Festival Baixo Centro reúne manifestações culturais no Minhocão

Agência Mural

Onde um grupo de maracatu poderia tocar junto com uma banda de rock, em um cenário rodeado de prédios, no fim de tarde de um domingo nublado? “Só em São Paulo”, diz a professora Dina Ramos, 38, que ontem (14/4) estava empenhada em colorir o Minhocão, viaduto localizado no centro da cidade, com vários saquinhos de tinta durante o Festival Baixo Centro.

Dina faz parte do “Minhoca Colorida”, uma ação entre tantas outras que fizeram parte da programação que reuniu diversas manifestações artísticas, como a apresentação dos músicos roqueiros que sincronizaram o som dos baixos e guitarras com os batuques do grupo Ilê de Oyá.

Grupo “Jam do Minhocão” improvou diversas performances (Foto: Tércio Teixeira/Futura Press/Folhapress)

Logo no começo do viaduto, próximo a rua da Consolação, era possível ganhar um presente da educadora Sandra Brito, 31, que trocava palavras por poemas, ali, ao vivo e a cores. Era só chegar, dizer uma palavra, escolher a cor do papel e esperar a criação da artista, que escrevia na hora e assinava como Brittox. “É o meio jeito de sensibilizar as pessoas com um ato simples”, diz.

Do seu lado, a mãe apreciava o trabalho. “Acho lindo que aconteça essas ações aqui para que os jovens tenham opção de diversão. Há 40 anos, o centro era bem diferente. Hoje, infelizmente, sentimos muito medo dessa região”, conta a aposentada Vera Brito, 62.

Logo em seguida, estava a tenda da “cultura canábica”, onde ativistas arrecadavam recados endereçados ao STF (Supremo Tribunal Federal) para uma manifestação em prol da legalização da maconha, que ocorrerá dia 5 de maio, em Brasília.

Mais adiante, o Coletivo Cru disponibilizava bicicletas geradoras de energia. Elas eram usadas, também, para carregar a caixa de som, que mais tarde seria utilizada para ajudar na projeção de documentários que aconteceria ali mesmo, na lateral do prédio em frente ao local.

“É como se o piquenique da praia ou no meio da natureza fosse transferido para o perímetro urbano. É muito importante que isso aconteça para as pessoas se apropriarem do espaço público e deixarem de agir como se a cidade não lhes pertencesse”, diz o analista de redes Marcelo Isidoro, 33, que morou na região por 20 anos. “O centro foi abandonado, mas a arte pode, sim, regenerá-lo”.

Para o morador Carlos Alberto, 56, andar pelo viaduto e ver essas atividades com músicas “dá até um alívio”. “Quando passo aqui e não tem nada, é muito triste”, diz.

A psicóloga Márcia Regina de Carvalho, 52, escutou o barulho do apartamento e veio com os sobrinhos prestigiar a festa. “Adoro essa diversidade. Nos faz sentir à vontade e tira o receio de caminhar pelo local”.

Diversos artistas se espalhavam pelo viaduto (Foto: Tércio Teixeira/Futura Press/Folhapress)

Passantes paravam para ver, também, um pintor de quadros, que, da sua sacada em frente ao viaduto, trabalhava em sua mais nova criação. “Precisamos valorizar a arte que temos aqui no Brasil. Há muita gente com capacidade”, opina a bailarina Lanna Moraes, 34.

O evento ainda abriu espaço para grupos ativistas como o do “Pacto Mundial Consciente” e o “Não Mate”, que fizeram uma performance em prol do direitos dos animais e contra uso dos agrotóxicos. O festival contou, além disso, com a exposição de imagens do “O Outro Lado do Muro – Intervenção Coletiva”, que propõe uma reflexão sobre obras de verticalização da cidade. Oficineiros também ensinaram a fazer carteiras artesanais e o “Walking Galery” passou pelo local  com seu inusitado modelo de exposição de arte, onde os artistas levam suas obras para passear.

“Estou aqui para curtir as tendas de música e conhecer pessoas. Para mim, esse festival é mais interessante e tem mais conteúdo que a Virada Cultural”, diz o designer gráfico Roberto Nunes, 27,  também morador do centro.

Grupo faz manifestação contra uso de agrotóxicos e consumo de carne (Foto: Tércio Teixeira/Futura Press/Folhapress)

Tatiane Ribeiro, 27, é correspondente comunitária da Bela Vista.
@TaTyaa
tatiribeiro.mural@gmail.com

 

Comentários

  1. Bom dia.

    A primeira foto refere-se ao evento

    JAM NO MINHOCÃO.

    Dentro do FESTIVAL BAIXO CENTRO, uma intervenção urbana de artistas improvisadores da dança, música, fotografia, vídeo, artes cênicas e plásticas.

    Inspirados nas jams de Contato e Improvisação, o coletivo percorreu o Minhocão convidando o público a interagir livremente na pluralidade expressa do espaço.

    Através da exploração da concretude das formas, sonoridades e texturas, integraram-se a dança de contato, a percussão, o sopro e a captação em foto e vídeo.

    Durante o trajeto o grupo propôs pausas no deslocamento para potencializar a escuta sensorial e atingir uma composição harmoniosa.

    Abraço.

Comments are closed.