Passageiro da CPTM cria música que retrata cotidiano dos trens

Agência Mural

Conhecidos na gíria paulistana como “marretas”, os vendedores ambulantes que circulam pelos trens lotados da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) variam de idade, sexo e endereço. São crianças, idosos, homens ou mulheres, que acordam às 6h para percorrer os trilhos carregando salgadinhos, amendoins e garrafinhas de água a R$ 2.

Só param de trabalhar quando os trens deixam de circular, à noite.

Foi esse cenário que inspirou o eletricista Thiago Rodrigues, 28, a criar a canção “Linha 7-Rubi”. A música traz um histórico dos acidentes na linha que liga o centro à Grande São Paulo e retrata o cotidiano dos trabalhadores ambulantes. “Brahma, coca e água, amendoim cinquenta, na Linha 7-Rubi, liga Luz-Jundiaí. Na Linha 7-Rubi, registrei tudo ali”, canta Rodrigues em um dos trechos.

 

Morador de Perus, bairro da zona norte de São Paulo, quando adolescente Thiago encontrou nos trens uma forma de sustentar financeiramente sua paixão pelo skate. Tornou-se vendedor ambulante por cerca quatro meses, no ano 2000. Em um dia vendia salgadinhos; no outro, amendoim.

Para ele, apenas um trabalho temporário. Para muitos , a única forma de sustento. “Era um bico. Nesse tempo, queria comprar meus “shapes” de skate. Como minha mãe achava perigoso, não tinha onde arranjar dinheiro para comprar tênis, peças de skate, enfim, dinheiro para sustentar o esporte.”

Thiago conta que, durante o período que trabalhou nos vagões, nunca sofreu agressões, mas viu outros colegas sendo agredidos ou colocados para fora do vagão.

“Eles [os guardas] nunca me agrediram. Mas já pegaram em meu braço e tomaram minha sacola por duas vezes. Já vi marreteiro sendo agredido ou colocado para fora da estação. Acredito que deveria haver uma licença para os vendedores, alguma coisa para o marreta ser reconhecido como trabalhador, não como infrator, que é a forma como nos tratam.”

Produzida no fim 2012, a música “Linha 7-Rubi” foi criada em meio ao transtorno gerado pelas obras de manutenção e modernização das vias. Enquanto Thiago observava a fila do ônibus Paese, que substituia os trens nesses dias, criou o refrão. Os colegas ao seu redor se identificaram e começaram a improvisar em cima das batidas do violão.

 

Jéssica Moreira, 22, é correspondente de Perus.
@gegis00
jessicamoreira.mural@gmail.com

Comentários

  1. A Linha 7 é caótica. Trêns com mais de 60 anos de fabricação, atrasos constantes, super lotação, comunicação ruim com os usuários, trêns quebrando sempre no meio do caminho, um ou outro trêm novo só pra dizer que tem, velocidade lenta nas viagens de forma sistemática, falhas técnicas as pencas, estações velhas e com ajustes improvisados, segurança terceirizada que é omissa e a mesma coisa que nada. Isso tudo sem contar que a há anos a linha raramente funciona em toda a extensão aos domingos e os ônibus do PAESE são insuficientes. Quem mora no Jaraguá, aos domingos, não sabe mais oque é usar trem e aos sábados os intervalos a partir das 18:00 são imensos e as paltaformas ficam abarrotadas. São anos justificando tudo isso como sendo em razão de reformas. Oras quantas décadas vai demorar até o serviço ser minimamente decente na linha 7 rubi?

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