Peça debate violência nas periferias

Agência Mural

Por Tatiane Ribeiro

Apesar de trágicos, alguns episódios da história recente do Brasil, como a ditadura, não são temas comuns em rodas de conversas de jovens. No entanto, seus resquícios são encontrados em diversas situações rotineiras da sociedade.

Quem propõe essa reflexão são os criadores da peça “Torquemada – 17 Balas”, que parte da reeleitura de um texto do teatrólogo Augusto Boal, produzido em 1971, para mostrar como a lógica da opressão ainda exerce poder sobre as comunidades, em especial as das periferias dos grandes centros urbanos.

Para fazer esse paralelo, a ONG Mudança de Cena se juntou com o grupo GTO da Garoa, formado por artistas de diversos bairros periféricos de São Paulo, para pesquisar e montar a peça com histórias reais de violência física e psicológicas vividas pelos próprios atores e outras pessoas das comunidades.

Na peça, Bruno – nome do personagem principal –, é um jovem da periferia que gosta de andar de skate e precisa procurar emprego para ajudar no orçamento da família. “Nessa jornada ele se depara com a violência policial, com a imposição de grupos de poder dentro da sua própria comunidade que não gostam de skate e ainda outros acontecimentos difíceis”, conta o ator que o interpreta, André Carreiro Perussi, 21, morador do jardim Dracena, bairro do extremo oeste da cidade de São Paulo.

Em contato com o teatro desde 2010, André não teve dificuldade para montar o personagem. “Algumas histórias do enredo eu mesmo vivi e outras fazem parte da realidade do dia a dia dos bairros”.

Além dos depoimentos de cada um, a peça é composta por uma trilha sonora exclusiva criada pelos próprios atores. “São raps escritos de forma coletiva”, explica.

Yara Toscano, coordenadora do projeto, trabalha com o tema desde 1996, quando deu aulas de dramaturgia dentro das penitenciárias por meio do projeto Teatro do Oprimido, método criado por Boal para democratizar a produção teatral e ao mesmo tempo estimular o diálogo social. “Presenciei vários depoimentos de abuso de poder. É gritante o número de pessoas da periferia que são presas. São os clientes preferenciais da justiça”, diz Yara.

Para André, essa peça também cumpre o papel de denúncia. “É uma forma das pessoas refletirem sobre o poder que o Estado tem. Muitas vezes a polícia constrange as pessoas e todos acham normal. Porque não sabem como lutar contra isso. Mas não é assim que deve ser”.

Fiel aos ideias de Boal, a peça utiliza a técnica do Teatro Fórum, onde o público é convidado a discutir a temática no final do espetáculo. Também faz parte do projeto “Torquemada: Resgatando Memórias da Opressão do Passado ao Presente” que dá continuidade a reflexão por meio de oficinas com jogos teatrais que debatem a violência e possíveis atitudes para gerar a transformação. A próxima será no dia 2 de abril, no TUSP.

Torquemada – 17 Balas

Quando: 31/03 e 1,2,3,7,8,9 e 10/04, às 17h. Grátis.

Onde: Teatro Coletivo – Rua Consolação, 162 – Telefone: (11) 3255-5922

 

Tatiane Ribeiro, 26, é correspondente da Bela Vista.
@TaTyaa
tatiribeiro.mural@gmail.com

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