Conheça o pintor Waldomiro de Deus (e de Osasco)

izabela moi

Por Paulo Talarico

 

“A arte pode até agredir, mas a função dela é levar um recado.” É o que acredita Waldomiro de Deus, 68, ao olhar para a parede de sua casa repleta de suas pinturas.

 

Em uma delas, há políticos engravatados, com dinheiro escapando pelos bolsos. Em outra, pássaros descansam em uma árvore, enquanto alguém ergue uma pipa. Ao lado, uma tela traz pessoas brigando na cidade. “O meu trabalho fala do dia a dia.”

 

Waldomiro completou 50 anos de carreira neste ano (2012)

 

Waldomiro de Deus foi homenageado como “Personalidade das Artes de Osasco”, após uma carreira de 50 anos de pintura, muitos deles vividos no município da Grande SP. Nascido em Itagibá (BA), em 1944, ele veio sozinho para a cidade de São Paulo, em meados dos anos 50, em um caminhão pau de arara.

 

Sem dinheiro, ele vagava pelas ruas da capital e dependia da bondade das pessoas para comer. Um policial o acolheu e lhe deu moradia. A partir daí, o garoto se tornou engraxate e trabalhava no Largo de Osasco.

“O que me levou a pintar foi uma necessidade de expressar o que tinha dentro de mim”, relembra. Seu primeiro desenho foi um enterro. “Eu estava numa situação dramática, ia pintar o quê?”

 

Hoje, ele estima ter mais de 3.500 pinturas espalhadas pelo mundo. Fez sua primeira exposição em 1962, no Parque da Água Branca, em São Paulo.

Uma de suas obras mais polêmicas é uma tela onde mostra Nossa Senhora de minissaia e o Jesus Cristo de bermuda, roupas que eram novidade quando pintou a tela, no final dos anos 60. “Eu quis modernizar, com respeito, com carinho e sem maldade, mas virou um quebra-pau”.

 

Tanto que quando quis se casar na igreja em Osasco, foi impedido por ser considerado herege. Depois conseguiu: há 35 anos é casado com a também pintora Lourdes de Deus, com quem tem seis filhos.

 

Durante mais de 30 anos, Waldomiro morou na avenida Internacional, no Jardim Santo Antonio, zona sul de Osasco. “Não ia germinar uma história do meu trabalho ali. Eu fui obrigado a me mover”, conta, apesar de agradecer muito pelo reconhecimento de diversas lideranças da cidade. Hoje, ele divide sua residência entre o bairro de Pinheiros, zona oeste da capital e a cidade de Goiânia (GO).

 

O pintor acredita que houve evolução no município que o acolheu quando chegou a São Paulo, mas ainda falta. “Osasco é um celeiro de arte, um celeiro de artistas, em todos os cantos”, afirma. “E eles estão esperando oportunidades.”

Estátua em homenagem ao artista fica em frente à Secretaria Municipal de Cultura de Osasco

 

 

Paulo Talarico, 22, é correspondente de Osasco.
@PauloTalarico
paulotalarico.mural@gmail.com

Comentários

  1. Mestre , sua história é apaixonante e apesar de eu já conhecê=la sempre me emociona …um grande abraço…

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