Após enchente, bloco de carnaval protesta em Guaianases

Agência Mural

“Matou o rio / transformando em esgoto / botando o pobre pra beber volume morto / agora vem aí uma baita taxa / se eu protesto me esculacha / e bota choque no meu couro.” Foi ao som deste samba-enredo que o bloco Boca de Serebesqué saiu às ruas no domingo (15), em Guaianases, zona leste de São Paulo.

Com a concentração feita a partir das 14h, o bloco teve como tema a crise da água que afeta São Paulo nos últimos meses. De acordo com o professor de história e puxador dos Serebesqué, Ireldo Alves, 33, o objetivo do samba é “levar alguma mensagem de cunho social para que as pessoas possam refletir.”

O Boca de Serebesqué existe desde 2008. Neste ano, os ensaios do grupo aconteceram semanalmente, às quartas e domingos. Além de usar os instrumentos próprios, o grupo também contou com a ajuda de outros blocos da periferia, como batucada Popular Carlos Marighela.

Componentes da bateria durante a saída do bloco em frente à casa do norte
Componentes da bateria durante a saída do bloco em frente à casa do norte

O bloco se reuniu na frente da casa do norte “Três Irmãos”, localizada na rua Cosme Deodato Tadeu. Aos poucos, os membros começaram a chegar e, por volta das 15h, os primeiros sons começaram a ecoar pelo local.

O trajeto inicial previa a ida até o mercado municipal do bairro. No entanto, ele teve que ser alterado por conta da chuva que atingiu a região. Mesmo assim, houve uma parada em frente à Casa de Cultura de Guaianases.

A euforia e a alegria dos presentes não foram afetadas, sobretudo a das crianças, que apareceram em peso. Brincando no bloco, o garoto João, 6, afirmou: “Aqui tá legal demais… Tem comida, espuma e meus amiguinhos.”

Nem mesmo a chuva atrapalhou  a empolgação dos membros do bloco
Nem mesmo a chuva atrapalhou a empolgação dos membros do bloco

Naquele dia, Guaianases estava em estado de caos. No dia anterior, o bairro foi atingido por uma chuva forte que invadiu casas e trouxe prejuízos aos moradores. Neste clima, enquanto o bloco puxava o samba, como forma de protesto algumas pessoas atearam fogo em móveis e em outros pertences que foram destruídos pela enchente.

Durante sua fala no bloco, o mestre de bateria Tita Reis citou o clima de tensão em que o bairro se encontrava e propôs apoio aos moradores por meio da mensagem que o bloco trazia. “Estamos aqui para manifestar nossa indignação”, ressaltou.

O bloco também teve espaço para homenagear um dos membros do grupo, chamado Richard, que morreu há duas semanas por consequência de uma doença. Além do estandarte oficial, houve também um com a imagem do ex-integrante em forma de estêncil.

 

Lucas Veloso, 20, é correspondente de Guaianases
lucasveloso.mural@gmail.com