige cautela e cuidados, continuo a defender a necessidade de ouvir os jovens da escola pública. Dos semifinalistas da Olimpíada, buscamos escutar o que tinham a dizer — ou melhor, pudemos ler o que puderam nos escrever. 

E foram várias perguntas. Giovana, por exemplo, pediu dicas e quis saber como identificar se uma fonte é realmente confiável, Lorrana perguntou como nos sentimos representados ampliando a voz dos moradores das periferias, já Adriel questionou como será a Mural daqui a dez anos.

O papo rendeu. Cintia e eu os aconselhamos a sempre questionar de sites e links duvidosos, ler mais, visitar diferentes portais de notícias para realmente tirar à prova uma determinada informação, e se pautar sempre na ciência. 

Dissemos que nosso futuro será continuar a contar ainda mais histórias. Quem sabe em outros e mais lugares.

As lágrimas emocionadas do começo da conversa virtual se converteram em sorrisos largos ao longo de mais 60 minutos. Embora não tenhamos podido ver minúsculos ícones com os rostos dos estudantes, ler a mensagem de um deles, o José Daniel (“Incrível, uma das melhores palestras que já participei”), simbolizou perfeitamente o que escrevi no começo deste texto. 

Nesta Olimpíada cujo mote foi “O lugar onde vivo”, todos nós ganhamos.

Vagner de Alencar é cofundador e diretor de jornalismo da Agência Mural de Jornalismo das Periferias

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Um “vacinômetro” contra a desinformação https://mural.blogfolha.uol.com.br/2021/08/20/um-vacinometro-contra-a-desinformacao/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2021/08/20/um-vacinometro-contra-a-desinformacao/#respond Fri, 20 Aug 2021 19:51:15 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2021/08/20210731_112615-320x213.jpg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=17959 Cleber Arruda

A estudante de jornalismo Bruna Rocha, 21, acordou às 4h da manhã da última quarta-feira (18) ansiosa para vacinar contra Covid-19 no posto de saúde do seu bairro, em Pituba, Salvador. Na noite anterior, seu nome não constava no registro e ela fez um recadastro. 

Saiu de casa antes das 6h e conseguiu o quarto lugar na fila de espera, onde encontrou três amigos. Até o início da vacinação, que deveria começar às 8h e atrasou meia hora, Bruna viu o tempo fechar e um temporal cair sobre eles, em mais um teste de resiliência nesta saga. 

“Estava aguardando que a vacina fosse no domingo, mas suspenderam. Depois, quando finalmente achei que seria na terça, o governo adiou novamente.” 

Passado o susto com a situação cadastral, a espera de dias e horas e o mal tempo, Bruna, nossa correspondente da Agência Mural na capital baiana, saiu da unidade de saúde com muitas fotos e vídeos da ocasião, e entrou para uma estatística que tem surtido um efeito comemorativo na nossa rede: criamos um ”vacinômetro”. 

Sim, temos uma tabela com os nomes dos nossos atuais 97 membros da Mural, na Grande São Paulo e em Salvador, em que preenchemos voluntariamente nossas idades, datas de vacinação contra Covid-19 e o nome das vacinas que tomamos. 

Bruna (na direita) depois de se vacinar em Salvador (Arquivo Pessoal)

A ideia vai além de acompanharmos e celebrarmos cada membro vacinado, queremos fortalecer e defender a vacinação como forma de proteção e ajudar a multiplicar este sentimento entre as redes de cada um dos muralistas.

Atualmente, conversando com outros muralistas e outros familiares, a sensação é que ainda há um trabalho intenso a ser feito no campo de informar sobre a importância da vacinação, sobretudo o de combater o fluxo de desinformação existente a respeito do tema.

Tamanho das filas, negacionismo, questões políticas, dúvidas a respeito da eficácia são algumas das razões que as pessoas apresentam para não querer vacinar.

