Em Perus, novo centro de reabilitação de animais silvestres não sai do papel
O bairro de Perus, na zona norte de São Paulo, concentra uma das maiores reservas de mata atlântica da capital –o Parque Anhanguera, com uma área de 9,5 milhões de metros quadrados. Nove vezes maior que o Ibirapuera, o espaço comporta, além de um playground, quadras e uma ciclovia, o Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (Cras) desde 1993.
O Cras, porém, não comporta mais a demanda de animais que, diariamente, são encontrados machucados ou em cativeiros ilegais. Por isso, desde 2005, a prefeitura promete um novo centro de reabilitação. Segundo a assessoria de imprensa da Secretaria do Verde e Meio Ambiente, não há previsão para o término das obras.
O novo Cras está sendo custeado com o dinheiro dos créditos de carbono destinados ao bairro –uma compensação pela existência de um aterro sanitário durante duas décadas, onde hoje funciona uma usina de biogás que transforma gás metano em eletricidade.
No mercado de crédito de carbono, indústrias e países poluidores podem reduzir seus índices de emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE) pagando a cidades que produzem energia renovável.
Para o professor da rede pública municipal de ensino de Perus, Fábio Nepomuceno, 36, a existência de um centro como esse pode aumentar as discussões em torno do tema do desenvolvimento sustentável. “Mesmo o Cras não sendo aberto ao público, acredito que a prefeitura poderia ter projetos que levasse até as escolas técnicos que explicassem aos estudantes a importância da fauna do bairro”, diz.
O Cras trabalha com a reabilitação de animais mantidos em cativeiro ou machucados, e os reintegra à natureza. O espaço já chegou a totalizar 796 atendimentos por mês, já que o estado de São Paulo é uma das rotas de saída para o tráfico de animais, o que aumenta ainda mais a demanda, como explica o coordenador da divisão de unidades de conservação e proteção da biodiversidade, Daniel Martins, 34.
Um estudo do Ibama, realizado em 2012, aponta que o tráfico de animais é a terceira atividade ilegal mais praticada no país, ficando atrás apenas do tráfico de armas e de drogas. O estudo mostra, ainda, que o comércio ilegal de animais no Brasil rende cerca de US$ 2,5 bilhões ao ano (cerca de 5,1 bilhões de reais).
O Cras de Perus pode ser comparado a um hospital. Rodeado de árvores, o espaço possui clínica cirúrgica, pista de treino de voo, e diversos viveiros, para comportar os cerca de 80 animais que chegam, diariamente, durante a primavera e o verão. Esse é o período de nascimento de filhotes para diversas espécies que passam por processos de reprodução durante o outono e o inverno.
Além de ser o maior foco de atenção do tráfico, as aves também são as que mais sofrem no período de férias, já que podem ter suas asas cortadas com o cerol das pipas no ar. Por isso, elas são a maioria dos animais atendidos nos centros de triagem de todo o Brasil. “Há animais que chegam porque se acidentaram, mas a maioria dos casos é por que um morador viu o filhote e achou que estava perdido ou machucado, mas, na verdade, ele estava aprendendo a voar”, explica Martins.
Muitos chegam com musculatura e asas comprometidas. Além desses casos, aqueles que foram operados há pouco tempo ou que precisam reaprender técnicas de caça e sobrevivência, também são encontrados no local.
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Jéssica Moreira, 20, é correspondente de Perus.
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