O ônibus que não conseguia subir uma rua
São 7h30, e ao chegar ao ponto de ônibus seis pessoas aguardam. Por morar perto do ponto final, é um mau sinal –significa que o coletivo está atrasado e que eu demoraria para chegar ao trabalho. Porém, o pior ainda estava por vir.
Quando o veículo finalmente chegou, ainda deu para descolar uma vaga no assento do lado do corredor, que quebra um galho, mas encerra as chances de ter alguns minutos de sono na janela.
Apenas um ponto depois já havia pessoas em pé dentro da linha 010 –Jardim Belmonte, que leva moradores da zona sul ao centro de Osasco, na Grande São Paulo, em um trajeto de 45 minutos. Dois pontos depois, a lotação estava completa.
Ao passar pelas ruas estreitas do Jardim Turíbio, próximo da escola Benedito Alves Turíbio, mais dez pessoas embarcaram. Eis que o motorista tenta vencer uma inclinada, mas pequena, subida. Contudo, aquele que sempre foi um trecho normal do caminho do coletivo se tornou um problema.
Talvez novo, o condutor se embananou. Começou a subir, acelerava, porém sem conseguir concluir os poucos metros da via. Voltou para trás. Tentou de novo, parou no meio da rampa, freou, tentou engatar a marcha, mais uma vez, um tranco, sem sucesso. O ônibus parecia ‘pesado’ demais ou o profissional estava com a marcha errada.
Logo, a tensão começou a tomar conta dos passageiros, com medo do veículo, que descia de costas. “Eeeeee, vai motorista”, gritou um rapaz.
Tentando pegar um impulso, o condutor desceu de ré para acelerar depois. O procedimento parecia ser a solução. “Agora vai”. E ele acelera. Vai, vai, vai e … para, novamente, no meio da subida. Não consegue.
A demora para vencer aquela via fez com que o próximo ônibus chegasse, o qual parou, aguardando uma resolução do primeiro veículo.
Pressionado, o motorista, parado no meio da subida, começou a acelerar, sem sair do lugar, e um cheiro de queimado tomou conta do veículo, dando a impressão de que o coletivo iria quebrar. O veículo desceu de ré novamente.
“Abre, abre, abre a porta”, pediram alguns usuários, impacientes com a situação e o tempo de atraso para ir ao trabalho. Muitos optaram por pegar o ônibus de trás.
Enfim, as portas se abriram. Vários desceram da condução. Eu pensei no que fazer, mas achei melhor aguardar no meu lugar, afinal, não há certezas.
Enquanto isso, quem desceu foi em direção ao veículo que estava atrás. No entanto, ao invés de esperar, o segundo motorista decidiu manobrar. Voltou para trás e fez a curva para esquerda, pegando um atalho por outra via, sem se preocupar com os pontos por onde não passaria ou carro que ameaçava quebrar a sua frente. As pessoas correram para pegá-lo, mas ele acelerou e foi embora.
Já o primeiro condutor, com o ônibus mais leve, decidiu tentar de novo. Acelerou, subiu e, desta vez, sem problemas, venceu a rampa e foi embora, deixando para trás quem não ficou no coletivo.
Sorte de quem, como eu, ficou sentado.
Paulo Talarico, 23, é correspondente de Osasco
@PauloTalarico
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