Aulas de planejamento urbano da USP são realizadas em Perus
Todos os sábados pela manhã, pessoas de vários lugares da cidade de São Paulo participam de disciplinas optativas da USP (Universidade de São Paulo) sobre planejamento urbano, que desde março acontecem no bairro de Perus, zona norte da cidade.
As aulas de Gestão da Paisagem e do Ambiente e Potencialidades e Gestão da Paisagem, do curso de graduação da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental da USP, respectivamente, fazem parte do Projeto Universidade Livre e Colaborativa. Elas têm como objetivo cruzar o conhecimento acadêmico ao local, mostrando como a transformação da paisagem pode ser tratada a partir de problemas que afetam a população do espaço.
Divididas entre exposições teóricas e ações práticas, como análise do plano de bairro e visita a locais estratégicos, o curso é oferecido a moradores da região, estudantes de graduação, pós-graduação e a intercambistas da FAU-USP. “ A expectativa é que o curso abra caminho para uma universidade livre no bairro e que amplie o diálogo da população com outros atores envolvidos na transformação do espaço urbano, a partir de valores coletivos e solidários que estabeleçam e indiquem alternativas”, explica o idealizador do projeto, professor da FAU, Euler Sandoville.
Moradora de Itaquera, zona leste, a professora de biologia Michele da Silva, 29, atravessa a cidade para chegar ao curso. Sai de casa às 7h30, pega um trem até a Luz, onde faz baldeação para Perus. Aluna especial do Programa de Ciências Ambientais da USP, Michele se interessou pela disciplina, pois dialogava com pesquisa que realizou sobre a percepção ambiental que as pessoas têm do local onde vivem.
“É preciso acabar com a ideia de que a universidade vai levar conhecimento as comunidades, mas sim [pensar] que os estudantes universitários podem aprender com os próprios moradores locais”, diz a estudante.
Cerca de 50 participantes são divididos em grupos de seis a oito pessoas, que se comunicam via internet durante a semana e levam sugestões para as aulas. Para cada atividade há rotatividade de tarefas, para que assim todos possam fazer parte da construção da disciplina. Mas em todo grupo há um morador da região, que trabalha junto aos pesquisadores da FAU, com o propósito de haver a troca de saberes acadêmicos e práticos.
Para a professora de história Maria Helena Bertollini, 56, integrante do movimento educacional de Perus, o diferencial dessa disciplina é o envolvimento que ela traz com os problemas locais. “É importante ver um grupo de pessoas variadas discutindo a cidade a partir de algo concreto. Esse é um processo educativo vivo, orgânico, que vai gerar resultados reais na vida das pessoas, pois nasce de necessidades apontadas pelos próprios moradores”, afirma.
A estudante intercambista Maria Miedes, 29, veio da Espanha para a USP, pois lhe interessava a linha de pesquisa das disciplinas da FAU que tratam do planejamento urbano de forma participativa. “É um privilégio para uma pessoa que vem do exterior poder participar, pois é muito difícil alguém de fora entrar em um processo local já em desenvolvimento, como ocorre em Perus”, disse.
Até o final do curso, em junho deste ano, serão realizadas três rodas de debate, que contarão com professores da FAU, para tratar sobre o tema. As inscrições para participar das aulas desse semestre já acabaram, mas caso haja interesse de moradores do bairro de Perus, ainda é possível acompanhar as disciplinas, que ocorrem todos os sábados, das 9h às 13h30, em diversos pontos do bairro, já que o intuito é oferecer aos envolvidos experiências que os coloquem o mais próximo possível de diferentes realidades.
Mais informações no site espiral.net.br, ou no grupo do Facebook “Desenvolvimento e Paisagem”.
Jéssica Moreira, 21, é correspondente comunitária de Perus.
@gegis00
jessicamoreira.mural@gmail.com