Mural https://mural.blogfolha.uol.com.br Os bastidores do jornalismo nas periferias de SP Mon, 27 Dec 2021 13:12:41 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Caro leitor https://mural.blogfolha.uol.com.br/2021/12/27/caro-leitor/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2021/12/27/caro-leitor/#respond Mon, 27 Dec 2021 13:11:23 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=18081 Este blog continua na Folha, mas, agora, em um novo endereço. Acesse https://www1.folha.uol.com.br/blogs/mural/ para continuar lendo tudo que o blog Mural publica.

Os textos já publicados permanecerão neste espaço para serem lidos e relidos.

Clique a seguir para ler o novo texto o blog:

Nas periferias, 2021 termina com misto de esperança e incerteza

 

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Como aplicamos 8 indicadores de credibilidade em nosso jornalismo https://mural.blogfolha.uol.com.br/2021/12/01/como-aplicamos-8-indicadores-de-credibilidade-em-nosso-jornalismo/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2021/12/01/como-aplicamos-8-indicadores-de-credibilidade-em-nosso-jornalismo/#respond Wed, 01 Dec 2021 17:56:47 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2021/12/05-320x213.jpeg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=18063 Anderson Meneses

Foi em maio de 2018 que aceitamos o desafiador convite da Ângela Pimenta e do professor Francisco Belda para aplicar, no jornalismo da Agência Mural, os indicadores do Trust Project (Projeto Credibilidade).

Confesso que a gente não tinha entendido muito bem o que deveria acontecer na prática, mas aceitamos. A animação dos dois por trazer o projeto para o Brasil e a nossa vontade de discutir ética no jornalismo falaram mais alto.

De lá para cá foram diversas reuniões, encontros virtuais, debates, conversas, documentos do drive e muita conversa. Paulo Talarico (editor-chefe) e Amanda Gedra (desenvolvedora web) me acompanharam nessa jornada junto com os gestores.

Como contamos semana passada, no dia 24 de novembro, entregamos aos nossos leitores um novo site. Com ele, atendemos os requisitos de conformidade dos 8 indicadores de Credibilidade, ao lado de outras organizações jornalísticas como esta Folha, a Amazônia Real, Nexo Jornal, O Povo, Poder360, Gazeta do Espírito Santo, e os dois mais novos integrantes: a Ponte Jornalismo e a GauchaZH.

Mas o que significa estes indicadores na prática? E como isso aparece para o leitor? É isso que vou tentar responder nesta thread. Bora lá?

Disponibilizamos em nosso rodapé a Política de Ética que precisa ser seguida por toda rede de correspondente da Mural, além da nossa Política de Prática de Correções. E em nosso site institucional é possível saber todos os financiadores da nossa organização sem fins lucrativos.

No fim da reportagem, exibimos o nome, foto, biografia, bairro e o Linkedin da-o jornalista. Cada autor tem uma página que agrega todas as suas publicações. O leitor também terá acesso ao e-mail dos correspondentes. – correspondente local é o “cargo” dado a todo jornalista aqui na Mural e estão em nossa linda página de equipe.

Ressaltamos para o leitor se aquela história que ele está lendo é uma Opinião, Crônica ou Notícia. Para aqueles conteúdos apoiados, também exibimos uma mensagem e o logo do apoiador no início do texto.

Agora os jornalistas podem disponibilizar para os leitores o processo e os dados necessários para apurar uma reportagem. A ideia é contar como uma reportagem foi feita e apresentar os dados utilizados na apuração e os arquivos recebidos via Lei de Acesso à Informação no campo “Como fizemos?” no fim da página.

Além da nossa política editorial disseminada internamente, mantemos em destaque os 10 princípios para a cobertura jornalística das periferias. Mais dois documentos importantes que guiam o nosso jornalismo.

Agora, identificamos as pautas com uma tag do local, além de lançar a página “Sua Quebrada”, onde é possível navegar por todas as regiões da Grande São Paulo.

Criamos a “Declaração de Diversidade de Vozes” e disponibilizamos os dados de faixa etária e cor/raça de nossa rede de muralistas.

Em toda reportagem também aparece o botão “Reportar erro”. O formulário é enviado ao nosso editor-chefe, que analisa e responde todos os casos.

E por último, apresentamos o “Tijolilson”. Ele está presente em todo o site da Mural e sempre levará o leitor para conversar com a redação.

E seguimos um padrão para exibir tudo no código fonte. A ideia é fornecer aos buscadores e mídias sociais padrões técnicos consistentes de que precisam para apresentar notícias confiáveis, relevantes e honestas. Google, Facebook e Bing já usam na hora de exibir um resultado.

No fim, descobri que credibilidade se constrói com transparência e conversas. E é isso que os indicadores buscam. 

