Moradores do Jardim Damasceno aproveitam Natal para pedir espaço cultural

Agência Mural

No último dia 8, adultos e diversas crianças se reuniram para montar a tradicional árvore de Natal na entrada do Jardim Damasceno, na região da Vila Brasilândia, zona norte de São Paulo.

Construída com materiais recicláveis colhidos na própria comunidade, a decoração é fruto do trabalho de voluntários preocupados com os problemas ambientais do bairro e, principalmente, com o futuro do espaço em que ela foi montada.

No ano anterior, ali funcionava o projeto Centro para Criança e Adolescente (CCA) Arte na Rua, onde cerca de 80 crianças e adolescentes participavam de atividades culturais e recreativas. Atualmente, o projeto está em outro endereço do próprio bairro, onde o atendimento foi ampliado para aproximadamente 120 usuários.

Contudo, os moradores, receosos com o futuro do espaço que ajudaram a construir, ocuparam o imóvel instalado na área e, por conta própria, desenvolvem diversas atividades para atender mais 40 crianças e adolescentes todos os dias.

“O Arte na Rua foi para outro endereço, mas aqui já temos outra demanda de crianças. Sem apoio do governo agora. Mas o projeto não pode ser desativado assim. Esse espaço tem uma história, um vínculo muito forte com a comunidade. Não se pode passar um trator por cima disso tudo. Apagar o sonho das pessoas”, diz a voluntária Dilza da Cruz Santos da Silva, 60.

Segundo a população, a prefeitura planeja construir a entrada de um parque linear no local. Mas enquanto nada é feito, há também o receio de que a área seja invadida e a preocupação em deixar a nova demanda de crianças na rua.

“Imaginamos aqui um prédio com infraestrutura melhor, uma praça, um playground, uma quadra coberta… Sonhamos com isso e não é de agora”, diz Márcio Brito da Silva, 37, ex-morador e voluntário na montagem da árvore. “E muito fácil chegarem com máquinas e derrubarem tudo. Trazendo algo já planejado e imposto, sem diálogo. É preciso entender que tudo nesse espaço tem uma marca, uma história, foi construído com muita luta.”

Para Noemia de Oliveira Mendonça, 53, moradora e conselheira regional do meio ambiente, movimento sustentável e cultura de paz da Subprefeitura Brasilândia/Freguesia, essa discussão sobre o futuro do projeto no bairro é umas das principais esperanças dos moradores a respeito da nova administração.

“Queremos algo voltado para as vivências comunitárias, com cultura, esporte e lazer. Mesmo que a prefeitura construa algo aqui, esperamos ter um local para essas vivências. Esperamos, principalmente, que haja uma gestão compartilhada entre poder públicocomunidade. Pois o mais importante é discutir com os moradores quais são as suas reais necessidades e temos esperança que esses diálogos venham com a nova administração”, diz.

Cleber Arruda, 30, é correspondente do Jardim Damasceno.
@CleberArruda
cleber.mural@gmail.com

Comentários

  1. Defendemos neste Espaço a Cultura ,esporte o lazer e recreação,um Espaço com a Memória a História viva dos moradores desta Região.

  2. Esse local no Jardim Damasceno,Região da Brasilândia,possui Histórias de Lutas e Resistências.Cada árvore,as traves que compõem o improvisado campinho de futebol,as flores,os galpões de madeira,a cobertura e a pequena e simples casinha do Cuidador daquele local precisam de maior “atenção´´ do Poder Público.Parabéns Jornalista Cleber Arruda pela matéria!

  3. tomara que nossos governantes voltem os olhos para o nosso povo no jardim damasceno e muito melhor reformarem o arte na rua do que desapropriarem e deixar que se torne mais um ponto de encontro fútil onde se planeja roubos furtos e pratica de trafico ACORDEM PODER PUBLICO

  4. Nasci e cresci no Jardim Damasceno, vivi as experiências mais importantes da minha vida neste espaço cultural. Essa relação com o poder Publico,de abandono e descaso sempre esteve presente. Torcemos que na próxima gestão, a PMSP tenha um olhar mais sensível a infância e sobretudo juventude das periferias da cidade. Manter o Espaço Cultural ativo, é um dever do Poder Publico Municipal,e uma atitude de respeito a memória da comunidade e a história deste espaço.

  5. Independente do destino que será dado ao Espaço Cultural, é importante atender os anseios da população que busca por um minimo de dignidade e cidadania, dai nasce a historia deste Espaço, foi num momento dificil e de muita dor para os moradores do Jardim Damasceno, não é justo que atitudes truculentas e individualistas sobrepõem aos interesses coletivos de uma comunidade lutadora.

  6. Que o novo prefeito tem um novo olhar para os problemas do Jardim Damasceno, especificamente para este Espaço Cultural que tem sido capaz de ter ações integradoras e inclusoras. O Espaço Cultural veio com essa finalidade, um pouco de cidadania é preciso!

  7. O poder público abandonar um espaço como esse.é um crime…ESsa gestão que esta entrando não pode se fechar para essa discussão.

  8. Este Espaço Cultural faz parte da minha história de vida. Em 1990, quando me formei em assistente social, eu me coloquei à disposição para contribuir com os trabalhos, com mulheres, crianças e adolescentes. Conseguimos envolver vários profissionais, dentre eles, o artista plástico Paulo Pitombo, que esteve conosco em 1994, quando a primeira árvore de natal foi feita com materiais recicláveis. A ideia era dar sentido, ao espaço, aos objetos e, promover uma reflexão sobre o natal. O objetivo foi alcançado, tendo em vista que após 18 anos, a ideia resiste,assim como a luta dos moradores do Jardim Damasceno resiste. Tudo neste bairro tem cheiro de luta, organização popular. Desejo e vou lutar para que a próxima gestão municipal potencialize essa história, que é tão comum em todo o Distrito da Vila Brasilândia.

  9. Faltou seriedade e compromisso por parte daqueles que fizeram essa ação desastrosa, tirar o projeto ‘Arte na Rua’ para que? Há quem interessa tirar crianças de um Espaço que já estavam habituados para fazer ‘planos’ de um parque que não está totalmente viabilizado?

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