Espaço cultural independente completa oito anos em Perus

Agência Mural

Foi em ritmo de festa que a Comunidade Cultural Quilombaque completou no último sábado (14), oito anos de existência no bairro de Perus, zona norte de São Paulo, com atrações para todos os gostos.

Desde que foi fundada, em 2005, a Quilombaque tem sido palco das mais diversas expressões culturais, trazendo à população do bairro alternativas de lazer e diversão, onde ainda não há equipamentos culturais mantidos pelo poder público.

“São oito anos de resistência e enfrentamento. Hoje, a Quilombaque já está assentada, tem força para bater de frente com o que vir, pois tem uma história construída em Perus”, aponta o coordenador e um dos fundadores, Clébio Ferreira, 30.

Perus não tem  equipamentos públicos culturais e espaço independente é uma das únicas alternativas do bairro (Foto: Leonardo Brito)

Para o professor de arquitetura da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP e colaborador do espaço, Euler Sandeville, a Quilombaque é, hoje, uma referência em toda a região metropolitana de São Paulo, incentivando práticas colaborativas de participação.

“Infelizmente, a Prefeitura de São Paulo tem um projeto de parque linear que desconsidera a iniciativa, prevendo até mesmo a remoção da unidade. Queremos parques lineares, mas queremos também sua integração com os espaços de cultura, duramente construídos a revelia de qualquer apoio oficial”, aponta. (Veja aqui página no Facebook Fica Quilombaque).

Durante cinco anos, foi na garagem da casa dos irmãos Cleber e Clébio Ferreira, que as ações aconteceram. Pouco a pouco, novos atores sociais foram se juntando ao grupo e formando uma teia de atividades culturais, ambientais e educativas, tornando o espaço da garagem pequeno demais para a criatividade do grupo.

Moradores aproveitam atividades do coletivo Quilombaque (Foto: Leonardo Brito)

Em 2010, foi criada a sede, em espaço situado em viela próxima à estação de trem da CPTM, onde os moradores tinham medo de transitar por conta da falta de manutenção. Logo que a Quilombaque se instalou, foi realizado um mutirão de revitalização, com grafites e limpeza do espaço. Para o aniversário, a subprefeitura limpou a rua, depois de pedido da organização. “Mas isso era obrigação deles mesmo se não tivesse o evento”, explica Clébio, já que, até hoje, muitos dos eventos que ocorrem na rua não contam com a colaboração do poder público.

Esse é apenas um dos desafios que enfrenta um espaço independente, entre outros, como a manutenção financeira do espaço e respeito à diversidade de ideias dos integrantes voluntários e expansão da ideia. “Não compreendo como essa pratica de utilizar um espaço para cultura e reuniões não consegue chegar a todo o bairro, pois nem sempre o bairro comparece às atividades”, afirma o agente cultural e palhaço Valmir Santana, 23, que acredita que comunicação com a comunidade do entorno ainda é um grande desafio.

Para Clébio, quem está iniciando um coletivo deve traçar parcerias com diversos coletivos, pois é essa rede que sustenta a permanência dos espaços na periferia, já que os grupos se apoiam e servem de referência. “O sistema é tão ultrapassado, que não consegue entender que nós estamos criando novas linguagens e novas perspectivas de cultura, de ideias e de vida”.

Grafiteiros durante evento em Perus: espaço cultural corre o risco de fechar com a construção de parque linear (Foto: Leonardo Brito)

Presente no evento, a nova subprefeita de Perus, Jackeline Morena, 37, garantiu que a Subprefeitura vai abrir um espaço de diálogo com as iniciativas culturais do bairro organizadas pelos moradores. “Sem a presença da Quilombaque, esse espaço com certeza não seria o mesmo”.

Veja vídeo sobre o coletivo aqui.

 

Jéssica Moreira, 21, é correspondente comunitária de Perus
@gegis00
jessicamoreira.mural@gmail.com