Moradores de Perus protestam por centro cultural em antiga fábrica de cimento

Agência Mural

Por Jéssica Moreira

Enquanto olhava para uma fotografia em preto e branco, Francisca Cunha, 90, se emocionava ao enxergar a casa onde morou quando tinha dez anos. Depois de alguns minutos, a história de Francisca também se misturou à de Nair Silva, 77, que se lembrou dos tempos em que sequer existia energia elétrica em Perus, na zona norte de São Paulo.

Foi com esta memória em comum que diversos moradores do bairro se reuniram nesse sábado (4/8) para um grande ato artístico pelos pontos históricos do lugar. O objetivo é resgatar a memória e reascender a luta por um Centro de Cultura do Trabalhador na área onde funcionava a antiga Fábrica de Cimento Portland Perus, que, mesmo tombada como patrimônio histórico da cidade, está totalmente abandonada.

Segundo alguns moradores, o espaço tornou-se ponto de droga e também já foi palco de tentativas de estupro.

 

Intervenção Artística na fábrica de cimento. Foto: Arthur Gazeta

 

O Ato Artístico Cimento Perus foi promovido pelo Grupo de Teatro Pandora em parceria com a Comunidade Cultural Quilombaque. Na opinião do coordenador da Quilombaque, José Queiroz, o investimento em cultura é um dos pilares para a transformação social da periferia.

“Promover a cultura local implica em constituir um circuito produtor e difusor estável e sustentável, aumentando a circulação de capital localmente”, disse.

O Grupo Pandora pesquisa a história da Fábrica há sete anos e, agora, com o recurso da Lei de Fomento ao Teatro, irá produzir um espetáculo sobre o tema.

 

Patrimônio histórico de São Paulo, a antiga fábrica está em ruínas

 

Para o diretor do grupo, Lucas Vitorino, a linguagem teatral gera uma reflexão sensorial, que pode fortalecer o diálogo com a população. “Falar da história da fábrica e dessa resistência de sete anos de greve não é só falar da história de Perus, mas também da história do Brasil.”, disse.

Enquanto o grupo de maracatu Os Mucambos animava o cortejo até a fábrica, outros moradores iam se aproximando. Garotos que sempre tiveram vontade de entrar no prédio vinham correndo. “Pode entrar”? Paravam, com medo do guarda, mas logo se animavam ao saber que o dia era de festa.

Depois de anos sem entrar no espaço, Sebastião de Souza Silva, 79, contou sobre os sete anos de greve liderados pelo sindicato dos queixadas (grupo de reivindicações trabalhistas de Perus) e a importância da restauração do espaço.

“A transformação da fábrica em um centro cultural vai ser uma coisa que eu talvez não chegue a alcançar, mas a minha esperança é que os meus netos e bisnetos vejam e possam desfrutar disso tudo”, disse Tião, um dos últimos queixadas ainda vivo.

No próximo sábado (11/8), o Grupo Pandora realizará uma roda de debates sobre a história da Fábrica de Cimento, que contará com a presença do morador Elias Aoun, autor do livro “Lembranças de Perus, o bairro dos Minérios”.

Confira a programação aqui.

 

 

Segundo dados da Rede Nossa São Paulo,  em Perus não há nenhum centro cultural, cinema, teatro, museu ou unidades especiais de cultura. No mapa abaixo, é possível localizar esses pontos (em vermelho) espalhados por São Paulo.

 

Imagem: Google Maps

 

Veja o mapa interativo com os dados completos clicando aqui.

Jéssica Moreira, 21, é correspondente de Perus.
@gegis00
jessicamoreira.mural@gmail.com

 

Comentários

  1. Muito boa matéria, o evento foi muito bacana. Espero que repercuta e que as pessoas voltem sua atenção para esta região da cidade que já deu muito a este país.

  2. nos do jaraga
    estamos há meses solicitando ao prefeito KASSAB e ao governador ALCKIMIM o asfalto e o esgoto nas ruas proximas a estação VILA AURORA DA CPTM linha 7 Rubi
    até agora nada
    nos ajude ai KASSAB
    nos ajude ai ALCKIMIM

  3. É importante mostrar que a periferia quer espaços para a cultura e está disposta a protestar para conseguí-los.
    No mapa essas diferenças entre centro e periferia ficam mais visíveis. A minha região (Tremembé) também tem poucos locais voltados para a cultura.

  4. É isso aí. Nós vamos indo fazendo e tecendo fios ESTAMOSaparentemente oculto. Porém atos, fatos e manifestações artístistiscas, culturais que se fazem , com neblina, nee, chua, olímpiada ou não. Não importa… Às ezes as coisas e história pare ce estar abandonada, mas quano nos manifestmos, mostramos que ESTAMOS AQUI
    QUERENDO AR5TISTICAMENTE UMA RESPOSTA DA HISTÓRIA QUE NOS SATISFAÇA . cONSEQUENTEMENTE NOS TRAGA A MEMORIA, A IGUALFADE E A JUSTIÇA DE VOLTA. Viva o moimento em prol de uma NOVA LIBERDADE E NOVAS POSSIBILIDADES. IA OS QUEIXADAS, QUILOMBAQUE e essa brilhante manifestação. Salve Jessica. Valeu!!!

  5. SERIA MUITO BOM , SE LA NA FABRICA DE CIMENTO QUE FEZ TANTO MAL PRA SAUDE DE TANTAS PESSOAS PUDESSE REVERTER E FAZER UM POUCO DE BEM COM A CULTURA E AS ARTE POR MEIO DA FABRICA DE CIMENTO … ESPERAMOS QUE ISSO SE REALIZE

  6. a fabrica e agora propriedade particular? alguem sabe disso, fui expluso por uma empresa q se diz dona da fabrica a tal de opsfield

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