Anderson Meneses é codiretor e cofundador da Agência Mural de Jornalismo das Periferias
anderson@agenciamural.org.br

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Celebrando novos ciclos contrariando as estatísticas https://mural.blogfolha.uol.com.br/2021/11/26/celebrando-novos-ciclos-contrariando-as-estatisticas/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2021/11/26/celebrando-novos-ciclos-contrariando-as-estatisticas/#respond Fri, 26 Nov 2021 21:31:45 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2021/11/bolos-festas-anderson-meneses1-1-320x213.jpeg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=18052 Anderson Meneses

Eu tinha por volta de dez anos de idade quando minha mãe começou a preparar festas infantis para complementar a renda de casa. A cozinha, a sala e os quartos ficavam tomados de lembrancinhas, docinhos, salgadinhos e bolos dos mais variados temas.

Os meus irmãos e cunhadas se juntavam em casa para ajudar a montar e entregar nas festas. Virou uma fábrica. Havia dias que eram feitas até quatro festas diferentes. 

Como era muito pequeno, minha missão era abrir as forminhas de docinhos e ajudar no transporte e montagem da festa na casa das pessoas. Normalmente moradores da região, que ficavam encantados com a dedicação e o carinho, que minha mãe fazia a gente ter por cada uma das entregas.

Eu aprendi a celebrar nesse ambiente. Todo fim de semana ajudava a encher bexigas em uma salinha bem pequena, em salões de festa alugados ou até em vielas, onde corredores estreitos abriam espaços para celebrar mais um ano de vida de algum ou alguma moradora.

Na quarta-feira, dia 24 de novembro, mais uma festa aconteceu, mas dessa vez não apenas em Pirituba, mas sim em todas as 51 quebradas onde a Agência Mural de Jornalismo das Periferias está presente. Completamos 11 anos de existência (desde o primeiro post neste blog). E por aqui compartilhamos outras vez o porquê da importância de celebrar a vida, principalmente quando a gente está contrariando as estatísticas. 

E, neste aniversário, decidimos que o presente seria fortalecer ainda mais nossa missão, e com os nossos! Ou seja, fazer bom jornalismo sobre as bordas da Grande São Paulo, cobrir a falta de informações sobre essas regiões e quebrar os preconceitos que historicamente marcam as quebradas.

Ilustração que marca aniversário da Agência Mural (Magno Borges/Agência Mural)

A festa vai acontecer no nosso novo site, que ganha um desenho pensado cuidadosamente para o nosso público prioritário, os e as jovens das periferias.

Mas por que desenhar um novo site?

Em todos estes anos, a Mural construiu sua própria linguagem. As nossas reportagens em textos, podcasts, vídeos e ilustrações são vivas e com personalidade. Mas ainda faltava “atualizar” a “casa” onde reunimos diariamente toda a nossa produção.

Além disso, nossa cobertura cresceu nos últimos anos, e também precisávamos organizar e hierarquizar melhor nossas histórias, para nos conectarmos ainda mais facilmente com nossa audiência.

Esse novo site chega após um ano de muito trabalho, reuniões, conversas e desconstruções de como poderíamos reinventar o jornalismo nas quebradas. E tudo isso em meio à maior crise da nossa história em termos sanitários, políticos e econômicos.

Um projeto feito a várias mãos. Que não é apenas um novo desenho de tema ou uma reformulação para colocar mais banners na página. É sim uma nova proposta de olhar e apontar um dos possíveis caminhos para o futuro do jornalismo nas periferias.

Te convido a (re)conhecer a casa “nova”. Infelizmente hoje não podemos servir docinhos, salgadinhos e cortar o bolo, mas se pudesse fazer um pedido na hora de apagar a velinha seria para que mais pessoas pudessem estar com a gente nessa festinha. Bora?

Anderson Meneses é codiretor e cofundador da Agência Mural de Jornalismo das Periferias.
anderson@agenciamural.org.br

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A presença das mães das periferias no jornalismo https://mural.blogfolha.uol.com.br/2021/11/16/a-presenca-das-maes-das-periferias-no-jornalismo/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2021/11/16/a-presenca-das-maes-das-periferias-no-jornalismo/#respond Tue, 16 Nov 2021 22:13:24 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2021/11/gravidez-de-risco-320x213.jpg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=18041 Halitane Rocha

Quando descobri que estava grávida – e de gêmeas -, tive uma nova perspectiva de que tipo de jornalismo eu fazia e para quem fazia. 

Antes, pensava pouco nas referências da maternidade e no ponto de vista das crianças. Talvez porque achasse que já não dava conta dos estigmas de ser uma mulher, negra e periférica. Mas, agora, também sou mãe.

Ainda na gestação, após ter ficado desempregada e isso durante a pandemia da Covid-19, tentei fazer o meu planejamento familiar com garantia de laqueadura para evitar outra gravidez não planejada. Só consegui o DIU (ou dispositivo intrauterino) por ser uma gestante de risco.

Na época, meu marido também perdeu o emprego e recorremos ao auxílio emergencial. O dinheiro dava para pagar só o aluguel da casa onde vivo em Cotia, na Grande São Paulo. E naquele momento, familiares e amigos ajudaram a nos manter firmes até voltarmos aos trabalhos.

Na véspera do nascimento da Núbia e da Dandara, de um ano, conheci outras mulheres que eram gestantes de alto risco e também não conseguiram solicitar a laqueadura. Uma delas é obesa e com pressão alta. Ela estava grávida de trigêmeos, mas perdeu um bebê no começo da gestação, além de mais três filhos nascidos.

