Relato de uma greve estudantil

Agência Mural

Por Gilberto Damasceno

Neste ano, entrei na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), mas só tive uma semana de aulas: logo uma greve de alunos estourou, a minha primeira greve estudantil.

Então comecei a descobrir os problemas que havia na instituição: há uma imensa área, onde deveria existir o prédio principal da unidade, mas ele não sai do papel desde 2007.

Descobri que a ausência desse prédio provoca falta de salas de aulas e que cerca de 10 mil livros da biblioteca estão em caixas, fora do meu alcance e de meus colegas. A biblioteca é improvisada.

Espaço onde deveria existir o prédio principal da Unifesp
Espaço onde deveria existir o prédio principal da Unifesp

Localizado ao fundo do campus, está o “bandejão”, o nosso restaurante universitário. O espaço é pequeno para o número de alunos. A fila é demorada e os lugares para se sentar são disputados.

Moro em Carapicuíba, na Grande São Paulo, e gasto em média de duas a três horas para chegar à Unifesp, que fica no bairro dos Pimentas, na periferia de Guarulhos, também na Grande São Paulo.

A instituição disponibiliza ônibus fretados que partem de Itaquera (zona leste). Mas, com os atrasos constantes, veículos que quebram e ingresso de novos alunos todos os anos, os ônibus se tornaram insuficientes à demanda.

Conversei com alguns moradores da região. Todos conhecem a Unifesp, mas poucos já foram até o campus. Késia Maria, 36, reclama do “acesso” à faculdade. “Falta informação, vocês deviam divulgar mais a faculdade para o bairro”.

Rodrigo de Barros, 20, reclama da quantidade de carros nas ruas adjacentes e diz: “A Unifesp merece um estacionamento, o local não é bom, ficam muitos carros nas ruas”.

Piquetes na frente das salas de aulas (Foto: Tamires Chorban)

Pedi a opinião de alguns colegas e muitos são a favor da greve. “A greve é um meio de expandir e protestar sobre os problemas que enfrentamos no campus, e torna-se necessária a partir do momento em que o governo abre vagas para novos estudantes, mas esquece que é necessário que haja estrutura para acolhê-los”, diz Lucas Araújo, 18.

Ava Andrade, 22, reclama da falta de estrutura para alunos veteranos e calouros. “Eu acho que a greve, neste momento, se fez necessária, pois o campus está completamente sem infraestrutura para atender a demanda de alunos que chegou em 2012”.

Já Thiago Roberto, 17, questiona o modo como a greve se deu: “A greve se desenrolou de uma maneira ocultista, segregacionista e imatura. Não pararam pra pensar em movimentos realistas, há coisas ocultas lá no meio, como infiltração de partidos políticos de esquerda. Houve também piquetes, pichações, enfim, as coisas poderiam e deveriam ser debatidas com mais seriedade e compromisso”, diz.

Mayra Guanaes, 21, não concorda com a greve. Ela e o namorado sofreram agressão ao tentarem assistir a uma aula. “Não concordo como a greve foi deliberada, tendo em vista que as reuniões em assembleia não conseguem garantir a participação de todos os estudantes e deixando ainda margem para quem não é estudante participar, decidir e defender seus próprios interesses por trás do que deveria ser um movimento estudantil que defenda os direitos dos estudantes”, diz.

No campus da Unifesp Guarulhos são ministrados os cursos de letras, história, filosofia, história da arte, pedagogia e ciências sociais.

 

Gilberto Damasceno, 22, é correspondente de Carapicuíba.
@damascenogi
gidamasceno.mural@gmail.com

Comentários

  1. Aqui em meu estado (RN), a UERN mais uma vez entra de greve, por descumprimentos em acordo salarial da última greve. O mais triste, é que depois do fim da greve nossos professores descem o pau sem dó nem piedade no alunado. Querem a todo custo cumprir as metas de cada disciplina, indiferentes a sobrecarga que o aluno acaba sofrendo. Como vovó já dizia: “A corda só quebra do lado mais fraco.” Esta é a realidade das faculdades públicas Brasileiras: Professores semideuses, alunos egotistas de classe emergente, que se acham com quatro vereadores na barriga, e alunos como eu que saem lá da periferia e se deparam com tamanha decepção. cada nova greve cai como mais um fardo, mais um desafio à ser enfrentado. Srs. Professores universitários, façam o seguinte: após o fim da greve, dispensem aquela disciplina que todos nós sabemos que logo será descartada e avancemos tal qual vocês fazem nas greves.

  2. Todas as pessoas têm direito a uma educação de qualidade e isso significa ter uma infraestrutura adequada. Mas se a greve estudantil proibiu acadêmicos de assistirem as aulas, isso também está errado. O erro de um lado deve ser consertado com o acerto de outro. Se a Unifesp está abandonada, não é deixando de estudar que os estudantes terão força. É preciso achar uma forma diferente de protestar e de mostrar os problemas que afligem a universidade.

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