Literatura periférica é discutida em seminário na zona norte
No último fim de semana, entre 15 e 17 de março, aconteceu o 1º Seminário de Literatura da Periferia no Centro Cultural da Juventude Ruth Cardoso (CCJ), localizado na Vila Nova Cachoeirinha, zona norte de São Paulo.
Com o objetivo de discutir e analisar a produção literária das periferias de São Paulo e de outras cidades do país, o evento foi organizado pelo Coletivo Cultural Poesia na Brasa, pelo Sarau Elo da Corrente e pelo Projeto Espremedor, com projeto contemplado pelo edital de ocupação do CCJ.
“Há outros encontros acontecendo, mas nenhum que contemplasse só a literatura, normalmente é uma discussão que abrange todas as artes, então a gente viu a necessidade de fazer um específico”, explica Michel Yakini, do Sarau Elo da Corrente.
Durante os três dias, aconteceram debates com base em três eixos: política, educação e estética. Participaram das mesas escritores, integrantes de coletivos culturais e também pesquisadores. Paralela às discussões, uma feira de livros permitiu a divulgação do trabalho de autores e grupos literários.
“É importante porque é um evento de discussão profunda, mas não é acadêmico, os próprios protagonistas têm discutido. É uma troca de experiências, a gente vê que o que a gente faz não é só uma festa, mas tem importância para a educação, para a cultura”, afirma Nelson Maca, poeta e idealizador do Sarau Blackitude, de Salvador, na Bahia.
De acordo com a antropóloga Érica Peçanha, pesquisadora que compôs a mesa de debate sobre a estética da literatura na periferia, o marco de início do movimento definido como “literatura marginal” aconteceu por volta de 2001, e foi reconhecido a partir da publicação de textos dos escritores Ferréz, Sacolinha e Sérgio Vaz na revista Caros Amigos.
“Como poetas, os moradores da periferia se colocam em outro lugar além do de trabalhador, de marginalizado. O título de poeta é um reconhecimento comunitário”, analisa a pesquisadora, que acredita que os saraus têm contribuído para a formação de novos escritores, mas também promove o engajamento com a comunidade. “A literatura não se esgota em livros nem nos textos, ela cria um espaço de socialização”.
“Vieram pessoas que não frequentam os saraus, mas que estão interessadas no tema. Foram apontadas questões que não estavam no seminário, mas que se tornam referências do que pode vir a ser uma nova discussão”, considera Michell da Silva, do Sarau da Brasa.
Lívia Lima, 26, é correspondente de Artur Alvim
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