Como eu estava quase parindo também, não tive condições de tentar pedir o telefone dela para uma futura entrevista, mas a partir dessa experiência escrevi uma reportagem sobre as dificuldades vividas pelas mulheres que não conseguiram laqueadura nem o DIU para se prevenir.

Nesse mesmo dia, conheci outra gestante que precisava sair de Vargem Grande Paulista, cidade vizinha de Cotia, e dependia de carona para chegar ao hospital porque o município em que morava não tem maternidade.

E fiz uma reportagem na Folha falando dessa dificuldade de locomoção de gestantes que já resultou até em uma mulher parir assim que chegou no hospital, no meio do corredor, por causa da distância. 

Esse tipo de dificuldade não é incomum na região e um dos fatores é a ausência de mulheres atuando em políticas públicas da cidade.

Durante a eleição 2020 também foi publicada neste jornal uma reportagem sobre a cidade de Cotia não eleger uma vereadora há 32 anos.

Além disso, o texto da Agência Mural levantou a discussão da falta de diversidade de gênero nas Câmaras e os impactos disso na sociedade — conseguir uma vaga na creche é um exemplo.

Antes de ser mãe, dificilmente pensaria nessas abordagens para escrever um conteúdo. Isso porque eu também não convivia com mães e crianças. Hoje, começo a entender também como devo repensar minhas pautas com e para as crianças.

A jornalista Mayara Penina, 31, cofundadora do Nós, mulheres das periferias e mãe de Joaquim, 8, também destaca a importância de usarmos esse espaço no jornalismo.

“Ter um filho influenciou na minha cobertura sobre direitos das crianças e como ela está diretamente ligada aos direitos das mulheres mães”, diz.

Grávida durante o último ano da faculdade, o TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) de Mayara foi um  livro-reportagem chamado “Despertar para o parto – como nascem e como poderiam nascer as crianças brasileiras”.

“Fui pesquisar e estudar parto e gênero. Me dei conta que poucas mulheres me contavam boas experiências de parto, fiquei encafifada com isso”, relembra ela, sobre como foi a escolha do tema da pesquisa.

As experiências anteriores em editorias com foco nas vivências das crianças também levaram a jornalista a criar a newsletter Carambola, que traz conteúdo sobre a primeira infância. 

“A proposta é trazer conteúdos que interessem às famílias, educadores, profissionais que trabalham com crianças e também quem não tem filhos”, explica.

Mayara propõe abordar esses temas com uma perspectiva do desenvolvimento integral das crianças e pensando os direitos delas quanto à saúde, política e economia.

Publicações que valorizem as crianças são importantes para  garantias de direito e liberdade. Segundo Mayara, o tema não é tratado com prioridade, muitas vezes, porque os filhos costumam ser vistos “como responsabilidade exclusiva das mães”, o que precisa mudar.

“Criança só vai ser prioridade quando for assunto de todo mundo.”

Ela também cita o provérbio africano “é preciso uma aldeia para educar uma criança”, que aponta a responsabilidade coletiva. “A gente precisa que seja levado a sério com políticas públicas e com mudança de comportamento, aí acho que entra o papel do jornalismo, o meu papel”, ressalta. 

Papel esse que nós, mães que atuamos no jornalismo, tentamos desempenhar em nossas reportagens sobre maternidade e infância. E que haja maior presença de mães — tanto as mães jornalistas quanto as mães protagonistas de temas jornalísticos — dentro dos veículos de comunicação.

Halitane Rocha é repórter da Agência Mural e correspondente de Cotia

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Do ataque à meia-entrada às cotas nas universidades https://mural.blogfolha.uol.com.br/2021/11/08/do-ataque-a-meia-entrada-as-cotas-nas-universidades/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2021/11/08/do-ataque-a-meia-entrada-as-cotas-nas-universidades/#respond Tue, 09 Nov 2021 00:47:51 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2021/11/48013350847_1302a4715a_k-320x213.jpg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=18030 Paulo Talarico

Nos últimos dias, um projeto de lei estadual que determinava o fim da meia-entrada para atividades culturais foi vetado pelo governador em exercício Carlão Pignatari (PSDB). Mas a aprovação dele pelos deputados estaduais e o texto que justificava a proposta levanta uma reflexão importante sobre o que vem por aí na defesa de direitos nos próximos anos (ou meses). 

A proposta previa o fim desse benefício para estudantes, garantido atualmente pela lei federal 12.933/2013, o que levou ao veto. 

Na justificativa do projeto, o autor do texto afirma que na tentativa de garantir mais “direitos” para um determinado grupo (os estudantes), os proprietários de casas de show dobram o preço dos ingressos, entendendo que praticamente ‘todos’ conseguem a meia-entrada.  

Afirma que é injusto com trabalhadores e pessoas de baixa-renda que não têm esse desconto. Por isso, propõe que de 0 a 99 anos, todos receberiam a meia-entrada – todos teriam ‘direitos’ com ninguém recebendo nada. 

