Fundadora da Associação Monte Azul fala sobre dificuldade em manter projeto

Agência Mural

Nos anos 70, a alemã Ute Craemer, 75, decidiu largar o emprego de tradutora em seu país para ajudar as pessoas ao redor do mundo. Ela se instalou no Jardim Monte Azul, localizado na zona sul de São Paulo, e fundou uma entidade cujo objetivo era ajudar os moradores a lutar por melhores condições de infraestrutura.

Por meio do seu trabalho, em 1979, a Associação Comunitária Monte Azul, como é conhecida, abriu na região a primeira escola de reforço escolar. Logo em seguida, em 1980, veio a conquista do primeiro ambulatório médico.

Hoje, a entidade, que também desenvolve cursos de capacitação profissional e atividades culturais, sofre com a falta de incentivos financeiros e procura uma forma de continuar sua atuação. Além do trabalho em seu bairro sede, a associação também está presente nas regiões Horizonte Azul e Peinha, ambas na zona sul da capital.

Ute em sua casa, no Jardim Monte Azul, região em que mora desde a década de 70

Com 44 anos de militância social, sendo 38 deles somente no Monte Azul, a educadora concedeu entrevista ao Mural.

Mural: Quais são os objetivos da entidade em relação aos bairros em que atua?

Ute Craemer: Eu comecei esse trabalho dentro da minha casa, contando com a ajuda de muitas pessoas e, inclusive, também dos moradores. Esse movimento de sempre tentar ver onde precisa, mas, lógico, dentro das nossas possibilidades, faz parte do espírito da associação.

Dos bairros em que a associação atua, qual deles a situação de educação, segurança e infraestrutura está mais deficiente?

Acredito que no Horizonte. As condições lá são mais difíceis de conseguir, pois tudo o que foi conquistado veio por meio de reivindicações populares.

Caminhões de lixo, transporte público, posto de saúde, foram adquiridos com muita luta dos moradores locais, inclusive ao chamar a mídia para vivenciar as dificuldades deles. Eu tenho a impressão que lá é um dos milhares de bairros de São Paulo esquecidos pela prefeitura e o governo estadual. Mas com muito esforço, conseguimos algumas conquistas para ajudar, como, por exemplo, a implantação da primeira escola integral com pedagogia Waldorf (instituição que tem como foco o desenvolvimento humano e atividades manuais).

A associação desenvolve um forte trabalho de educação no bairro, sendo responsável, também, pelo crescimento da região. Os projetos correm o risco de acabar?

Talvez algumas pessoas tenham a ilusão de que a parte financeira sempre foi fácil de conseguir. Nunca foi tranquilo equilibrar as finanças. No início, conseguimos algumas doações e, depois, alguns convênios que ajudaram no desenvolvimento do bairro. Porém, a área da educação foi mais contemplada pelos convênios e ainda continuam. Mas outras atividades, como a saúde e a cultura, sempre foram levadas a muito custo.

Como vocês estão se virando para manter os projetos?

O ambulatório dentro do jardim Monte Azul teve incentivo da Fundação Tobias, mas de uns anos para cá, o repasse vem diminuindo.  Em contrapartida, a comunidade, que não é mais favela, se aburguesou. Assim, podemos pedir uma contribuição para quem pode pagar uma taxa mínima para as consultas e terapias oferecidas no ambulatório.

Veja o vídeo sobre a história da Associação Comunitária Monte Azul aqui.

Leonardo Brito, 26, é correspondente do Jardim Monte Azul
@leonardo_bbrito
leonardobrito.mural@gmail.com

Comentários

  1. Lamento o fim da marcenaria. Meus filhos tem brinquedos adquiridos lá q guardaremos para sempre.
    O que estranho é que a pedagogia e a medicina waldorf sejam tão “caras” e que não possam contribuir para a continuidade desses projetos. Pq não tentar um relacionamento mais estreito com médicos e escolas e algum apoio da weleda ?

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