Nas últimas semanas, com as vacinações das pessoas com idades entre 20 e 30 anos, os números da nossa tabela “decolaram”, já que grande parte da nossa rede está nesta faixa etária. No total, temos 98% dos muralistas vacinados com a primeira dose, e 22% vacinados já com a segunda dose.

A única muralista que não vacinou até o momento estava com Covid-19 e deve se vacinar até o fim deste mês.

Já vacinada com as duas doses, a correspondente do Capão Redondo, Suzana Leite, 24, foi a primeira a ser vacinada da turma. Recém-chegada à nossa rede, em janeiro, ela trabalhava como agente comunitária quando recebeu a primeira dose.

“Não tenho comorbidades, mas estava na linha de frente no posto. Realizava duzentas e poucas visitas por mês, organizava filas, alertava os pacientes, e por ter esse contato direto com o público, fui vacinada”.

Da experiência, Suzana conta ter encontrado um cenário diferente do atual, com muito mais desinformação a respeito da vacinação. “Tinha muita recusa, as pessoas estavam indecisas, queriam saber a origem da vacina, e muitos idosos deixaram de tomar a vacina”.

Mesmo após a primeira dose, Suzana conta ter contraído a covid-19 duas semanas depois e ter ficado mal. “Tive que me afastar e quando retornei, as pessoas ficaram surpresas porque elas não acreditavam que isso era possível. Então, falta informação.”

A imunização completa acontece depois da segunda dose, mas mesmo assim, ainda são necessários cuidados.

Jacqueline na hora da imunização em Cidade Ademar, na zona sul (Arquivo Pessoal)

Em Guarulhos, o casal de muralistas Thalita Monte Santo, 28, e Jordan Mello, 35, se vacinou recentemente. 

“Nós estávamos com muitas expectativas, uma porque eu estava amamentando e outra pela imunização mesmo. Quando liberaram para puérperas, eu tinha passado da fase e não consegui. Ia todos os dias ao posto perguntar se já tinham liberado para lactantes, mas não foi o caso de Guarulhos, como ocorreu em São Paulo”, lamentou.

Thalita conta que tentou se cadastrar diversas vezes no site da prefeitura sem sucesso. Com isso, o casal esperou a idade. “O Jordan se vacinou primeiro e já foi um alívio. E na mesma semana, eu consegui também. A gente fica muito feliz quando são pessoas próximas, ainda mais porque pessoas da família dele faleceram. E quando chegou a minha vez foi uma emoção indescritível.”

Enquanto isso, nós vamos comemorando nossa tabela cada vez mais preenchida e compartilhando do efeito tranquilizador das fotos e posts dos colegas vacinados nas redes sociais.

Cleber Arruda é cofundador da Agência Mural e editor do projeto em Salvador

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A nossa história perdura à revelia do fogo https://mural.blogfolha.uol.com.br/2021/08/13/a-nossa-historia-perdura-a-revelia-do-fogo/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2021/08/13/a-nossa-historia-perdura-a-revelia-do-fogo/#respond Fri, 13 Aug 2021 17:12:47 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2021/08/Cinemateca-protesto-320x213.jpg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=17954 Ingrid Fernandes

Quando vi as imagens do fogo consumindo um dos maiores acervos de cinema da América Latina em 29 de julho, um refrão cantou dentro de mim: “meu olhar transbordou na esperança do fogo apagar; meu peito calou, sem lágrimas para derramar”.

A música é interpretada pelo sambista paulibucano (paulista e pernambucano) Toinho Melodia, um grande mestre.

Mas ele não canta sobre nenhum museu, nem lamenta o destino dos arquivos que viraram pó e fumaça. O samba, na verdade, denuncia a especulação por trás do fogo que consome sistematicamente os barracos nas favelas do Brasil inteiro, a história de vida das pessoas. 

