Em Perus, grupo de teatro discute história política do Brasil

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Por Jéssica Moreira

O clássico de futebol paulista do último domingo, 4, entre Santos e Corinthians,  não impediu que diversas pessoas do bairro de Perus, na zona norte, trocassem a TV pelo teatro, para assistir ao espetáculo “Era uma vez um rei”, montada pelo Grupo Pombas Urbanas, que há oito anos desenvolve projetos artístico-culturais na Cidade Tiradentes, extremo leste de São Paulo. A peça contou com a direção do teatrólogo cubano, Rolando Hernandez, que veio especialmente para acompanhar o trabalho do grupo.

A apresentação foi realizada na Comunidade Cultural Quilombaque e serviu como troca de experiências entre os dois coletivos, que têm como objetivo fortalecer a cultura dos bairros onde atuam.

Papelão e Sucata: Adriano Mauriz, 36, ator e arte-educador, e Paulo carvalho Jr, 41, ator e arte-educador

“O que mantém os coletivos vivos é essa rede que se forma entre eles. Nós nos espelhamos muito no trabalho que eles [Pombas urbanas] fazem”, afirmou Clébio Ferreira, da Quilombaque. “Para nós, vir aqui dá um pique para voltar para Tiradentes. Essas redes vão se cruzando e tornando possíveis intercâmbios como o que fazemos hoje”, afirmou o ator e arte-educador do Pombas Urbanas, Adriano Mauriz.

Com muito humor  nas críticas ao processo político do Brasil, a peça conta a história de dois mendigos, Papelão e Sucata, que, certo dia, resolvem brincar de ser rei. Papelão acaba trapaceando o colega e faz de seu reinado que se transforma em ditadura.

Com um cenário improvisado por caixas de papelão e trilha sonora marcada pelo som de instrumentos como cavaquinho e gaita, os atores conseguiram contagiar crianças e adultos, tirando gargalhadas que logo se transformaram em reflexões sobre as relações de poder dentro da sociedade.

O personagem Barulheira, interpretado por Marcelo Palmares, 41, ator e arte-educador

“Deu para entender a história da nossa constituição, sobre o acesso aos nossos direitos, que não existem na prática”, comentou a assistente social, Anita Matos, 28, moradora de Perus.

O Pombas Urbanas já tem 22 anos de história, marcada por uma trajetória que foge do convencional. Começaram na zona leste, em São Miguel Paulista, circularam pelo centro de São Paulo, mas voltaram para a origem geográfica em 2004, fincando sua marca com os moradores.  “

Quando chegamos na Cidade Tiradentes, batíamos de porta em porta, trazendo a comunidade e conhecendo as lideranças do bairro”, conta a atriz e arte-educadora Natali Santos, 25, uma das integrantes do grupo desde o início.

A peça faz parte do Projeto Revoada – Em direção a uma poética coletiva de teatro em comunidade, que tem por objetivo fortalecer a formação de público no bairro Cidade Tiradentes e repassar os aprendizados em oficinas teatrais para a comunidade.

Para maiores informações e programação visite o blog do Pombas Urbanas.


Jéssica Moreira, 20, é correspondente comunitária de Perus.
@gegis00
jessicamoreira.mural@gmail.com

Comentários

  1. Assiti a peça e gostei muito do trabalho da cia e de todo o contexto que envolve essa união de coletivos na periferia.
    Muito Bacana tomara que perdure !

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