Periferia tem tanta cultura e violência quanto áreas centrais, dizem moradores
No último sábado (18), a Folha publicou no especial Cidades e Territórios uma pesquisa Datafolha sobre a opinião dos moradores de São Paulo em relação aos bairros da cidade. Os resultados apontam que 46% dos entrevistados associam pobreza e violência aos bairros periféricos do município e 70% consideram que essas regiões deveriam receber mais investimentos em infraestrutura que as demais.
E, apesar de 56% classificarem as pessoas que habitam nessas áreas como violentas e perigosas, e 33% alegarem que elas possuem comportamento mal educado e grosseiro, 79% acreditam que os moradores das periferias são mais solidários. A pesquisa foi realizada entre 26 e 29 de abril com 2.017 pessoas, homens e mulheres, com mais de 18 anos, de diferentes classes econômicas e regiões da cidade.
A Agência Mural conversou com moradores de alguns bairros da cidade sobre os dados apresentados. Para Tiaraju D’Andrea Pablo, morador de Itaquera, doutor em Sociologia pela USP e autor da tese “A Formação dos Sujeitos Periféricos: Cultura e Política na Periferia de São Paulo”, os resultados da pesquisa “refletem um misto de desconhecimento com preconceito”. Confira entrevista completa.
A analista de RH Nilza Aparecida dos Santos, 41, mora no Itaim Paulista e discorda que violência seja um fenômeno só dos bairros periféricos. “Caminho muito mais tranquila à noite pelas ruas do bairro onde moro do que pela alameda Santos ou mesmo na avenida Paulista, onde trabalho. Falando de criminalidade, que é ao que as pessoas relacionam quando falam de violência, as histórias que, infelizmente, ouço na periferia, são as mesmas que ouço de bairros mais centrais ou nobres, com praticamente a mesma frequência.”
Itaquera, Guaianases e Capão Redondo foram os bairros mais associados ao termo periferia na pesquisa. Renata Euletério, 31, moradora de Guaianases, cientista social e integrante do Coletivo Cpdoc Guaianás, que resgata a história e memória do bairro, considerou que os resultados são subjetivos.
“A pesquisa já é mediada por conceitos a priori do que é a periferia. Cada pessoa ao interagir com a pesquisa apresenta o pensamento de sua posição social, o que pode acarretar mais ou menos preconceitos”, avalia Renata.
O morador de Guaianases, João Paulo Alencar, 32, artista plástico e grafiteiro conhecido como Todyone [Na foto acima], discorda que em bairros como o dele existam menos atividades de lazer e cultura. “Guaianases hoje é um dos bairros com concentração artística como a Vila Madalena, são diversas vertentes e manifestações artísticas, inúmeros artistas nas quatro pontas. Temos saraus, jongo, carnaval de rua, arte na estação. E o melhor, com artistas locais, temos voz e representatividade.”
A gerente comercial Roseli de Jesus Santos, 42, moradora do Capão Redondo, diz acreditar que os casos de violência na periferia são mais divulgados. “Olhando a violência de uma forma exposta, sim, ela se concentra mais na periferia do que em bairros de classe média e alta, onde a violência está presente, mas oculta.”
Ela relata, ainda, que os moradores são discriminados. “A visão é preconceituosa em relação aos moradores de favelas. Seja pela cor, por informar seu endereço ao participar de uma entrevista de emprego, por conseguir uma bolsa em escola particular, entre outras situações. Somos jogadores e começamos desfalcados, mas, se persistimos, conseguimos ganhar esse jogo.”
Cíntia Gomes, 31, é correspondente do Jardim Ângela
cintiagomes.mural@gmail.com
Lívia Lima, 29, correspondente de Artur Alvim
livia.mural@gmail.com
Rubens Santos, afirmando que a leitora Roseli de Jesus Santos citou, a discriminação social vem ampliar as dificuldades encontradas pelos morador das periferias principalmente quando falamos que moramos em determinada localidade. Devemos valorizar o potencial de trabalho de todos não importa a classe social e sua cor. As notícias devem ser divulgada com mesmo teor, não importa o bairro.