Apesar de ocupar um outro lugar no noticiário, a Cinemateca Brasileira queimou com esta mesma sorte dos incêndios acidentais bem planejados. Alguns dias antes, a repercussão escandalosa de chamas mais tímidas preservaram apenas a estátua do Borba Gato, que contará com financiamento privado para sua restauração.

No caso da Cinemateca, chega a ser macabra a ironia de que a mesma invenção elaborada para registrar as imagens do mundo real queimando o papel participe como condutora das chamas deste espetáculo da política de esquecimento.

Na outra ponta da analogia, é cruel ver a casa de quem trabalha tanto para fazer a maquinaria  da cidade funcionar simplesmente virar cinzas — também não por causa da gambiarra ou do botijão, a quem culpam por má fé.

Era 24 de janeiro de 1964, na zona sul do Rio de Janeiro, o Corpo de Bombeiros incendiou os mais de 500 domicílios do Morro do Pasmado a mando do então prefeito Carlos Lacerda, desabrigando cerca de 2 mil pessoas. 

Em seu lugar, hoje o morro acomoda um mirante que da favela só carrega o mesmo nome. Reza a lenda que, em breve, um museu em homenagem às vítimas do Holocaustro será inaugurado para ornar com o obelisco de 20 metros que reina ali.

Diante da beleza da enseada de Botafogo, é quase impossível imaginar que exista um samba que também conte sobre como ali o “fogo no morro alastrou”. Afinal, como se escolhe o que vamos lembrar?

O exercício diário de um jornalismo periférico envolve refletir sobre essa responsabilidade. O papel de registrar histórias que tradicionalmente ficam relegadas ao esquecimento, de moradores que estão nas quebradas e são fundamentais para a constituição da história da cidade e influem no desenvolvimento econômico, cultural e político. É o que busca fazer a Agência Mural e outras iniciativas do jornalismo das quebradas.

Em um mundo onde a distância entre a sua casa e o cinema é geralmente proporcional à chance de seu lar pegar fogo, não é de se estranhar o lugar que a denúncia ocupa na arte feita por quem labuta, como canta Toinho e tantos outros que nunca beberam “da bebida de quem está no poder”.

O espaço urbano é um nó que articula a tensão permanente da exploração e concorrência. A cidade, como se sabe, sempre foi um fenômeno de classe. Nela a produção cultural se inscreve igualmente como um um lugar de conflito, onde as decisões de transmissão da memória entram em disputa e a história ganha forma.

A memória, tão esburacada quanto qualquer arquivo, depende de circunstâncias de partilha de experiência — é só aí que ela pode ser nossa. A roda de samba, lugar de mediação entre o testemunho e a História, que eu considero até mais que o cinema, mantém de pé histórias que o fogo não pode arder. A menos, é certo, que queimem todos nós. 

Sem a ilusão dos que se dizem vencedores desta guerra social, nunca poderemos dizer que não há nada para se ver nos escombros da barbárie. É preciso estreitar os olhos e vislumbrar o que está por baixo dos arranha-céus, perseguir a memória do fogo em cada coisa que não queimou, comparar o que vemos no presente com aquilo que pode ter desaparecido. 

A nossa história perdura à revelia do fogo.

Ingrid Fernandes é responsável pela estratégia de distribuição de conteúdos da Agência Mural, cuida das redes sociais e às vezes escreve aqui no blog

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O futuro olímpico está nas periferias https://mural.blogfolha.uol.com.br/2021/08/06/o-futuro-olimpico-esta-nas-periferias/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2021/08/06/o-futuro-olimpico-esta-nas-periferias/#respond Fri, 06 Aug 2021 17:46:20 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2021/08/Rebecca-320x213.jpg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=17949 Cléberson Santos

O Brasil superou seu melhor desempenho no quadro de medalhas em Tóquio 2020. Com as finais no boxe, no futebol masculino e no vôlei feminino, o país ultrapassará as 19 medalhas conquistadas no Rio, em 2016. 

