Sarau na favela do Moinho alerta para problemas da comunidade
“Notícia quente/ Moinho queima/ Transforma favela em pó/ Outro acidente/ Governo teima/ Diz que foi vela e só.”
Com esses versos, de Thiago Peixoto, o grupo Poetas Ambulantes abriu o sarau que aconteceu na favela do Moinho, região central de São Paulo, na última sexta-feira (4) fazendo referência aos três incêndios que ocorreram na comunidade nos últimos dois anos.
O evento foi organizado por diversos movimentos e coletivos culturais em parceria com a associação de moradores e faz parte de uma série de atos programados para cobrar da prefeitura serviços básicos, como água, luz e esgoto para as cerca de 400 famílias que vivem no local.
“A favela do Moinho é a última no centro, a especulação imobiliária é muito grande, os incêndios criminosos vêm acontecendo, então estamos aqui como reforço, das quatro regiões da cidade, para fortalecer esta atividade”, afirma Fernando Ferrari, 36, do sarau A Voz do Povo.
A empregada doméstica Maria do Carmo, 51, mora há 16 anos no Moinho. Após o incêndio em 2012, se mudou para a Vila Nova Cachoeirinha, na zona norte, onde ficou por um ano, mas retornou há um mês para a favela porque com o auxílio aluguel de R$450 da prefeitura não estava conseguindo imóvel para abrigar seus quatro filhos. “Ninguém se acostumou lá, nosso lugar é o centro”, relata a doméstica, que pediu dinheiro emprestado para o patrão para reerguer seu barraco.
Maria do Carmo e outros moradores assistiam atentamente às apresentações do sarau. As crianças, nem tanto; queriam falar mais que ouvir, mas também se apresentaram, com canções evangélicas e com o funk da Anitta.
Para elas, foram entregues livros infantis, que foram arrecadados durante outros eventos dos coletivos culturais presentes. “É importante transpor o local onde a gente está para abraçar causas”, afirma o poeta Ni Brisant, do Sarau Sobrenome Liberdade, do Grajaú, zona sul da cidade.
Outros saraus estão previstos para os dias 11 e 18 de outubro e está marcada uma audiência pública com o prefeito no dia 19 do mesmo mês, para uma discussão sobre o futuro incerto da comunidade. “Queremos respostas”, afirma Alessandra Moja, 29, membro da associação de moradores da favela do Moinho. “Com os saraus, através da arte estamos explicando nossa luta”.
Lívia Lima, 26, é correspondente de Artur Alvim.
@livialimasilva
livia.mural@gmail.com