O deputado Artur do Val conclui assim que a lei resolveria “por uma artimanha retórica, um problema econômico”. 

Curioso que não há uma busca para pensar em como trabalhadores, moradores das periferias, possam ter mais acesso a cultura. Diz apenas que o ideal é que não tenha para ninguém. 

Também ignora que a lei atual determina que 40% dos ingressos sejam oferecidos com meia-entrada. Ou seja, 60% podem ser cobrados como entrada inteira, diferentemente do que aparece no texto. 

Mas, para além da discussão desse tema, um detalhe dessa justificativa demonstra um pouco do caminho que estamos tomando. Ao reclamar dos estudantes que ainda dispõem da meia-entrada, ele comparou com as cotas para as universidades “que colocam candidatos em universidades e concursos públicos à frente de outros por causa da cor da sua pele – critério absolutamente irrelevante para medir talento ou dedicação.” 

Nunca se tratou disso, é bom dizer. 

As cotas são uma pequena reparação. Reparação para descendentes de populações que foram escravizadas durante séculos e, por conta disso, começam a vida em situação marginalizada, sobrevivendo, se desdobrando para conseguir uma possibilidade melhor.

População que foi traficada mesmo quando a lei brasileira já não permitia. População que ao conquistar a abolição não teve nenhuma reparação. Faz parte da nossa história. 

Não à toa, demoraram tanto para aparecer com mais força em ambientes como universidades criadas para formar as elites em São Paulo. O que vem mudando.   

Aprovada em 2012, a Lei de Cotas ajudou no crescimento de pessoas negras nas universidades. Pela primeira vez, o número de mulheres pretas nas instituições públicas representa a maioria.

Essa legislação completa 10 anos em 2022. A proposta entrará em revisão ano que vem e os ataques a ela têm se repetido constantemente.

E não é dizer que uma pessoa que seja pobre não tem que ter acesso se não for negra. A própria Lei de Cotas determina a reserva de vagas a partir da renda e de quem estudou em escola pública inicialmente.

Na sequência utiliza os dados populacionais e a porcentagem de cada população para ajudar na definição das vagas.

São detalhes que muitas vezes não são informados por quem ataca os direitos. Por isso, explicar essas informações será cada vez mais fundamental, mesmo que seja repetitivo.

Em um país que muda nome de programas ou os exclui por questões partidárias e interesses eleitorais, é necessário enfatizar que não dá para retroceder nesses avanços que tem possibilitado um pouco mais de diversidade em espaços como as universidades ou, mesmo, nas salas de cinema.

Em tempo. Recebi dois comentários sobre este texto e gostaria de acrescentar, pois fazem muito sentido. 

a) Francisco Kenji me mandou um email em que comenta sobre o trecho em que disse ser uma reparação e concordo com a observação dele de que: “Dada a magnitude da violência histórica, nem se fala em reparação. As cotas são algo muito maior que reparação para os pretos. São a oportunidade que a sociedade tem para promover a discussão na academia de todos os assuntos nacionais, de forma irmanada.”

b) E uma correspondente da Agência Mural cita para mim que as cotas apenas nunca foram suficientes, dada a dificuldade de permanência dos estudantes depois de ingressarem. 

Paulo Talarico é editor-chefe da Agência Mural 

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O jornalismo das periferias ocupando a universidade https://mural.blogfolha.uol.com.br/2021/10/29/o-jornalismo-das-periferias-ocupando-a-universidade/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2021/10/29/o-jornalismo-das-periferias-ocupando-a-universidade/#respond Fri, 29 Oct 2021 22:15:12 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2021/06/Muranasuniversidades2-320x213.jpg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=18023 Tamiris Gomes

Quando me formei em jornalismo, no ano de 2014, sequer havia disciplinas no curso que conversassem sobre meios alternativos de comunicação, muito menos algo que contemplasse o tipo de notícia produzida sobre e nas bordas da cidade de São Paulo. 

Felizmente o cenário vem mudando. Maior presença de alunos pretos, periféricos e de escolas públicas, além de professores engajados dentro das universidades, têm criado espaços de discussão antes pouco prováveis. 

Um exemplo foi o bate-papo online que pude participar nesta sexta-feira (29) com alunos da disciplina chamada “políticas públicas e direitos humanos”, na Universidade Mackenzie. A intenção era discutir as práticas de cobertura nas periferias e estava ali representando o trabalho da Agência Mural. 

A conversa contou também com a presença de outro “muralista”, o Luiz Lucas, correspondente no Jardim Ângela, na zona sul, e jornalista do coletivo Desenrola e Não Me Enrola. O repórter do R7 Kaique Dalapola, cria do Grajaú, que atuou na Ponte Jornalismo e também contribuiu para a Mural, completou o time. 

Uma das perguntas que nos fizeram — e percebo ser uma inquietação constante dos alunos não moradores das periferias — trata-se do “que fazer para não errar na hora de escrever e entrevistar alguém da quebrada?”. 

Nesse momento, recorremos aos 10 Princípios da Cobertura Jornalística das Periferias, material desenvolvido em 2015 pela equipe da agência. Esse guia nasceu justamente depois de experiências com universitários que repetiam as mesmas dúvidas.

