Piscinões vão de abandono a solução na capital e Grande SP
Enquanto reservatórios trazem esperança de melhoria em bairros na zona sul da capital, nos municípios da região metropolitana de São Paulo, quem mora perto dos reservatórios convive com o abandono. Um deles em Osasco, inclusive, deve ser desativado.
Há quatro meses da temporada de chuvas, o Mural visitou seis piscinões para verificar se a manutenção tem ocorrido com antecedência para evitar as enchentes.
Os bairros Jabaquara e Cidade Ademar, na zona sul da capital, já não sofrem com os constantes alagamentos que assolavam a região. Duas das três unidades de piscinões prometidas para a região estão em funcionamento hidráulico.
As unidades 2 e 3 da região Feira Livre e nas proximidades do Parque Nabuco, junto à Avenida Cupecê, estão em processo de conclusão, mas já foram utilizados parcialmente no último verão.
O empresário Manoel Silva dos Santos, 42, dono de um bar em frente à unidade 2, avalia que a implantação afastou o medo. “Muita gente tinha receio de sair de casa em dias de chuva porque não sabiam como seria a volta pra casa. Melhorou bastante”.
A unidade 1 começou a ser construída no início deste ano na rua Álvares Fagundes para atender a demanda dos moradores das ruas Rolando Curti e Pranto do Mar, que sofriam com enchentes há mais de 30 anos. Devido uma mudança no cronograma do projeto, houve diminuição no ritmo de trabalho.
De acordo com a secretaria de Infraestrutura Urbana e Obras, 70% da parede interna do reservatório 1 está construída. No local, o Mural identificou apenas um funcionário mexendo nas armações de ferro da construção. Segundo a Siurb, as obras serão executadas após a conclusão dos piscinões 2 e 3.
Morador da Feira Livre há 45 anos, Luís Felix dos Santos, 69, diz que já viu muitas casas serem invadidas pelas águas e agora se sente mais seguro. “Espero que o problema não volte mesmo com chuvas mais fortes”.
PISCINÃO SERÁ DESATIVADO EM OSASCO
Quem vive ao lado dos dois piscinões de Osasco, na zona norte da cidade, vê com decepção a situação dos reservatórios vendidos como soluções ao preço de R$ 21 milhões em 2007, com recursos dos governos estadual e federal.
“Achei que iria ficar igual aos de São Paulo, que seria limpo”, lamenta o ajudante geral Luiz Gonzaga, 58, que mora em frente ao espaço onde um dia foi o piscinão do Rochdale, que deverá ser desativado, segundo a prefeitura.
A prefeitura anunciou nova promessa de solução para alagamentos, com projeto do Governo Federal de canalização do Braço Morto do Tietê, no entanto a situação do reservatório exemplifica como o Rochdale é conhecido. “Já transbordou a água três vezes no último verão. Hoje traz dengue e mau cheiro. Só ajudou no começo, quando esteve limpo”, reforça Gonzaga.
Sem nenhum cercamento e aparentando ser um grande esgoto a céu aberto, só se sabe que ali foi um piscinão quem mora nas imediações ou viu a inauguração há oito anos, quando o governo do estado e a prefeitura celebraram o feito.
Em 2011, as prefeituras da Grande SP alegaram falta de recursos para limpar os locais e o Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) assumiu a limpeza de 25 reservatórios dos municípios. Em 2014, estão previstos R$ 45 milhões em manutenção.
Contudo, sobre o Rochdale, o órgão do governo estadual apontou que havia moradias dentro do espaço e havia alertado isso em 2012. “Os serviços só poderão ser realizados de maneira plena quando a área for regularizada pela prefeitura”, alegou em nota. “Entendemos que não há impedimento da limpeza. Por diversas vezes, tanto prefeitura como o próprio DAEE [realizaram] os serviços dentro da normalidade”, rebate a prefeitura.
Perto dali, o reservatório do jardim Bonança tem situação melhor, mas com problemas semelhantes. O cheiro de esgoto e insetos dominam a avenida Juscelino Kubtischeck de Oliveira e, apesar de ainda haver grades, os portões ficam abertos durante o dia, sem nenhum funcionário.
“É muito perigoso, mas não tem a quem reclamar. Já vi criança entrar na água atrás de pipa”, conta a dona de casa Anelita Sena, 45. O DAEE diz ter limpo o piscinão do Bonança e retirado 6.116,00 m³ de material e este mês iniciará a segunda limpeza e capinagem.
FALTA DE LIMPEZA NO ABC
No Jardim Silvina, em São Bernardo do Campo, o piscinão do córrego Chrysler é marcado pelo acúmulo de sujeira e mato alto, levando à insegurança dos moradores.
O motorista Paulo Sérgio Mota, 56, ressalta que o reservatório não resolveu o problema. “Fica tudo alagado e a água chega bater no joelho. A última vez que encheu, demorei mais de duas horas para chegar em casa, tive que esperar abaixar”.
São Bernardo é a cidade que possui maior número de piscinões – 10 entre os 25 da Grande São Paulo. Para o comerciante Moises Bispo, 49, é necessário fazer revisão das galerias. “Cheguei a perder todos os móveis de casa em um alagamento’’.
A empreendedora Vanessa Isabella Faria, 26, que mora no centro da cidade, diz acreditar que a obra do projeto Drenar, na região do Paço Municipal, pode contribuir. “Eles precisam terminar o mais breve possível para desafogar o trânsito e conter o caos das enchentes de todos os anos”.
Contudo, a obra tem previsão para o segundo semestre de 2016 e ficou parada por três meses. A prefeitura não respondeu até a publicação. O DAEE, que construiu o piscinão Chrysler, afirmou que foram removidos 12.860,00 m³ de material até fevereiro deste ano, capinagem e a instalação de quatro bombas novas. Antes da próxima estação chuvosa será efetuada nova limpeza.
Paulo Talarico, 25, é correspondente de Osasco
@PauloTalarico
paulotalarico.mural@gmail.com
Diogo Marcondes, 27, é correspondente de Cidade Ademar
@Diogomarcondes
diogo.mural@gmail.com
Kátia Flora, 34, é correspondente de São Bernardo do Campo
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katiaflora.mural@gmail.com
Vagner Vital, 25, é correspondente do Jabaquara
@vagnervital
vagnervital.mural@gmail.com
A cidade de Osasco está um caos em todos os sentidos.