Em Paraisópolis, rotatividade no comércio é frequente

Agência Mural

Era uma vez um salão de beleza que virou um comércio de artigos em geral, que depois se tornou uma loja de costura e, mais recentemente, uma locadora de DVDs. Essa rotatividade comercial tem sido frequente em Paraisópolis, a segunda maior favela de São Paulo, na zona sul da capital.

Quem passa pelas ruas da comunidade, especialmente na região central, vai se deparar com um comércio superaquecido com dezenas de opções de estabelecimentos: lojas de imóveis de grande porte, farmácias e açougues bem equipados, óticas, butiques de roupas e, em particular, salões de beleza praticamente em cada esquina.

Mas o que chama atenção, além do aumento do número do comércio, é o troca-troca dos ramos de atuação desses estabelecimentos, como é o caso de salão de beleza que acabou virando uma locadora.

Para a moradora Maria de Lourdes Santos, 37, que há 10 anos mantém sua loja de roupas femininas, em uma das ruas mais movimentadas de Paraisópolis, essa rotatividade é fruto da falta de planejamento. Nos últimos anos, por exemplo, ela viu a vizinha de negócio mudar de ramo diversas vezes. “A proprietária aqui da frente tentou montar uma padaria, mas durou alguns meses. Depois, apostou numa lanchonete, fechou. Abriu ainda um salão de cabeleireiro, e não deu certo. Hoje está fechado”, conta.

Maria de Lourdes em frente a sua loja de roupas, na rua Melchior Giola, uma das mais movimentadas de Paraisópolis

Segundo ela, as pessoas sonham em deixar para trás a “vida de empregado” para se tornar “patrão”, mas esquecem o principal: administrar, ou como diz: “colocar as contas na ‘ponta do lápis'”. “Quando comecei, passei bastante aperto. Investi na loja, não estava indo. Até que decidi abrir um salão de cabeleireiro. Por sorte, e muito aprendizado por conta dos erros, hoje estão estáveis”, afirma.

No caso de Santos, o fato de não ter que pagar aluguel é um dos principais fatores para a sustentabilidade do comércio. “Os aluguéis dos imóveis aqui estão caros demais. Além disso, o comerciante precisa pagar funcionário, máquinas de cartões de crédito e, principalmente, aprender a estabelecer a relação custo-benefício, o que normalmente não acaba conseguindo, fazendo com que ele passe o ponto ou troque de ramo”, completa

Apenas na rua Melchior Giola pelo menos 10 estabelecimentos tiveram seus ramos de atuação substituídos nos últimos meses. É o caso da sorveteira que virou um salão de cabeleireiro e de uma loja de artigos em geral que agora é um mercadinho.

De acordo com Joildo Santos, vice-presidente da associação de moradores local, o aumento do fluxo e rotatividade comercial em Paraisópolis é também fruto do fácil acesso ao financiamento, o que tem feito muitos moradores optarem por montar o próprio negócio.

“Estamos numa fase ainda em que muitos comércios se formalizam por conta do acesso a financiamentos e créditos bancários. No entanto, muitos deles –principalmente os de pequeno porte– acabam fechando e tendo vida curta porque têm pouca noção administrativa”, afirma. “Em contrapartida, muitos empreendedores estão buscando se qualificar, já que precisam dar conta de comércios que precisam de demandas permanentes, como farmácias, salões de cabeleireiros, açougues, entre outros”, finaliza.

Vagner de Alencar, 25, é correspondente de Paraisópolis.
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