Isso significa que o Brasil está caminhando para se tornar uma potência olímpica, capaz de alcançar o almejado top 10 que o COB (Comitê Olímpico Brasileiro) desejou para 2016? Difícil dizer. Principalmente porque o país desperdiçou a chance de se fortalecer esportivamente após sediar os Jogos.

5 dos 6 líderes do quadro de medalhas receberam Jogos Olímpicos nos últimos 25 anos. Apenas Grécia e Brasil estão fora do topo. Todos estes souberam aproveitar o tal “legado olímpico” para formar novos e promissores atletas.

Ao pesquisar o material para uma série de reportagens sobre as periferias e os Jogos para a Agência Mural, percebi que há poucas diferenças no passado, presente e possível futuro dos atletas olímpicos brasileiros.

Há dois perfis principais de atletas no Brasil, os que foram formados por tradicionais clubes da classe média alta, como Pinheiros ou Paulistano, e os que vieram de projetos sociais que recebem jovens vindos das áreas mais pobres das cidades. Os boxeadores finalistas em Tóquio, por exemplo, fazem parte desse segundo grupo.

O Brasil, enquanto país capaz de investir, quase não forma atletas. Os programas existentes como o Bolsa Atleta e o Bolsa Pódio sequer atende todos os atuais atletas olímpicos. 

Uma das poucas exceções é o Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa, equipamento público focado em alto rendimento de São Paulo. 

Qualquer criança ou adolescente pode participar das peneiras de lá, treinar, competir e até mesmo ser contratada por algum clube no futuro. Escolhi pesquisar promessas olímpicas para os Jogos de 2024 diretamente no COTD por saber que é um lugar que conta com atletas de todas as regiões. 

Porém, é muito pouco que uma cidade do tamanho de São Paulo centralize tantas promessas num único equipamento. Os CEUs, Clubes Escolas e até mesmo os projetos sociais, apesar de terem estrutura, trabalham o esporte como atividade recreativa. 

Óbvio que isso é importante, para desenvolver as crianças como cidadãs e as manterem ocupadas em tempo integral. Contudo, chega uma hora que elas são obrigadas a escolher entre o esporte ou o primeiro emprego, às vezes mais cedo do que deveria ser. Não precisava ser assim.

Chegar a uma Olimpíada não deveria ser fruto de uma superação individual, como o Felipe dos Santos, atleta do decatlo que vive em Guaianases, na zona leste, que treina parte do tempo, enquanto trabalha também como motorista de aplicativo. Ao menos 33 esportistas em Tóquio se dividem com outras profissões, mostra levantamento do Globo Esporte.

Ou Ailton, da luta olímpica, que começa a rotina 5h e fica mais de duas horas no transporte até a Brasilândia para poder manter o sonho de um dia disputar a competição. 

Propor “mini COTD’s” nas periferias e em cidades menores seria um ótimo começo para que Rebeca Andrade não seja apenas uma inspiração, mas uma meta cada vez mais possível.

Cléberson Santos é correspondente da Agência Mural no Capão Redondo

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Ser produtivo no trabalho enquanto enfrentamos os lutos da pandemia https://mural.blogfolha.uol.com.br/2021/07/08/ser-produtivo-no-trabalho-enquanto-enfrentamos-os-lutos-da-pandemia/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2021/07/08/ser-produtivo-no-trabalho-enquanto-enfrentamos-os-lutos-da-pandemia/#respond Thu, 08 Jul 2021 20:53:39 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2021/07/49921717487_1dbb39ff3c_k-320x213.jpg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=17922 Tamiris Gomes

Em junho perdi uma tia para a Covid-19. Marineide Maria Gomes Neves, 64. Ela, com toda a família, morava em Jundiapeba, bairro da periferia de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Não pude vê-la, não me despedi, não abracei minhas primas e primos nem “vivenciei” a partida de alguém próximo. Foram chamadas no WhatsApp, áudios, um luto online. 