O material não tem a pretensão de apresentar fórmulas prontas, mas pode ser usado como ferramenta para auxiliar na desconstrução dos estereótipos e tornar a comunicação sobre essas áreas mais precisa e objetiva.

Aula ao ar livre sobre reportagem em universidade de São Paulo

Um dos pontos discutidos com os estudantes foi o de tentar não comprovar as próprias teses durante uma reportagem. As periferias têm sujeitos diversos, plurais, e é preciso estar pronto para ouvir de fato. 

No lugar de discursos engessados e carregados de preconceitos, o caminho é dialogar com os múltiplos sentidos das quebradas, trazendo para a cobertura vozes que são pouco ouvidas na imprensa, no debate de interesse público.

Também citamos nos princípios para lembrar que os moradores em geral, não são “coitados” nem “carentes”, não devem ter a capacidade política subestimada e que as periferias fazem parte da cidade e deveriam ter os mesmos direitos respeitados.

Kaique lembra que quando um repórter chega na periferia como “estrangeiro” precisa ter cautela e ouvir. Não há erro quando existe respeito pela fonte. “Respeita, meu bom, desconhecido pisa fofo, como diz aquele funk [‘Motoloka’] do MC Lipi”, comenta ele. 

O olhar menos enviesado sobre as periferias começa assim, pisando fofo, com formação e entendimento do que é a cidade e as desigualdades dos territórios — incluindo disciplinas que aprofundem as diferentes narrativas e abordagens jornalísticas. 

E a universidade, que lapida os comunicadores do futuro, é um lugar chave para que esse tipo de troca aconteça. 

Tamiris Gomes é editora-assistente da Agência Mural

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O lugar onde vivo esteve no pódio da Olimpíada de Língua Portuguesa https://mural.blogfolha.uol.com.br/2021/10/22/o-lugar-onde-vivo-esteve-no-podio-da-olimpiada-de-lingua-portuguesa/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2021/10/22/o-lugar-onde-vivo-esteve-no-podio-da-olimpiada-de-lingua-portuguesa/#respond Fri, 22 Oct 2021 21:56:02 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2021/10/51424221355_35d96cd320_c-320x213.jpg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=18012 Vagner de Alencar

Quarta-feira, dia 20 de outubro: eu chorei diante de centenas de  estudantes do 3º ano do ensino médio de escolas públicas de todo o Brasil. Convidado a falar na 7ª Olimpíada de Língua Portuguesa para semifinalistas do concurso, a emoção, literalmente, subiu ao pódio. Todos nós ganhamos. 

As lágrimas foram inevitáveis quando a imagem de Deusane e Luzimar, professoras de uma das escolas por onde passei, em Barra do Choça (BA), surgiu logo no começo de minha apresentação.

Na imagem de sete anos atrás, elas mostravam em um painel fotos e crônicas usadas para estimular seus alunos na categoria “crônica” da Olimpíada de Língua Portuguesa daquele ano. No painel estava eu. 

Os textos retratavam o cotidiano do povoado que havia ficado para trás assim que me mudei para Paraisópolis, segunda maior favela de São Paulo.

Palestra para estudantes semifinalistas da categoria “Artigo de Opinião”, na 7ª edição da Olimpíada de Língua Portuguesa (Reprodução)

Nesta semana, falar com estudantes na Olimpíada foi resgatar essa lembrança. Foi poder ler de Lucicarla, moradora do povoado onde cresci na Bahia, a seguinte mensagem. “Eu era dessa época. Você me inspirou a gostar de escrever”. 

Entre inspirações, tive o prazer de estar acompanhado, nesta Olímpiada, por Cintia Gomes, diretora institucional da Agência Mural.

Ela mostrou para os estudantes como um jornal escolar, criado durante o ensino médio, foi a fagulha para, anos mais tarde, acender a chama pela profissão de jornalista e, assim, poder escrever as histórias não contadas sobre seu bairro. 

O bairro do Jardim Ângela que, em 1996, foi considerado o mais violento do mundo pela ONU (Organização das Nações Unidas). 

Cintia sabia que havia mais (e outras) narrativas a serem contadas. O que vem fazendo nos últimos dez anos.

“Nascer e estar na periferia é algo que a gente carrega conosco. Nas reportagens da faculdade, eu sempre queria escrever sobre o meu bairro, contar o que via e não encontrava nos grandes veículos”, contou aos alunos. 

Na apresentação, Cintia apresentou imagens do Regaço, o jornal escolar produzido por ela junto com outros colegas, de palestras com jovens e até da participação na bancada do programa Roda Viva, da TV Cultura, quando foi convidada a entrevistar o secretário de educação do estado de São Paulo. 

Enquanto há dez meses, ainda no pico da pandemia, Cintia entrevistava, ao vivo e em rede nacional, o secretário, nesta semana, com o avanço da vacinação, acompanhamos a obrigatoriedade da “volta à escola” em São Paulo e em alguns estados do país. 

