Estilista do Campo Limpo cria marca de roupa inspirada na cultura de rua

Agência Mural

Retalhos de pano e sacolas plásticas se transformavam em vestidos para as bonecas. Quando menina, Mariana Machado gostava de confeccionar roupas para os brinquedos com sua irmã, Daniela. Aos 25 anos, a fashion designer lança, no Campo Limpo, periferia da zona sul de São Paulo, sua própria marca de peças inspirada na cultura de rua e na música.

Mariana levou quase dois anos para desenvolver a linha de produtos “Calvario”, que inclui camisetas e blusas de frio. Mas a relação dela com a moda começou cedo, com a influência dos pais, Maria Luiza e Paulo. “Sempre os via trabalhando com acessórios em couro e, desde pequena, queria me envolver com o desenvolvimento dos itens”, conta.

Foi um banner pendurado em uma rua do bairro que a levou a se especializar em corte, costura e modelagem. Era o curso “Ofício Moda”, da ONG Estrela Nova, com duração de um ano. O projeto tinha o objetivo de formar jovens da região.

 

O fotógrafo holandês Ahmet Polat durante abertura da exposição “O dom da periferia” (Foto: DOC Galeria/Divulgação)

O que ela não sabia era que o aluno que melhor de destacasse nos trabalhos e funções da iniciativa ganharia uma bolsa de estudos no Istituto Europeo di Design (IED). “Me agarrei à oportunidade e me esforcei. Fiz por merecer e, graças à Deus, consegui e estudei até o fim da graduação com bolsa integral”, diz.

Ela e outros três jovens do Campo Limpo foram tema da exposição “O Dom da Periferia”, que ficou em cartaz durante cerca de um mês na Doc Galeria, na Vila Madalena, zona oeste da cidade.

A mostra teve produção da jornalista holandesa Stijntje Blankendaal e recebeu apoio da Prefeitura de Amsterdã e da Mondrian Foundation. A exibição ainda deve passar por Istambul, na Turquia, e pela Holanda, sem prazo definido.

Idealizador da exposição, o fotógrafo holandês Ahmet Polat, 35, conheceu o projeto do qual Mariana fez parte em 2006. Lá, ele se surpreendeu com o talento dos alunos, como o também fashion designer Leandro Benites, 26, e decidiu acompanhar a trajetória dos estilistas. Seis anos depois, Polat voltou para saber como eles estavam, revelando, no projeto, o “antes e o depois” dos jovens.

Mostra retratou a trajetória de quatro estilistas do Campo Limpo, bairro da zona sul de SP, no mundo da moda (Foto: DOC Galeria/Divulgação)

“É interessante ver o que esses quatro designers têm realizado. E estou feliz que fomos capazes de nos encontrarmos novamente e trabalharmos para uma grande exposição”, afirma Polat.

Assim como Mariana, Leandro Benites também se deu bem no mundo da moda. Uma de suas conquistas foi a seleção para participar do Movimento HotSpot –-prêmio de inovação e criatividade para talentos de todo o Brasil. O projeto contemplou 11 áreas, incluindo arquitetura, fotografia, moda, música e design gráfico.

Benites foi um dos selecionados na categoria moda, com o tema “Colecionador de Lembranças”. A iniciativa contou com o apoio do Ministério da Cultura e patrocínio da Vale e da Riachuelo, em parceria com o Sebrae.

“Ser retratado na exposição foi bacana. Me orgulho da minha história”, diz o fashion designer, que também foi contemplado por uma bolsa de estudos no IED em 2009.  “Foi uma forma de relembrar e, até mesmo, dar um ‘up’ na vida”, acrescenta.

Para Mariana, morar em um bairro da periferia da zona sul não a impediu de crescer, pelo contrário, serviu para motivá-la. “Orgulho-me do local onde vivo, com gente humilde, alegre, honrada e trabalhadora. Pessoas que lutam para conquistar sonhos, como eu, que estou batalhando para realizar o meu”.

Patrícia Silva, 24, é correspondente do Campo Limpo
@Patricia_Aps
patriciasilva.mural@gmail.com

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