Um relato sobre a falha nos trens da linha 7

Agência Mural

Por Jéssica Moreira

Pensei que este seria mais um dia de trabalho, mas logo cedo percebi que a semana foi interrompida por mais uma daquelas paralisações dos trens da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). Cheguei à estação Perus, na zona norte de São Paulo, e me deparei com diversos rostos cansados por esperar um trem que já estava parado há duas horas.

Subi as escadas e vi outros tantos sentados ou tomando seus celulares nas mãos para avisar ao patrão que, mais uma vez, não iriam conseguir chegar ao trabalho.

Desde as 7h, a linha 7- Rubi, que liga a Luz a Jundiaí, ficou parada por falta de energia, conforme informava um funcionário da CPTM. Diversas pessoas ficaram dentro da estação esperando pela normalização ou procuraram novas alternativas em ônibus ou vans.

Passageiros aguardam normalização dos trens


Sentada na escada da estação com as duas filhas e o marido, Joyce Aparecida, 20, desempregada, estava indo fazer uma entrevista em Francisco Morato, para concorrer a uma vaga de atendente em supermercado, mas, por conta do atraso, perdeu a oportunidade. “Cheguei às 7h50 aqui, se eu pegar o ônibus não dá tempo de chegar e nem tenho como telefonar para avisar, porque não tenho crédito no celular”, comentou a moça.

Vi pessoas em fila perto da catraca. Eram funcionários da CPTM distribuindo bilhetes de trem para os passageiros que optavam por sair da estação. “Deveriam ter disponibilizado ônibus para o pessoal ir até a Barra Funda [estação de metrô mais próxima], pois só um bilhete de trem não adianta muito”, sugeriu Danilo James, 27, que trabalha na avenida Faria Lima e já estava na estação havia duas horas.

Enquanto isso, diversas vans com destino ao bairro da Lapa (zona oeste de SP) começavam a estacionar na Praça Inácio Dias. “Olha Lapa saindo”, gritava o cobrador para os que procuravam uma alternativa em meio ao caos.

Usuários aguardam o retornor dos trens

Alguns aceitavam e subiam na van, enquanto o ponto ia ficando cada vez mais lotado pelos que aguardavam um ônibus, já que a prefeitura e o Estado não realizaram uma ação de emergência, mandando mais ônibus para o bairro.

Para a estudante de publicidade e propaganda do Mackenzie, Thais Costa, 21, a solução é “procurar o motivo dessas falhas em dias menos movimentados para evitar todo esse transtorno”.

A estudante diz que sempre chega atrasada na faculdade, que fica no bairro da Santa Cecília (centro de SP) por motivo de falhas nos trens. “Só estou indo porque tenho que entregar um trabalho. Chegando lá ainda tenho que pedir um requerimento na secretaria, senão o professor não vai aceitar meu trabalho”, disse.

A diarista Raimunda Santos do Carmo, 33, perdeu o dia. “Não vou hoje e não vou receber”, disse.

 

Jéssica Moreira, 20, é correspondente de Perus.
@gegis00
jessicamoreira.mural@gmail.com

Comentários

  1. Parabéns pela reportagem. Esta na hora de alguma autoridade olhar com mais carinho pelos trabalhadores da periferia.
    É uma pena a CPTM tratar seus usuários desta maneira.

    1. Por sua visão, passageiros da CPTM têm sofrido com sabotagens todos os dias na lotação. Afinal todos os serviços são bons, não é AZ?

  2. Só quem nunca andou de trem na vida, portanto, não tem contato com o Sistema fora da propaganda oficial, é que consegue levantar a tese de sabotagem. Quem anda, sabe muito bem como é, em especial as linhas “menos nobres”, como é o caso dessa.

  3. Dá-lhe Jéssica!
    Só temos que retirar ainda algumas mascaras da questão. Não podemos mais ser “coitados das periferias” Temos que olhar por outros angulos e estimular outras ações. Esta empresa nitidamente pratica discriminação e preconceito generalizado; Comete um crime constitucional, pois transporte é um direito do cidadão e, não é só ter os meios, mas funcionar com qualidade; comete crimes contra a economia popular e crime contra o consumidor. Temos que extrapolar a face “social” e discutir esta empresa e seu concedente o governo do Estado, no campo criminal. Advogados, frequentadores de trens ou não? Quem topa? Não sou advogado, mas chegamos com movimento social pra reforçar. Chega!

    1. José Soró Vc. acertou em cheio! Este é o caminho. Temos de pintar os dedos deles!
      Fiquei muito perplexo com a sintese da Jéssica. Sem floreios, explicou a situação como um filme. E a imagem sem moldura da situação do transporte. Para o governo esta tudo bem, e se alguem reclamar, manda a policia. Bala de borracha não conserta trem.