Familiares de 529 mil pessoas no Brasil também sentiram e sentem essa dor. É o número de mortes registradas por causa da doença. E minha tia é uma das 60 mil vítimas da Covid-19 só na Grande São Paulo

Segundo um estudo epidemiológico feito no Japão e nos EUA há alguns anos, a morte de alguém impacta diretamente na saúde emocional de uma a seis pessoas — que são em média mais próximas à vítima. Além disso, ver amigos, colegas de trabalho ou conhecidos perderem familiares também nos afeta em algum grau. 

Este ano, “presenciei” a notícia de pelo menos dois amigos da Agência Mural que perderam pessoas da família. Nos chats da equipe, trocamos palavras de conforto, “meus sentimentos”, “força”, mas a sensação é de um protocolo que repetimos e nunca vemos um fim. 

Depois do ocorrido com minha tia, demorei alguns dias para retomar as atividades no ritmo parecido com o de antes. Lidar com a produtividade (ou falta dela) é um desafio. É quando me pergunto: como ser criativa e estar concentrada com tanta coisa ruim acontecendo? 

Conversando com a psicóloga que tenho iniciado algumas sessões, ela me elucidou que passamos por diferentes tipos de luto que prejudicam o rendimento: a consequência da perda da antiga rotina, de alguns hábitos, das relações (pessoais ou de trabalho), a vida social. Há também quem tenha perdido o emprego, a estabilidade financeira. Tudo isso também adoece. 

No meu caso, a preocupação e medo por questões da pandemia, tristeza e mudanças de rotina acabaram afetando a qualidade do sono. E uma mente cansada não consegue produzir. 

Mas a terapia tem me ajudado a encontrar certo equilíbrio nesse período, respeitar o luto e entender que há dias que “não tá tudo bem”. Esse tipo de apoio tem sido cada vez mais necessário. 

Se tratando especificamente da saúde mental dos jornalistas, o cenário é bem preocupante. Estudos realizados pelo ICFJ (International Center for Journalists) indicam que 70% dos profissionais entrevistados consideram os efeitos psicológicos da Covid-19 como o aspecto mais difícil para lidar no trabalho – 82% tiveram ao menos uma reação emocional negativa na pandemia. 

Por isso é preciso destacar a importância do acolhimento no ambiente de trabalho. Programas ou ações em prol da saúde mental dos jornalistas ou de quem trabalha com informação (freelancers, autônomos e colaboradores em geral) deveriam ser o básico em todas as redações. 

Em junho, a Agência Mural iniciou uma “parceria solidária” com um grupo de analistas da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, e de nutricionistas do Grupo Corpo e Cultura. Eles se dispuseram a oferecer horas de trabalho para que a redação fixa da agência seguisse seu cotidiano com apoio. 

“Nas periferias, como em todos os outros lugares do país, os profissionais envolvidos em garantir que as informações cheguem aos seus leitores e suas leitoras estão ainda mais expostos. Não apenas aos riscos da contaminação real, mas também fragilizados por terem de lidar com a cobertura desses tempos mais que difíceis, diariamente”, escreveu Cíntia Gomes, diretora institucional da Agência Mural. 

Após um ano e quatro meses depois do início da pandemia, parece repetitivo esse papo de resiliência, mas cuidar da saúde mental segue urgente.

Tamiris Gomes é editora-assistente da Agência Mural

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O papel dos fotógrafos das periferias no registro da realidade https://mural.blogfolha.uol.com.br/2021/06/10/o-papel-dos-fotografos-das-periferias-no-registro-da-realidade/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2021/06/10/o-papel-dos-fotografos-das-periferias-no-registro-da-realidade/#respond Thu, 10 Jun 2021 20:07:33 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2021/06/Nenê-e-Léu-foto-de-uma-criança-da-Favela-do-Morro-do-Pullman-zona-sul-320x213.jpg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=17883 Tamiris Gomes

Era 13 de maio de 2020, dois meses depois do início da pandemia de Covid-19, quando o fotógrafo Marcelino Melo (o Nenê) registrou com seu drone oito tratores cavando centenas de covas no Cemitério São Luiz, na zona sul de São Paulo. A imagem dolorosa transmitiu a dimensão da tragédia — que ainda perdura. 

