Como nasce um sarau?
Parte do chão estava coberto com uma toalha bonita, toda desenhada com aquelas fitas que são símbolos de promessa e que algumas pessoas amarram no braço. Livros para doação e leitura momentânea estavam sobre ela.
Em volta, cadeiras. Nas cadeiras, crianças. Atrás das crianças, adultos sentados no cercado de concreto que delimitava o espaço. Um varal improvisado ganhou poesias como penduricalho.
Estava nascendo o Sarau do Damasceno, no bairro de mesmo nome na região da Brasilândia.
Por resistência e anseio por um espaço cultural maior, mais um grupo se uniu. Todos se olhavam, esperando os próximos passos, como uma descoberta conjunta.
Alguns recitaram poesias de livros, outros as próprias inspirações e o grupo de crianças se organizou para cantar a famosa música “Aquarela”.
Além disso, grupos musicais locais deram um show – Produto do Mundo, uma mistura de rock, reggae e rap, e Fakes do Baile, grupo de forró composto por uma família e amigos da região.
Robson Vieira, 29, estudante de Gestão de Políticas Públicas, um dos organizadores do evento, explicou que, além da intenção de trazer mais cultura, o Sarau do Damasceno tem o objetivo de mostrar que os moradores têm o direito de escolher o que querem para o bairro.
“Queremos mais cultura, queremos preservar o nosso Centro Cultural, somos contra a entrada para o parque linear que há tempos dizem que será construída aqui. O espaço é nosso, vamos legitimá-lo!”
O sarau aconteceu em um imóvel conhecido como Espaço Cultural do Jardim Damasceno, exatamente onde a prefeitura de São Paulo tem projetos de criar a entrada de um parque linear que já existe na região.
Segundo a aposentada Maria da Graça Nogueira, 54, os moradores já não aguentam mais tanto “diz que me diz”. “Com a chegada de jovens cada vez mais engajados, nossa organização está aumentando. Somos contra a retirada do nosso centro cultural e queremos mais uma UBS (unidade básica de saúde)!”
Segundo dados da Rede Nossa São Paulo, de 2012, o distrito da Brasilândia tem índice igual à zero no item “Centros culturais, espaços e casas de cultura”.
Enquanto isso encontros poéticos, ações culturais e artísticas floreiam e se multiplicam nas periferias. No quesito UBS, com referência em 2011, o distrito tem 10 unidades públicas de atendimento à saúde, ocupando a mesma classificação que outros 34 distritos que estão abaixo da média.
Uma educadora que participou do sarau disse que um sentimento de incomodo a fez ir até lá. Uma forma de reação à desigualdade. Sem dúvida, este é um dos sentimentos fundamentais para mais este nascimento, propondo uma reflexão conjunta sobre o espaço periférico, sua condição e união de forças para um bem comum.
Hoje, o mais conhecido na Brasilândia é o Sarau Poesia na Brasa, criado em 2008. Que vingue mais este.
Semayat Oliveira, 24, é correspondente da Cidade Ademar
@Semayat
semayat.mural@gmail.com
já vingou! SÓ QUEM VIU A ANIMAÇÃO DAS PESSOAS QUE ESTAVAM LÁ, CONSEGUE ENTENDER O QUE É UM SARAU, QUE VENHAM OUTROS E MUITOS OUTROS.