Festival de cinema tenta formar público na zona leste de São Paulo
Por Francine Mantovani e Lívia Lima
“O que o cinema enxerga quando mostra a zona leste? Qual a imagem que ela tem para mostrar às pessoas?”.
Foram estas perguntas que mobilizaram o cineasta Pedro Dantas a criar o 1° Festival de Cinema da Zona Leste – SP Leste em Movimento, que ocorreu entre os dias 3 e 18 de março nas Fábricas de Cultura de Sapopemba, Vila Curuçá e Itaim Paulista, bairros da região.
Contemplado pela Secretaria Estadual de Cultura para fazer um filme sobre a história do bairro Ermelino Matarazzo (também na zona leste), Dantas expandiu o projeto e, em parceria com a Associação Cultural Poder Negro, organizou o evento, que pela primeira vez teve caráter itinerante.
“Não é um festival tradicional, ele tem um objetivo diferente porque visa a formação de público”, explica. “A proposta é aliar cultura e entretenimento a educação e cidadania”, afirma Sidnei Candido, o Khondi, presidente da ONG Poder Negro.
As exibições aconteceram dentro da programação para crianças e adolescentes das Fábricas de Cultura. A seleção de filmes incluía produções sobre a zona leste, mas também sobre samba, hip-hop, América Latina e temas infantis.
Durante a semana, diretores e produtores também participaram de oficinas com alunos dos cursos de artes. Nos fins de semana, porém, o público era menor, pois competia com as atividades musicais, que dispersavam os jovens.
“Os moradores não estão acostumados a esse tipo de cinema criativo, documentário e animação, mas isso não é só aqui. É o Brasil que está inserido em uma cultura de massa e de entretenimento televisivo. A falta de espectadores também acontece no centro, até na Cinemateca”, relata Dantas.
“Hoje tem mais gente porque tem funk”, conta Jorge Natan, 17, dançarino de break. “Gostei do filme que falava contra o sistema governamental, mas não me lembro o nome”, ressalta.
“Pode ser que essas pessoas não saibam a importância de ser criado em um ambiente cultural, mas amanhã eles vão crescer, se tornar adultos e ter uma consciência”, afirma Khondi.
Os organizadores pretendem continuar com o projeto e prevêem uma nova edição ainda neste ano.
Sobre a imagem da zona leste no cinema, Dantas diz: “São os movimentos de cultura, de moradia, do futebol e do samba. É a capacidade de auto-organização e autoconstrução”.
Francine Mantovani, 28, é correspondente da Pedra Branca.
@franmantovani
francine.mural@gmail.com
Lívia Lima, 25, correspondente de Artur Alvim.
@livialimasilva
livia.mural@gmail.com