  4. Foi um transtorno sim, voce sai de casa e depara com uma situação dessa, mas o mais chato e encontrar pessoas sem um pingo de consciencia e sair quebrando tudo, como se fosse resolver, no caso piora, sabendo que é o nosso dinheiro mesmo que está ali e sai os trouxas quebrando…já pensou se tudo fosse resolvido na base da pancadaria? esses que fizeram esse ato de vandalismo…quando eles não são produtivos ou não fazem algo correto e deixam a desejar referente ao seu desempenho no seu trabalho o dono deve agir assim com ele, quebrar ele todo…então pensem um pouco antes de sairem quebrando tudo…o mundo foi feito em 7 dias ….

  5. Isso mesmo, continuem votando na corja do PSDB… Vai continuar sempre a mesma coisa… FORA PSDB..
    Ah e tbm FORA KASSAB.. Babakassab…
    ANO DE ELEIÇÕES Aprendam a votar!!!!

    Parabéns Jéssica pelo seu relato!

  6. “A diarista Raimunda Santos do Carmo, 33, perdeu o dia. “Não vou hoje e não vou receber…” Não vai receber, logo não vai consumir, a industria vai produzir menos, menos empregos serão gerados… O Brasil crescendo e os gargalos aparecendo nas áreas que não receberam o devido investimento ao longo das últimas décadas.

  7. Nós população somos os maiores culpado, pois elegemos estes governantes medíocres que só sabem defender o deles e na hora de reivindicarmos não o fazemos correto como ocorreu na estação Franco da Rocha quebrar o patrimônio publico só vai dar mais margem para desvio de verba publica. Sou usuário desta linha todos os dias e sei como sofremos com ela é na super -lotação trens em péssimas condições ou a circulação de trens cargueiros que atrasa o percurso e põem em risco a vida dos passageiros fora a transferência nas estações Luz e Barra Funda para o metrô todos os dias que é uma penitencia. Esta linha como outras existentes poderia com muito menos investimento ficar próximo de uma linha de metrô onde se gasta verdadeiras fortunas não que a expansão não seja nesse cario, mas poderia se evoluir muito se existissem governantes com vontade de trabalhar neste país.

  8. Essas falhas acontecem com frequência demais, não sei de onde tiram que esse tipo de funcionamento é aceitável. Se no metrô causa caos, imaginem nos trens, onde a população normalmente não tem muitas opções.
    Obs: O bairro onde fica a faculdade Mackenzie se chama Vila Buarque.

  9. Sugiro, Jéssica, que você diga para o editor pautar uma entrevista com o presidente da CPTM, com o secretário de Transportes Metropolitanos e com a Casa Civil, pois não é possível tantos atrasos contidianamente. Lembra-se quando havia atrasos nos aeroportos? A imprensa bateu tanto que melhorou… será que existe imparcialidade quanto à classe social?

  10. Mandou bem, Jéssica…
    E você, de quebra, mostra ao leitor que
    não vive nas periferias que ali tem
    verdadeiros talentos, como Jéssica.
    Talentos que são atrapalhados em seu desenvolvimento, em suas oportunidades
    por homens públicos comprometidos
    com suas carreiras pessoais e
    não com as demandas reais da cidade.

  11. Parabéns Jéssica, sempre de olho nos trens de SP. Estas paralizações vai ser escrita em seu livro, não é? Deveriam indenizar as pessoas que tiveram prejuízo, por conta da incompetência da CPTM em não melhorar o sistema. Falar menos e agir mais….

  12. Ainda hoje, colunista da página 2 comentava a lotação das prisões, sem solução à vista. Isto, para condenados pela justiça. O paulistano está condenado sem crime julgado, a viver numa cidade infernal. O transporte é fundamental para a vida, permitindo sua manutenção. No entanto, os relatos falam de prejuízos financeiros irrecuperáveis. Sem espaço, proponho estudar-se a descentralização do trabalho, acabar com esta cidade megatudo, em busca de uma vida humana.

  13. Isto já estava sendo anuncia. Eu mesmo já encaminhei inúmeras reclamações a alertas para a CPTM, e os robozinhos sempre dão as mesmas chatas e repetitivas respostas, não sabem nem argumentar, pegam o texto pronto, colam nas respostas e pronto.

  14. Jéssica meus sinceros Parabéns.
    Um pais que irá sediar uma copa em 2014, estas paralisações de trem já demonstra que pais é este.

  15. Muito bom! Cansada de só ouvir falar de rico fazendo manifestação contra transporte público. “Taí” quem precisa dele de verdade. Isso aí GÊ!!!

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