Moradores da Freguesia do Ó organizam evento cultural em praça pública
“Eu sou um punk da periferia, eu sou da Freguesia do Ó”, cantava Gilberto Gil na década de 1980, sobre o bairro da zona norte paulistana. Agora, são os próprios moradores da Freguesia que levantam a voz em praça pública. No dia 16 de junho, realizaram o 2º “Frega em Movimento”, evento cultural independente, que trouxe grupos musicais da região, grafite, skate e slackline para a população local.
O evento ocorreu na Praça do Peciccaco, reunindo diversos moradores. A funcionária pública Vera Lacerda, 59, compareceu para prestigiar a apresentação do filho, Lucas Lacerda, 22, integrante do grupo Sempre Acima. Vera não costumava ouvir rap, até o filho passar a fazer parte do grupo. Agora, o acompanha em, praticamente, todos os shows.
“Acho que a prefeitura deveria abrir mais espaços para eventos que evidenciem a cultura popular local. O governo tem de dar uma estrutura geral para definir o lazer do bairro”, disse Vera.
Para Lacerda, é preciso existir movimentos que levem as pessoas às praças públicas. “É o primeiro passo, trazer o jovem para ouvir músicas que conscientizem, falem das divergências da vida, servindo até mesmo como conforto para a comunidade”, afirmou.
A designer de unhas Fabíola Nunes, 30, e o estudante de engenharia ambiental Eduardo dos Santos, 30, moram na Vila Formosa, zona leste de São Paulo, mas preferiram atravessar a cidade para visitar os parentes e aproveitar a atração. Os dois filhos, Kevin e Kauan, aproveitaram a tarde inteira na praça. O casal sempre frequenta o espaço quando vai até a Freguesia.
Eric Thal, 29, um dos organizadores do evento, conta que a maioria do grupo mora nos arredores e, há mais de dez anos, reúnem-se na praça. Como sempre utilizavam o local para fazer churrasco e ouvir música, resolveram, em 2010, realizar a primeira versão do “Frega em Movimento”. Como a iniciativa deu certo, decidiram repetir a dose, já que faltam atividades culturais no bairro.
“Têm poucas opções de lazer e cultura aqui. O Largo da Matriz tem casa de cultura e também bares, mas, na maioria das vezes, as pessoas do entorno têm de se deslocar para o centro para ter acesso a uma cultura mais alternativa”, afirma Thal.
Durante quatro meses, o grupo se encontrou semanalmente para a organização das atividades. Cada integrante ficou encarregado de uma tarefa. Produziram flyers virtuais, camiseta e conseguiram levar grafiteiros para pintar os muros da escola Pasquale Peccicacco de forma gratuita, assim como os grupos musicais.
“É muito burocrático ocupar um espaço público, mesmo entrando em contato com a subprefeitura, eles disseram que só podíamos fazer o evento com a autorização da CET”, esclarece Thal.
Neste ano, eles tiveram que falar com a Polícia Militar (PM), subprefeitura do bairro e, ainda, com a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), que disse que eles teriam que pagar R$111 por hora para permanecer no espaço público, a depender da rua que fecha.
“A gente protocolou o ofício na subprefeitura há quatro meses, mas não consentiram. A PM veio apenas pegar nome do responsável, mas não fez a segurança do espaço”, afirma o organizador.
Jéssica Moreira, 22, é correspondente de Perus
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Thaís Santana, 23, é correspondente de Anhanguera
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