Festa “Dia da Mesa” completa dez anos no Jardim Felicidade
Por Aline Kátia Melo
Numa noite fria no mês de julho, a rua Portal II, no Jardim Felicidade, zona norte de São Paulo, está enfeitada com bandeiras. De um lado da calçada uma mesa cheia de doces, salgados e refrigerantes.
Não se trata de uma quermesse: é mais do que isso. É como se a rua de repente se transformasse no quintal de todas as casas.
Nenhum alimento é vendido, tudo é compartilhado entre os vizinhos. “Os homens trazem os refrigerantes, as mulheres preparam os pratos de doces e salgados”, explica a moradora Vanessa Alves, 30, professora.
“Um dia alguém lançou a ideia: um trouxe milho, outro trouxe bolo e assim começou. Repetimos no ano seguinte e agora já faz dez anos que temos nosso ‘Dia da Mesa’. Não tem bebida alcoólica. É uma comemoração familiar, não há brigas”, comenta o morador Paulo Geraldo, 52.
Quando a festa começou, a rua ainda não era asfaltada. A mesa era
montada num terreno onde viviam algumas galinhas e, por isso, algumas
pessoas chamavam o local de “galinheiro”. A festa e a mesa cresceram e passaram a ocupar a rua.
Tem fogueira, tem carro de som tocando samba rock. Do outro lado, caixas de plástico com tábuas de madeira funcionam como cadeiras. Na laje de uma das casas um equipamento de luz joga raios coloridos na rua, que vira uma pista de dança, onde casais giram alegres e as crianças correm de um lado para outro.
“O Dia da Mesa” faz com que as pessoas olhem a comunidade de um jeito diferente. “Para mim essa festa mostra que a periferia não é só drogas e desgraça, mostra que as pessoas se divertem e são alegres” diz o DJ Roberto Feitosa, 41, que há oito anos participa do evento junto com seu amigo Donizeti Moura , 55, autônomo.
“Na falta de espaço público destinado ao lazer, as pessoas se veem obrigadas a ocupar a rua para fazer seu próprio lazer”, diz Donizeti.
A festa faz parte da vida de algumas pessoas como a babá Karla Ramos Alves, 24. “Sete anos atrás eu estava aqui nessa festa e reencontrei meu ex-namorado, depois de seis meses de separação. Reatamos durante a festa. Nove meses depois nasceu nosso filho Kayk, hoje com seis anos de idade”, relembra.
A dona de casa Cida, 52, esposa de Paulo Geraldo, diz que o “Dia da Mesa” lhe lembra sempre que o nome do bairro tem a palavra felicidade.
Aline Kátia Melo, 29, é correspondente da Jova Rural.
@alinekatia
alinekatia.mural@gmail.com
Muito interessante essa iniciativa e é quase impossível pensar que algo desta forma aconteça numa metrópole como São Paulo – ainda bem que acontece. Acho que o foco do Dia da Mesa é realmente o de integrar a vizinhança, algo tão difícil nos dias de hoje, quando o máximo de palavras que os vizinhos trocam são considerações sobre o clima. Esta é uma ideia que não pode acabar e que deve continuar para as próximas gerações, quem sabe, contaminando outras regiões e cidades.
Foi essa simplicidade do compartilhar na periferia que, na minha visão, inspirou iniciativas como a primeira festa junina do Minhocão ocorrida em 01 de julho deste ano.
muito bom essa matéria parabéns Aline..