Ferramenta de memória histórica, a fotografia tem essa capacidade de denunciar e informar. “O maquinário era muito grande. Pensei: “mano, o ‘baguio’ tá louco e a gente não tá sabendo o suficiente”, sentiu Melo quando captou as imagens

A visão aérea das covas lembrava um “código de barras”, contou. “Naquele dia voltei para casa mais transtornado”, desabafou ele, que vive no Jardim Piracuama, no Campo Limpo, e é criador dos projetos “Menino do Drone” e “Quebradinha”.

É também na zona sul, no Jardim São Luís, que mora o fotógrafo Léu Britto, correspondente da Agência Mural. Ele registra o cotidiano das periferias há mais de 10 anos e falou como é trabalhar em meio à sensação de medo e desesperança. 

“Se eu travar e tiver mais medo do vírus eu tô lascado, passarei fome. Meu corre é viver de fotografia. E para registrar histórias tenho que ir até onde elas moram”, disse.

“Máscaras, álcool, fé e coragem” é o que Britto carrega junto com a câmera e os equipamentos fotográficos quando vai fazer uma cobertura. Em setembro de 2020 ele publicou o especial “Retrato em Quarentena”, após fotografar o peso da pandemia e os impactos do avanço das mortes pelo vírus nas periferias.

O fotógrafo relatou a rotina dos trabalhadores de cemitérios de São Paulo, além de registrar em reportagens a aglomeração no transporte público, falta de trabalho e as precárias condições de moradia das populações nas favelas.

Entre as ocupações que surgiram na pandemia, ele destaca a ocupação no Jardim Julieta, e a favela da Tribo, no Jardim Damasceno, ambas na zona norte. “Esses locais me incentivaram a continuar documentando e focando meu trabalho no registro do cotidiano dessas famílias, que lutam pra sobreviver”, explicou.

Britto e Melo definem o trabalho fotográfico como uma importante documentação dos fatos, ainda que a percepção da imagem como recorte da realidade não tenha o efeito de mudança que se espera. 

“Tive feedbacks de pessoas que viram uma foto e isso mudou seu pensamento sobre a dimensão da situação [da pandemia], passou a refletir mais.” Mas, por outro lado, Nenê conta que “tem gente que ignora”. 

“E com a polarização de opiniões, chegaram a dizer que minhas fotos [da vista aérea do Cemitério São Luiz] eram fake. Já ouvi isso.” Pois é. 

É a mesma sensação de Léu Britto. “Por vezes me sinto bem impotente por imagens da realidade nua e crua não surtirem nenhum efeito na sociedade em geral.”

Apesar disso, “a imagem marca historicamente que houve uma materialidade dos eventos, positivos ou negativos, de uma história”, finaliza. 

O papel da fotografia nas periferias durante a pandemia será o assunto do segundo episódio da Live na Laje, programa ao vivo da Agência Mural. 

A conversa será transmitida nesta sexta-feira (11), às 17h, pelo Instagram, e contará com a participação dos fotógrafos Léu e Nenê, já apresentados neste texto. 

O bate-papo permeia os bastidores da cobertura fotográfica feita por quem anda diariamente pelos becos e vielas das periferias brasileiras. Além disso, traz uma reflexão sobre o registro-denúncia das desigualdades em tempos tão sombrios. 

