Duelo de palavras tem data marcada na zona sul
Por Karol Coelho
Religiosamente, todos os sábados à noite, a estação de metrô Santa Cruz, na zona sul de São Paulo, vira palco para o rap. Desde 2006, mais precisamente em 18 de fevereiro, a Batalha de MC é um espaço para jovens, meninos ou meninas, mostrarem suas habilidades de improvisação, além de revelar novos talentos.
O cenário do rap brasileiro tem se renovado com nomes que começaram a improvisar neste palco, como Projota, Rashid e Emicida _, este último, aliás, foi quem ganhou o primeiro duelo.
Marcello Gugu, 26, é integrante do grupo que mantém a organização da Batalha, o Afrika Kidz, e explica que não havia nada parecido em São Paulo antes deles. “Quando eu comecei, não tinha onde me apresentar.” Quando se envolveu com o rap, ainda adolescente, morava no bairro do Ipiranga, zona sul, e a informação não era tão acessível como hoje.
Seu primeiro contato arrebatador com o ritmo e a poesia aconteceu, um dia, a caminho de casa, ao escutar na rádio a música “Homem na Estrada”, do grupo Racionais: “Nada tinha batido igual”, diz.
Para se aprofundar no estilo, ele pesquisava na internet e anotava nomes de músicas em um caderno. “A gente não sabia se eram legais ou não”, conta. “Mas até hoje eu procuro músicas daquela lista.”
Para quem se inicia no rap, hoje há mais facilidade, não só no quesito informação, como também em relação ao preconceito, explica Gugu. “Eu era um dos poucos brancos, então eu chegava pisando fofo. Mas hoje em dia qualquer pessoa pode fazer rap, basta ter consciência de que está entrando numa cultura que já foi muito descriminada e que já deu voz a uma minoria.”
Humildade e respeito são importantes para participar da Batalha e para ingressar no movimento rap, por isso criaram-se regras: 30 segundos para cada MC e sem ofensas à mãe ou qualquer familiar. “Se vier com o rei na barriga, você vai cair”, afirma Gugu.
Karol Coelho, 20, é correspondente do Campo Limpo.
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