Estudantes do ensino médio da zona sul veem escola com descrença
Tainá Salim dos Santos Neporuceno, 17, não entendeu de primeira quando sua professora disse, certa vez, que alunos de escola pública aprendiam para ser “empregados”, enquanto estudantes da rede particular estudavam para ser “patrões”.
A ficha dela só caiu quando comparou o seu aprendizado com o conteúdo dado à sua prima da 8ª série, aluna de um colégio pago. “O que eu estou aprendendo agora, ela já viu. O ensino tinha de ser igual”, desabafa.
Estudante do terceiro ano do ensino médio do Comendador Miguel Maluy, situada no Campo Limpo, na zona sul de São Paulo, ela vê o ensino público com descrença. “Tem professores que não vão e a gente fica lá, esperando. A professora de química, por exemplo, eu só vi três vezes desde o segundo semestre”.
A aluna afirma que só voltou a ter aulas efetivas da disciplina em outubro. “Eles [professores] nem explicam a lição. A gente copia e pronto. Acabou”, relata.
Karina Silva Santos, 17, está no primeiro ano e estuda em outra escola da região, o Fernando Gasparian. Ela não é diferente de outras adolescentes da sua idade. Não vai para escola sem maquiagem e tem sempre os cabelos cuidadosamente penteados.
A jovem perdeu dois anos de estudos quando sua mãe, diarista, insatisfeita com a vida em São Paulo, decidiu voltar para o município de Tabuleiro, em Minas Gerais. Como não conseguiu emprego na cidade natal, elas retornaram para o Campo Limpo.
Seu colégio estadual está cercado de casas de tijolos vermelhos e condomínios ao fundo. Há quadra de esportes e os professores mantêm um blog na internet do qual compartilham às atividades desenvolvidas em sala.
Mesmo assim, Karina diz que nem sempre tem aulas regulares. “Tem dia que eu vou para escola e a gente só tem uma aula”, lamenta.
A jovem usa apostilas na escola, mas cobra um material didático melhor, que propicie maior interação entre professores e alunos.
Comunicativa, Karina deseja entrar na universidade, assim como o irmão. Quer estudar medicina veterinária, mas acha que não está preparada.
“Eles [professores] só dão a apostila e pedem para fazer as páginas. E, às vezes, você ganha pontos ao fazer. Enquanto isso, tem professor que corrige prova, mexe no celular”. “Eles são muito cansados e sem paciência”, complementa.
Tainá decidiu que vai ser “engenheira civil”, mas não sonha com a universidade pública, muito menos se sente pronta para prestar o Enem. “Eu vou trabalhar para pagar a faculdade e meu pai e minha irmã vão me ajudar”, diz. Seu pai trabalha como pedreiro e sua irmã é inspetora escolar.
Em nota, a Diretoria Regional de Ensino Sul 1 afirma que consta com um quadro de profissionais para suprir a ausência de professores efetivos, como em casos de licenças médicas, faltas justificadas ou abonadas. Diz, ainda, que a professora de química tirou uma licença de 30 dias neste semestre, mas já retornou às atividades.
O órgão informa que já providenciou uma equipe de supervisores para acompanhar a reposição do conteúdo escolar nas unidades.
Patrícia Silva, 25, é correspondente do Campo Limpo
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