Moradores criam projeto de futebol e usam notas da escola para definir times no Grajaú

Agência Mural

Em um campo de terra à beira do córrego que atravessa o jardim Itajaí, no Grajaú, na zona sul de São Paulo, cerca de 80 meninos de 6 a 15 anos usam os fins de semana para participar de treinamentos e partidas de futebol.

Eles atuam no projeto “Meninos do Brejo”, idealizado por moradores do bairro e com aulas todos os sábados e domingos. “O intuito não é formar jogadores de futebol, mas cidadãos”, afirma o treinador Ademilton Alves, 49.

A ação surgiu após o fim de outro projeto social de moradores do Grajaú, a União Popular Alternativa (U.P.A), que realizava peças teatrais, oficinas e rodas de conversas entre 1987 e meados dos anos 1990.

“Quando a gente se depara com as dificuldades sociais, vai tentando achar alguma saída. Então, decidimos trazer o esporte para as crianças daqui do Jardim Itajaí”, recorda Ribamar Correia da Silva, 45, um dos fundadores. A ação começou em 1998.

Para fortalecer a questão da educação, só participa de partidas contra projetos sociais e escolinhas de futebol de outras regiões, quem tiver com boas notas na escola. “Tudo que a gente faz, agradece a Deus. Ele [o treinador] fala pra gente ajudar nossos pais, e só vai jogar fora quem tem nota boa na escola”, diz Lucas Gabriel da Silva, 9, que afirma sonhar em “ser jogador de futebol para passar na televisão e fazer o que gosta”.

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Partida de futebol do projeto Meninos do Brejo, mesmo com chuva no Grajaú (Foto: Kaique Dalapola/Blog Mural)

“Contribui para que sejam disciplinadas em casa e na escola”, afirma a estudante de Recursos Humanos, Leide Holanda Novais, 31, mãe e tia de crianças que participam do projeto. Ela afirma que seu filho, de 10 anos, deixou as tecnologias de lado para praticar o esporte.

A princípio, os moradores organizavam crianças e adolescentes para partidas de vôlei, futebol e taco na rua das Linfas (uma das vias do bairro que na época não era pavimentada).

Com o passar dos anos e o aumento de crianças no projeto, eles buscaram um espaço apropriado para a prática esportiva. Foi adotado e improvisado um campo em terreno público abandonado da região, que é usado até hoje.

O treinador explica que, desde o início, o projeto é mantido com doações e apoio da população local, além de parcerias com outros projetos sociais. Para ele, a procura é grande por causa da falta de espaços de lazer da região. “Aqui no bairro não tem opção, só tem o futebol. Mesmo em dia de chuva, vem uns 60 moleques”, disse.

Kaique Dalapola, 21, é correspondente do Grajaú
@KaiqueDalapola
kaique.mural@gmail.com

Comentários

  1. A ousadia desse grupo é de se admirar. Em meio a toda adversidade: violência, pobreza, ausência do Estado, inexistência de políticas públicas percebe-se a crença em um futuro melhor para essas crianças cujo futuro passa pela educação. Parabéns a seus precursores: Admilton, Ribamar e outros..

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