Mural completa quatro anos e discute periferia em debate

Agência Mural

Além das mazelas e da precariedade, um lugar de pertencimento, da realização de sonhos e com diversas realidades. Essas foram algumas das definições faladas sobre o que é periferia, em debate realizado nesta semana no jornal Folha de S. Paulo, em comemoração aos quatro anos do Blog Mural.

“O mundo se baseia no que é a avenida Paulista, o Jardins, no que Brasília é. E a periferia fica sempre com as migalhas”, afirmou Leonardo Brito, da Agência Solano Trindade. “Mídias como o Mural, Observatório, Central Única de Favelas, essa galera conseguiu dar outro olhar, mais aprofundado”, reforçou.

Jaqueline comenta sobre a noção de identidade que existe na periferia (Foto: Jéssica Costa/Blog Mural)
Jaqueline comenta sobre a noção de identidade que existe na periferia (Foto: Jéssica Costa/Blog Mural)

O Mural atua com cerca de 50 correspondentes comunitários que mostram as histórias dos bairros e cidades por onde moram na Grande São Paulo. A comemoração também contou com um minidoc sobre o tema. [Veja abaixo]

“Vejo a periferia como lugar da realização de sonhos”, destacou Aline Kátia Melo, do coletivo Nós, Mulheres da Periferia e correspondente do blog. “É onde você constrói a casa própria, mas o ônibus vai demorar mais, é mais longe e vai levar um tempo maior para ter um desenvolvimento social a altura”.

Contudo, ela acrescentou que tem notado mudanças como a chegada de equipamentos públicos e na ação dos próprios moradores. “A periferia deixou de ser receptora, a gente produz cultura”, diz.

Para Antonio Eleilson Leite, da Ação Educativa, ainda persiste a distância dos serviços – há 60 distritos sem equipamento cultural na capital, mas todos tem uma delegacia. “Por outro lado,  a periferia mudou muito dos anos 90 para cá”.

“É um traço de pertencimento. Para além das mazelas, há uma vida que é dela”, frisa. Ele atribuiu ao hip-hop  e ao rap essa característica de mostrar as partes boas no meio das complicações do dia a dia. “Até hoje a esquerda não consegue ver as belezas que a periferia tem, só o lado precário. Até para se defender dessa situação, o rap foi muito feliz nisso”.

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Poeta Tula Pilar Ferreira se apresenta após o debate (Foto: Jéssica Costa/Blog Mural)

Autora do artigo Artigo “Só Mina Cruel – Algumas Reflexões Sobre o Gênero e Cultura Afirmativa do Universo Juvenil do Funk”, Jaqueline Conceição ressaltou as diferenças entre os bairros e, principalmente, a identificação. “É a noção de identidade de tempo e espaço que a gente só tem na nossa quebrada. Você pode ir para Nova York, o que você busca de referência é a sua quebrada”, afirmou.

“[A periferia] é mais subjetivo do que objetivo, cristalizado e determinado. Tem a ver com a relação das pessoas com esses espaços”, contou.

No encerramento artistas realizaram um sarau com a participação do poeta, ator e dramaturgo Emerson Alcalde, da poeta Tula Pilar Ferreira, do rapper Carlão Guerreiro da Leste, e de Semayat Oliveira que leu o manifesto do coletivo Nós, Mulheres da Periferia.

 

Paulo Talarico, 24, é correspondente de Osasco
@PauloTalarico
paulotalarico.mural@gmail.com