Diante desse momento, que ainda exige cautela e cuidados, continuo a defender a necessidade de ouvir os jovens da escola pública. Dos semifinalistas da Olimpíada, buscamos escutar o que tinham a dizer — ou melhor, pudemos ler o que puderam nos escrever. 

E foram várias perguntas. Giovana, por exemplo, pediu dicas e quis saber como identificar se uma fonte é realmente confiável, Lorrana perguntou como nos sentimos representados ampliando a voz dos moradores das periferias, já Adriel questionou como será a Mural daqui a dez anos.

O papo rendeu. Cintia e eu os aconselhamos a sempre questionar de sites e links duvidosos, ler mais, visitar diferentes portais de notícias para realmente tirar à prova uma determinada informação, e se pautar sempre na ciência. 

Dissemos que nosso futuro será continuar a contar ainda mais histórias. Quem sabe em outros e mais lugares.

As lágrimas emocionadas do começo da conversa virtual se converteram em sorrisos largos ao longo de mais 60 minutos. Embora não tenhamos podido ver minúsculos ícones com os rostos dos estudantes, ler a mensagem de um deles, o José Daniel (“Incrível, uma das melhores palestras que já participei”), simbolizou perfeitamente o que escrevi no começo deste texto. 

Nesta Olimpíada cujo mote foi “O lugar onde vivo”, todos nós ganhamos.

Vagner de Alencar é cofundador e diretor de jornalismo da Agência Mural de Jornalismo das Periferias

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O trabalho infantil e a voz das crianças no contexto periférico https://mural.blogfolha.uol.com.br/2021/10/15/o-trabalho-infantil-e-a-voz-das-criancas-no-contexto-periferico/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2021/10/15/o-trabalho-infantil-e-a-voz-das-criancas-no-contexto-periferico/#respond Fri, 15 Oct 2021 19:45:44 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2021/10/voz-das-crianças-320x213.jpg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=18005 Aline Kátia Melo 

A maioria de nós, moradores das periferias, tivemos no contexto familiar ou presenciamos alguma situação na qual crianças, especialmente meninas, precisaram cuidar dos irmãos mais novos ou ajudar no trabalho doméstico. 

Esse assunto fez parte de um bate-papo direcionado à rede de correspondentes locais da Agência Mural na semana passada, sobre infância e trabalho infantil.

Participaram da conversa a jornalista e pesquisadora Juliana Doretto e as procuradoras do trabalho Ana Maria Villa Real e Luciana Marques Coutinho, respectivamente coordenadora e vice-coordenadora nacionais da Coordinfância/MPT (Coordenaria Nacional de Combate à Exploração do Trabalho da Criança e do Adolescente do Ministério Público do Trabalho). 

“Toda forma de atividade econômica e/ou de sobrevivência, com ou sem finalidade de lucro, remunerada ou não, exercida por criança e adolescentes que estão abaixo da idade mínima para entrada no mercado de trabalho.”

Logo no início da apresentação, elas nos trouxeram esta definição do conceito de trabalho infantil, o que me fez lembrar de situações de trabalho infantil vistas até hoje. E também lembranças do passado, como no caso da minha família. 

Meus pais nasceram e cresceram no interior do estado de Alagoas. Meu pai relatava ter trabalhado na roça desde criança, enquanto minha mãe, por ser a segunda filha, mas primeira nascida mulher, ajudou a cuidar dos irmãos mais novos. 

Influenciada um pouco por essa cultura, por vontade própria, decidi  emitir minha carteira de trabalho aos 14 anos, em 1997. Tive o meu primeiro emprego aos 17, conciliando o trabalho no período da tarde com o terceiro ano do ensino médio, de manhã.

Ao contrário da trajetória dos meus pais e de muitas outras famílias ao meu redor, minha mãe nunca exigiu que eu e minha irmã fizéssemos atividades domésticas. Ela preferia que gastássemos nosso tempo livre em casa brincando, estudando, fazendo lição. 

Prova disso é que chegou a nos matricular em academias de dança e cursos de música. Mas também ouviu das pessoas ao seu redor que precisávamos “trabalhar”.

Infelizmente costumava-se ter um olhar romantizado para o trabalho infantil, principalmente porque na época em que foram crianças, não existiam instrumentos formais de proteção como o Estatuto da Criança e do Adolescente.

O ECA surgiu em 1990, há 31 anos, no mesmo ano em que foi criado o Conselho Tutelar, órgão responsável por assegurar o cumprimento dos direitos do estatuto de forma “desjudicializada”, ou seja, que as situações de violações possam ser solucionadas sem depender da intervenção da autoridade judiciária.

Apesar de políticas como o ECA, a expectativa dos adultos para as crianças ainda é muito dedicado ao seu futuro adulto, com a pergunta sobre  “o que elas querem ser no futuro” sendo recorrente desde cedo, como se o único objetivo da vida delas fosse ser  constantemente preparadas para um dia entrar no mercado de trabalho. 

“E tudo que a gente faz é pensar que quando ela crescer, vai usar ‘isso’ quando ela for trabalhar”, afirmou a pesquisadora e professora da PUCCampinas Juliana Doretto. 

