As orações de Dona Chica

Agência Mural

“Pai-nosso”, “ave-maria” e “salve rainha” foram orações decoradas há mais de 47 anos por dona Chica. Sua mãe a ensinou quando criança, pois queria que ela entendesse o poder da reza e como poderia ajudar as pessoas.

Foi em Jacarezinho, município do Paraná, que Maria Robles Remédio nasceu e seu conhecimento por orações começou.

Hoje, com 98 anos, ela mora sozinha em uma casa de aluguel em Guarulhos, na Grande São Paulo. Seu marido, José Gregório Filho, faleceu aos 76 anos, de câncer, e seu vício no jogo fez com que eles perdessem tudo, inclusive a casa própria.

Dona Chica também teve dez filhos, mas apenas os quatro do meio ainda estão vivos, sendo três mulheres e um homem.

Mesmo assim, com os olhos brilhando e um sorriso no rosto, ela conta que benze as pessoas para livrá-las do mau-olhado, do quebrante e do “bicho assustado”. Quebrante, na crendice popular, é inveja ou “olho gordo” e, “bicho assustado,” significa soluço.

Dona Chica, aos 98 anos, aprendeu a benzer ainda na infância, com a mãe

“Eu não benzo quando estou doente. Não sei se você sabe, mas no caso do quebrante e do bicho assustado, quando ele é muito forte, tudo o que a pessoa está sentindo passa para mim”, explica.

De início, ela começa a benzer com o “salve rainha” e sempre termina com o “pai-nosso”.

“Quando é criança, eu a deito em meu colo ou, quando ela está muito agitada, peço para que fique no colo da mãe — no caso dos adultos peço para que sentem ao meu lado — faço o sinal da cruz em mim e na criança e começo a rezar em pensamento”.

O terço que carrega em suas mãos nunca a abandona. É como se fizesse parte dela. Dona Chica conta que na maior parte do tempo está rezando. Ela assiste à missa pela televisão e aos domingos recebe os membros da igreja para consumir a hóstia.

Muito católica, hoje não tem mais condições de ir à igreja. Os pedidos de benção foram tantos no decorrer de sua vida que já não se lembra mais de quantas pessoas benzeu.

“Sempre que eu termino a oração coloco um pedaço de linha vermelha na testa da pessoa”.

Não há muitas explicações para os procedimentos que ela realiza, Maria apenas segue o aprendizado que sempre funcionou, sem questioná-lo.

Ultimamente, uma de suas filhas fica com ela todos os dias, pois adoeceu – pegou uma pneumonia –, mas isso não faz com que dona Chica se entregue à doença, muito menos que desanime.

Aos 98 anos e forte como uma adolescente, ela possui a simplicidade de menina que aprendeu a rezar quando criança e colocou toda sua fé nas orações feitas em pensamento.

 

Jéssica Souza, 22, é correspondente de Guarulhos
jsouza.mural@gmail.com

Comentários

  1. O poder da fé! A mistura do querer ajudar e do querer ser ajudado, daí as coisas funcionam. Há que ter fé de ambas as partes, e a fé tem de ser inabalável por parte do solicitante.

  2. Que Deus abençoe cada vez mais a vida da Dona Chica e que receba em dobro toda a ajuda que faz ao próximo! Bonita história de generosidade.

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