Livro “Cidade do Paraíso” mostra que a favela não é impenetrável

Agência Mural

“Eu estava lá, vivendo tudo, e sabia que não era aquilo que estava sendo mostrado na televisão. Foi nessa época que decidi que mostraria o outro lado”, revela o jornalista Vagner de Alencar, 26, sobre a invasão da polícia em Paraisópolis, maior favela de São Paulo, em 2009.

Vagner ainda cursava jornalismo quando a Polícia Militar fez várias invasões ao bairro em busca de traficantes de drogas. Ele não se conformou com a cobertura feita pela imprensa e decidiu contar a história daquele bairro, a vida daquelas pessoas que ninguém via ou era mal retratada.

Desta vontade nasceu o livro-reportagem a “Cidade do Paraíso – Há vida na maior favela de São Paulo” feito em parceria com a jornalista Bruna Belazi, 23. Ele será lançado pela Primavera Editorial neste sábado (14), no CEU Paraisópolis, na zona sul de São Paulo.

Enquanto Vagner, que morou em Paraisópolis por mais de 10 anos conhecia cada beco e viela daquele bairro, Bruna o conhecia apenas pela TV e pelas notícias sobre tráfico e violência estampadas nos jornais.

Livro usa como fio condutor os becos e as vielas de Paraisópolis para falar das histórias dos personagens

Bruna aceitou o desafio de se aventurar numa realidade até então desconhecida. “Quando cheguei à Avenida Giovanni Gronchi, comecei a olhar para os lados, esperando para ver um pouco de Paraisópolis. E aí, minha surpresa! Em meio aos prédios luxuosos do Morumbi, não dava para ver um pouco de Paraisópolis, e sim, quase a favela inteira”, conta.

“À primeira vista, foi de impressionar. Era possível ver os barracos justapostos um ao lado do outro, encarando o bairro nobre da cidade de São Paulo”, lembra.

Para contar as histórias dos personagens, o livro usa como fio condutor os becos e as vielas do bairro – algumas delas já haviam sido contadas no Mural, confira algumas delas aqui e aqui.

“È como se eu contasse a minha história, falasse sobre mim a partir da história dessas pessoas. Eu vi Paraisópolis crescer, vi suas ruas ganharem asfalto, vivi o cotidiano desses becos”.

A relação do jornalista com Paraisópolis começou em 1995, quando ele e sua família deixaram a cidade natal, Barra do Choça (BA), para se mudar para São Paulo.

Em 2001, ele foi um dos vencedores do 3º Prêmio Jovem Jornalista, do Instituto Vladimir Herzog, ao escrever um projeto de reportagem sobre o cenário da educação no bairro. Hoje, Vagner é mestrando pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) em Educação: História, Política, Sociedade.

“O livro é, sobretudo, uma contribuição que eu dou para a favela, para que as pessoas que vivem lá sejam olhadas de uma forma mais humana, para quebrar os estereótipos. È o que a grande mídia não vê, porque a favela é impenetrável”.

Mostra Cultural de Paraisópolis

O pré-lançamento não podia ser em outro lugar. È parte da programação da VII Mostra Cultural de Paraisópolis, que ocorre neste sábado (14), das 14h às 17h, e dia 21, na Biblioteca Comunitária de Paraisópolis Becei.

Já o lançamento oficial ocorre no dia 24 de outubro, quinta-feira, no Espaço Revista Cult (r. Inácio Pereira da Rocha, 400 – Pinheiros)
Mayara Penina, 23, é correspondente  de Paraisópolis
@emayara
mayarapenina.mural@gmail.com

Comentários

  1. Primeiramente quero parabenizar os autores pelo trabalho. Ainda falta muito para que o Brasil se torne menos hipócrita e mais igual, mas certamente estas iniciativas contribuirão para educar a nova geração e alertá-la para o cotidiano de indiferença e injustiças do país. Gostaria de saber se consigo comprar o livro antes de 24 de Outubro, porque procurei em livrarias virtuais e não encontrei.

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