Festival de teatro de rua agita público no Campo Limpo

Agência Mural

No chão de terra batida, sob uma esteira de palha, adultos e crianças se sentavam para acompanhar as apresentações do 8° Festival Nacional de Teatro de Campo Limpo (Festcal), na praça João Tadeu Priolli, na zona sul de São Paulo.

O evento, organizado pela Trupe Artemanha, trouxe para região mais de 30 atrações de coletivos da Grande São Paulo, do Nordeste e do Sul. Juntos, eles foram responsáveis por cinco dias de espetáculos de teatro de rua, debates, intervenções de grafite, música e poesia.

Na sexta-feira (31), a plateia se envolveu com a magia do circo com o palhaço do grupo Off-Sina, do Rio de Janeiro. E, logo depois, até os moradores da praça participaram de cenas do espetáculo “Arrumadinho”, da Trupe Olho da Rua, de Santos (SP). “Todos os anos a gente participa do festival e o Robinho [um dos moradores de rua] interage sempre e é um prazer”, conta a atriz Raquel Rollo.

Na tarde de sábado (1), a estudante Keizy Vitória Silva, 10, era uma das presentes que não tirava os olhos das encenações. A preparação dos artistas ocorria em frente ao público, de forma improvisada, e a descontração rolava solta.

O palhaço no espetáculo “Café Pequeno da Silva e Psiu”, do grupo Off-Sina, do Rio de Janeiro

A praça, antes abandonada, virou espaço de convivência e troca de saberes. “Eu entendi como a nossa cidade é. Tem muita briga, muito xingamento, mas eu gostei do final, quando ela [a personagem] não devolveu os tapas”, diz Keizy sobre o que entendeu da peça “A farsa do pão e circo”, do grupo cearense Teatro de Caretas, que propôs uma reflexão sobre a paralisia do povo em relação à política pública.

Para o próximo espetáculo, integrantes do coletivo Cafuringa, de Pernambuco, acertavam os arranjos do som e a maquiagem, mas não deixavam de lado a interação com a plateia. Roupas coloridas e instrumentos musicais marcavam o evento.

Homenageado da edição, o Movimento Escambo Livre de Rua interagia com o público por meio de cantos populares e da troca de conhecimento. O grupo, que surgiu na década de 1990 e integrou artistas do interior do Ceará e do Rio Grande do Norte, reinventou o cenário cultural da região ao permitir que a própria população pudesse criar os seus espetáculos.

“O meu teatro era diferente dos outros, pois era feito em meio à poeira do sertão”, contou aos presentes o artista Cleydson Catarina. Hoje, a iniciativa está presente em todo Brasil e, inclusive, na Argentina.

Espetáculo “Arrumadinho”, da Trupe Olho da Rua, de Santos (SP)

Seguindo a linha do Escambo foi que a Trupe Artemanha acolheu pela primeira vez em seu espaço artistas do teatro brasileiro de rua. “Além da participação do público, que foi bem bacana, esse ano os grupos de fora se hospedaram com a gente. Foram dias de convivência e o festival é uma troca e não apenas uma mostra”, explica Dêssa Souza, produtora do evento.

Nem mesmo a chuva e o frio do último dia foram capazes de estragar a festa no bairro. No fim de domingo (2), os presentes puderam apreciar as intervenções dos grafiteiros no Espaço Cultural Cita e a poesia dos artistas do Sarau do Binho, regada de criatividade e crítica social.

Animada, a empregada doméstica Vitória Santos, 52, saiu de Paraisópolis, também na zona sul, para fechar a noite chuvosa. “Eu achei maravilhoso e o que mais gostei foram as músicas”.

Para ver fotos das apresentações do festival acesse aqui.

Em 2011, o Mural falou da conquista do espaço pela Trupe Artemanha. Saiba mais aqui.

Karol Coelho, 21, é correspondente do Campo Limpo.
@karolcoelho_
karol.mural@gmail.com

Patrícia Silva, 24, é correspondente do Campo Limpo.
@Patricia_Aps
patriciasilva.mural@gmail.com