Percebo esta preocupação com o futuro profissional das crianças vindo de pais e mães de origem mais pobre. Não é incomum escutar de amigas o desejo de pagar, o quanto antes, curso de inglês para os filhos, assim que o orçamento permitir. 

E o papel do jornalismo neste tipo de cobertura? Para Doretto, as notícias sobre infância e trabalho infantil parecem ajudar a reforçar este olhar que pensa no mercado profissional.

“E isso vai dizendo que a criança não precisa brincar, a criança não precisa ser feliz hoje. O importante é ela se preparar para o futuro”, lamenta.

Ainda sem previsão de lançamento, a procuradora do trabalho Ana Maria Villa Real afirma estar finalizando um guia para orientar a cobertura jornalística sobre o trabalho infantil, com o apoio da Coordinfância, da ANDI (Agência de Notícias dos Dieitos da Infância) e da OIT (Organização Internacional do Trabalho).

Enquanto o material não é divulgado, Doretto, que pesquisa a relação entre infância, adolescência e mídia, com foco no jornalismo, indica algumas orientações básicas como garantir a voz da infância nos meios de comunicação, evitar identificá-las apenas pelo primeiro nome ou apelido ou usar imagens das crianças sem a voz delas, e também que os pais falem em nome das crianças. 

Na semana que se comemora esse mundo infantil, menos trabalho e mais brincadeira e educação para sonharem. E por um jornalismo que conte essas histórias a partir de seus pontos de vistas.

Aline Kátia Melo é correspondente da Agência Mural

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O primeiro evento com mais de mil pessoas após 18 meses de quarentena https://mural.blogfolha.uol.com.br/2021/10/07/o-primeiro-evento-com-mais-de-mil-pessoas-apos-18-meses-de-quarentena/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2021/10/07/o-primeiro-evento-com-mais-de-mil-pessoas-apos-18-meses-de-quarentena/#respond Thu, 07 Oct 2021 15:52:06 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2021/10/osasco-vitoria-320x213.jpg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=17995 Caê Vasconcelos 

Nesta última terça-feira (05), deixei o medo de lado e fui ver o Osasco Voleibol Clube, meu time de vôlei do coração, jogar no Ginásio Esportivo José Liberatti, em Osasco, na região metropolitana de São Paulo. E valeu a pena ter enfrentado minha insegurança inicial.

Foi bonito ver a juventude, com cautela, tentando recuperar espaços públicos. Como jornalista, deu vontade de fazer algumas entrevistas, mas desisti. Decidi tornar aquela experiência neste texto em primeira pessoa. 

A gente sabe que a pandemia do coronavírus não acabou, muita gente ainda não se vacinou, mas, de fato, a vacinação avançou. Por isso alguns lugares e eventos estão sendo reabertos. Como os jogos de vôlei nos ginásios. 

Eu sempre fui fã de esportes, principalmente vôlei e futebol feminino, mas as Olimpíadas de Tóquio, e o agravante de estar trancado em casa há tanto tempo, despertaram em mim uma vontade enorme de assistir mais jogos presencialmente. Prometi para mim mesmo que, assim que pudesse, iria a todas as partidas que eu pudesse. 

A pandemia pra mim foi uma espécie de renascimento (principalmente por conta da minha transição social de gênero), e tendo refletido sobre aproveitar os momentos únicos como uma obrigação. Mas eu não imaginava que fosse viver isso ainda em 2021.

Quando o Osasco anunciou nas redes que o primeiro jogo da semifinal do Campeonato Paulista, contra o Pinheiros, seria no Liberatti, e que teria torcida, minha primeira reação foi de crítica. “Será que é hora pra isso? A pandemia ainda não acabou, nem todo mundo se vacinou.” 

Aí veio o anúncio das regras para que a torcida pudesse comparecer ao jogo e fiquei mais tranquilo: só entraria no ginásio quem tomou pelo menos uma dose da vacina, com apresentação de um teste negativo da Covid-19, máscaras obrigatórias durante toda a partida e limite de 30% do público. Deu um alívio. Decidi que iria. 

Domingo os ingressos foram liberados para venda, e em duas horas esgotaram-se. Para quem não sabe, os jogos de vôlei são gratuitos até as partidas finais. Aliás, está aí um lazer bem massa pra você fazer e ainda ajuda a fortalecer o esporte feminino.

Bateu uma ansiedade do momento que garanti meu ingresso até quando saí de casa na terça à noite. Quando chegou o momento de ir para o ginásio, meus sentimentos eram contraditórios: euforia e medo. Sabia que os protocolos sanitários seriam respeitados no jogo, mas os ginásios são locais fechados. Fui.

Além de ser o primeiro jogo pós-quarentena, era o meu primeiro jogo pós-transição social de gênero, com uma coincidência: nesta temporada, a única jogadora trans de vôlei no Brasil entrou para o meu time. Imagina a ansiedade deste torcedor trans? Ver Tifanny Abreu pela primeira vez usando a camiseta do meu time (e marcando muitos pontos) foi uma emoção a mais. 

