Grafiteiros se juntam para conseguir recursos e espalhar arte de rua
A rua Minas Bogasian fica bem no meio do centro de Osasco, na Grande São Paulo. É uma via estreita, cercada de prédios e perto da principal área comercial do município. Foi nela que, no último domingo (15), ocorreu uma ação que pode ser o início de uma mudança no cenário cinzento da cidade.
“A gente tem uma pré-noção de que a arte só ocorre no centro [em São Paulo]”, diz a grafiteira Bruna Soraya, 22. “É legal descentralizar, tem que estar na periferia”, comenta, pouco antes de começar a grafitar em alguns latões no primeiro evento “Arte Da Lata”. “Minha expectativa é que seja a fagulha de algo maior”, completa Bru, como é conhecida.
A intervenção foi promovida pelo site sub.v, portal criado por alguns moradores da região e que busca ‘promover arte, mídia livre e livre informação’. As peças disponibilizadas para o grafite foram conseguidas em um ferro velho e o stúdio de tatuagem Banana Piercing cedeu o espaço.
“[Queremos] fazer outras edições e chamar cada vez mais artistas. A ideia principal é ajudá-los a se promover, leiloar os tambores e reverter para eles”, diz Carlos Dias, 25, um dos membros do site. Além disso, o canal busca outras formas de ajudar os colaboradores, como a criação de uma loja para vender os produtos, como camisetas e objetos.
“Sinto muita falta disso [eventos de grafite] aqui na região oeste”, reforça o artista Guilherme Araújo Souza, 19, que veio de Barueri, também na Grande São Paulo. Também conhecido como Monster, ele começou com tatuagens até conhecer e se interessar pela arte urbana.
Monster ressalta que é difícil sobreviver apenas com os desenhos. “Você pode olhar lá em Nova York [nos Estados Unidos], o artista de rua vive disso, não precisa fazer um trampo comercial para viver. Falta isso aqui”.
Para o artista plástico Carlos Marinho da Silva, 35, o CMS13, o ponto forte do grafite está na questão social. “O público jovem acaba olhando para os trabalhos e, de repente, dá uma vontade do cara querer produzir”, avalia.
Entre outras questões, a pintura dos tambores mostra que é possível a recomposição de algo que estava descartado. “Meu trabalho está muito baseado em reciclagem. Eu não posso ver essas caçambas de lixo que eu acabo pegando, transformo e vendo. É mostrar como você pode pegar o lixo e transformar em luxo”, reforça.
Quanto a Bru e Monster, eles têm uma visão semelhante sobre o papel do grafite na cidade. “Tem de ter espaço para a arte, para quando a pessoa estiver indo ‘trampar’, olhar para uma parede e ver um desenho que mude seu dia”, descreve Bru.
“[Ajuda] a passar uma mensagem para a população, às vezes, escondida, às vezes bem clara”, completa Monster.
Paulo Talarico, 23, é correspondente de Osasco
@PauloTalarico
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Thaís Santana, 23, é correspondente de Anhanguera
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