Após 3 anos, Jardim Romano relembra enchente que durou meses
No próximo sábado (8), completam-se três anos da grande enchente que abalou o Jardim Romano, na zona leste de São Paulo. O alagamento, iniciado em 8 de dezembro de 2009, durou cerca de três meses.
“Lembro-me até hoje daqueles terríveis dias quando tive que retirar minha família na correria e no meio de tanta água. Parecia um dilúvio em cima de nossas cabeças.”, recorda o pedreiro Alonso Ferreira, 51.
Na época, cerca de 340 famílias foram removidas às pressas para conjuntos habitacionais em Itaquaquecetuba, município vizinho de São Paulo.
Passados três anos, elas reclamam da falta de estrutura das moradias que receberam. “Pegaram o que restou dos meus móveis na rua Capachós e jogaram tudo num caminhão com outras mudanças. Chegando aqui, percebi que o imóvel estava sem torneiras e tanque, sem reboco nas paredes e piso de terceira categoria.”, diz o encarregado de serviços Júlio Gomes, 45.
Outras três mil famílias aguardam até hoje a promessa de moradias. Várias áreas na Vila Curuçá e Ermelino Matarazzo, também na zona leste, foram reservadas para habitação, mas nada foi feito nos últimos dois anos.
“Tenho este protocolo do cadastro desde aquela época e estou aguardando. Será que novamente eles [o governo] se esqueceram da gente?” pergunta a dona de casa Maria Aparecida Nunes, 43.
Segundo a prefeitura, a solução definitiva para evitar o alagamento da região foi a construção de um dique, um pôlder e um reservatório que custaram aos cofres públicos cerca de R$ 70 milhões.
A obra de contenção das águas e o recapeamento das principais ruas foram os únicos investimentos elevados na região nos últimos três anos. Entretanto, a Vila Itaim, bairro vizinho que faz parte do Jardim Pantanal, voltou a alagar.
O grafiteiro e morador do Jardim Romano, Cristiano Alves de Lima, conhecido como Ignoto, e seu amigo Daniel pintaram um muro da rua Capachós com imagens que remetem àqueles momentos difíceis.
“O painel foi criado com base nos relatos dos moradores e lembra os dias em que as pessoas caminhavam entre as águas salvando o que dava para salvar”, comenta Ignoto.
“Esta pintura resume todo o sentimento que passamos: abandonados.”, lamenta a moradora Eulália Junqueira, 30.
Vander Ramos, 51, é correspondente do Itaim Paulista.
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