Quando entrei no ginásio o jogo já estava para começar. Encontrei uma cadeira em uma fileira mais vazia: o distanciamento estava sendo seguido “como dava”, pulando umas cadeiras dos lados, e nem sempre dava pra pular na frente ou atrás, por conta da geografia do espaço. Até onde meus olhos conseguiam olhar, as 1.200 pessoas ali usaram máscara do começo ao fim do jogo.

Nem lembrava mais como era ouvir música tão alto, deu uma leve atordoada no começo, mas depois (re)acostumei. E ouvir os gritos da torcida? Nem sei explicar a sensação que foi! Mil pessoas gritando “vamos, Osasco!” e “oh oh oh oh, nós somos Osasco, campeão mundial”. 

Como disse no começo deste texto, eu até cogitei conversar com algumas pessoas na torcida, mas a emoção do momento foi tão grande que parecia muito errado atrapalhar aquele momento único na vida de cada uma daquelas pessoas que, finalmente, saíram de casa pra ver o Osasco fora das telas.

Deu tudo muito certo: o Osasco ganhou por 3 sets a 0 do Pinheiros em um jogo lindo de se ver (e de torcer). Com prudência e cautela, por enquanto, esperando que toda a população receba a sua segunda dose e que, em breve, possamos falar de um período “pós-pandemia”.

Caê Vasconcelos é correspondente da Agência Mural

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Pós-pandemia nas periferias? https://mural.blogfolha.uol.com.br/2021/09/24/pos-pandemia-nas-periferias/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2021/09/24/pos-pandemia-nas-periferias/#respond Fri, 24 Sep 2021 19:04:28 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2021/09/51426913521_6540a8f3ef_k-320x213.jpg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=17990 Paulo Talarico

Apesar das falhas e dos escândalos sobre compra de vacinas, a vacinação tem avançado e tivemos nos últimos meses uma queda considerável no número de casos e mortes por Covid-19, o que tem trazido esperanças. 

Temos noticiado cada vez mais o quanto as medidas de quarentena foram sendo deixadas de lado – seja pela necessidade de trabalhar, pelo cansaço de um ano de pandemia ou só pelo descaso. 

Esse momento de retomada tem levantado uma questão importante para os próximos meses. Ano passado, nosso diretor de jornalismo Vagner de Alencar escreveu aqui como ler notícias sobre o pós-pandemia se um preto morre todo dia? Com quase um ano depois daquele momento, como estamos nas periferias?

No Google, o pós-pandemia teve alta nas buscas em janeiro, época em que começava a se desenhar a segunda onda e o pior momento da crise sanitária no Brasil. Novamente agora há uma alta na procura por essa informação. 

Em setembro, tivemos pouco mais de mil mortes por Covid-19 na Grande São Paulo. Houve meses em que registramos quase 4 mil em apenas uma semana. Ainda assim, há muito cuidado a tomar. 

Em uma reunião de pauta com a rede de correspondentes da Agência Mural, discutimos se já chegamos ao momento de falar sobre essa perspectiva e o que nos espera nos próximos meses. 

A ideia era justamente refletir sobre o atual momento da Covid-19, nas regiões que sofreram mais com a mortalidade dessa doença e com o impacto da perda de renda por conta da falta de apoio (com um auxílio emergencial que hoje mal paga o gás de cozinha). 

Na conversa, em resumo, dois pontos foram os mais tocados: há uma outra realidade no momento e as medidas de proteção estão cada vez mais perdendo força, mas o alerta de viver com a doença não pode ser menosprezado. 

Mais do que um pós-pandemia, o momento é de saber como conviver com a doença, apontou Gabriel Lopes, correspondente da zona leste. E faz sentido. 

O receio de quanto a Covid-19 ainda pode matar não pode sair do norte da nossa missão de informar. O uso de máscaras ainda precisa ser relembrado, enquanto não tivermos todos imunizados e, ao mesmo tempo, com a certeza de que outras variantes não serão ainda mais nocivas.

Essa emergência se mostra ainda mais importante quando a circulação em comércios volta cada vez mais ao normal, assim como o mercado de rua, que já voltou há bastante tempo. Vale lembrar que, por conta da necessidade, para muitos, os planos de contenção sempre foram uma grande ficção. 

Mas se vamos ter de conviver com a Covid-19, como isso se dará? Essa foi outra parte importante da conversa. 

A falta que a escola faz na vida dos estudantes é um dos nossos maiores problemas. Para que escola estamos voltando? Quais as condições de professores e alunos para esse retorno em um país que muda a forma de vacinar ao vento do humor presidencial?

E como as famílias afetadas pela falta de renda estarão até ano que vem, dado o agravamento das desigualdades e o aumento dos preços? 

Como fica a questão da alimentação e os direitos trabalhistas neste momento? Com as mudanças que vêm ocorrendo, como os moradores estão se virando? E quais foram os aprendizados que tivemos e que vamos ter de colher para o futuro? 

Ainda existem muito mais questões que respostas. E são todas indagações que podem nortear um pouco o que precisaremos nos debruçar, provavelmente nos próximos anos.

Paulo Talarico é cofundador e editor-chefe de jornalismo da Agência Mural de Jornalismo das Periferias
paulo@agenciamural.org.br

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