Tamiris Gomes é editora-assistente e cofundadora da Agência Mural

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Educação midiática e jornalismo em educação: precisamos dos dois! https://mural.blogfolha.uol.com.br/2021/06/03/educacao-midiatica-e-jornalismo-em-educacao-precisamos-dos-dois/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2021/06/03/educacao-midiatica-e-jornalismo-em-educacao-precisamos-dos-dois/#respond Thu, 03 Jun 2021 15:53:43 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2021/06/MuralnasEscolas2-320x213.jpg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=17871 Cíntia Gomes

Nos últimos anos, com a tão famosa “crise” no nosso setor, veículos especializados em educação foram deixando de existir, as editorias de educação nos jornais impressos e sites foram incluídas em outros temas mais abrangentes como cotidiano, cidades e geral. 

E quando ganham destaque, as reportagens sobre educação são mais pautadas pelos anúncios governamentais, como  a realização do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) ou o corte de bolsas da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).

Há poucas histórias e poucos veículos com espaço e recurso para cobrir um tema tão importante no dia a dia. E são poucos os jornais com um profissional especialista em educação.

Essa cobertura jornalística como temos atualmente, só reforça o quão necessário é investir e cuidar de outra educação, a midiática, que está ligada diretamente a quem produz e quem consome notícia.

Ter acesso e saber consumir informação faz hoje parte das habilidades que todo cidadão precisa ter para se mover no mundo, no seu cotidiano.  A educação midiática, como tem sido chamada mais recentemente, contribui para que as pessoas possam ser críticas sobre o que leem, assistem e ouvem na imprensa.

Não é tão simples quanto parece.  Por estarmos conectados a todo instante e atualizados com tudo que acontece, principalmente pelas mídias sociais, torna-se cada vez mais complexo buscar informação confiável, o que facilita a disseminação de conteúdos falsos, enganosos ou de pura propaganda.

Com o tempo, nós fomos descobrindo que temos de fazer as duas coisas ao mesmo tempo: cobrir o acesso e a qualidade da educação que acontece nas periferias, cuidar da formação dos jovens profissionais que passam pela nossa rede e, mais que nunca, contribuir para que nossa audiência consiga nos ler, nos assistir e nos ouvir de forma crítica e inteira.

Oficina da cobertura Jornalismo com estudantes de jornalismo (Halitane Rocha/Agência Mural)

A educação midiática não só contribui para um cidadão mais conectado e crítico, mas também possibilita que os jovens jornalistas enxerguem novas perspectivas das informações e ampliem a narrativa que se produz sobre onde vivem. 

Recentemente o Redes Cordiais lançou um guia para capacitar cidadãos a aplicar com autonomia métodos de mensuração de impacto a projetos de educação midiática.

A Agência Mural contou ali sua experiência, mostrando que era preciso investir mais em educação midiática, principalmente fazendo com que as pessoas possam passar pela vivência de participar deste “fazer jornalístico”.

Percebemos sempre que quando um estudante ou morador tem contato com esses jornalistas, que cresceram e nasceram no mesmo bairro que ele, acontece uma identificação, ele se sente representado. Passa a questionar mais e observar outros argumentos e a refletir mais sobre o que é falado sobre ele, sobre seu bairro, sua escola e seu entorno. 

Não basta fazer jornalismo para nós, jornalistas. Não basta ser ético e garantir a qualidade técnica do que fazemos. É preciso chegar até a audiência, é preciso dialogar com ela, é preciso ser relevante para ela, é preciso ser compreensível e ter impacto real na vida dela. A informação que fazemos circular precisa ter sentido. E aí entra o jornalismo em qualquer área, seja em educação, cultura, política, entre outros.

É preciso buscar formas de que a educação midiática esteja presente na vida cotidiana e na formação cidadã dos indivíduos. Por meio de um jornalismo ético, confiável, diverso e representativo, conseguimos amplificar vozes, conectar territórios e assim democratizar a produção, a circulação e a distribuição de informação.

Cíntia Gomes é jornalista, cofundadora e diretora institucional da Agência Mural de Jornalismo das Periferias.
cintia@agenciamural.org.br 

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