Peça do Grupo Pandora conta história da pioneira fábrica de cimento de Perus
Em uma época na qual o bairro de Perus, zona norte de São Paulo, não tinha sequer um Centro Educacional Unificado (CEU), era no município ao lado, Caieiras (Grande São Paulo), que a maior parte dos jovens peruenses se reunia para buscar formação artístico-cultural.
Foi indo ao teatro desta cidade, que o ator Lucas Vitorino, 28, sentiu, pela primeira vez, vontade de estar em cima do palco. Sua história se cruzou com a do ator Filipe Dias, 31, que no mesmo período abandonou as aulas de violão para se dedicar às artes cênicas. É do encontro de Lucas, Filipe e demais jovens do bairro de Perus, que nasce o Grupo Pandora de Teatro, que neste ano completa dez anos.
A ideia de consolidar um grupo tomou fôlego em 2004, a partir do Projeto Teatro Vocacional, oferecido pela secretaria municipal de cultura nos CEUs da capital. “A orientadora vocacional dizia que para fazer teatro não tinha a necessidade de cortina, pois teatro se faz em qualquer lugar”, recorda Dias.
A máxima acompanha o grupo até hoje, que mesmo não fazendo parte do Vocacional, acredita que é preciso estabelecer um contato com o público que vá além do palco. Para a peça Relicário de Concreto, o Pandora passou alguns meses entrevistando moradores de Perus para a produção do espetáculo, que retrata a história dos trabalhadores da Companhia de Cimento Portland Perus.
“Não precisa facilitar uma linguagem artística, em uma lógica que subestime o público. O teatro necessita de uma linguagem que chegue junto”, aponta Vitorino.
Durante esse tempo de trabalho, o grupo já soma a produção de sete espetáculos, formação de núcleos teatrais pelo bairro e o criação de parcerias entre escolas da rede púbica e coletivos culturais da região. As peças tratam de temas como a história do bairro e dramas como a exploração do trabalho, entre outros.
Questionados sobre os desafios da profissão, os atores apontam que uma das maiores dificuldades é o baixo financiamento destinado à cultura em São Paulo, principalmente nas regiões mais periféricas. O grupo, porém, vem driblando isso e já conquistou editais como o Programa VAI de valorização de iniciativas culturais , Proac (Programa de Ação Cultural), Lei Municipal de Fomento ao Teatro e Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz.
“Em dez anos de grupo, a gente teve que se dividir muito entre o teatro e entregar currículos, fazer bicos, trabalhar de telemarketing. O que nos faz pensar que se você não ganha dinheiro fazendo teatro, você vai ter tem que ganhar dinheiro com outras coisas que te afastam do teatro”, explica Lucas, a quem os editais são muito importantes para a continuidade dos grupos.
Além de atores profissionais, os integrantes do Pandora possuem formações diversas – como arquitetura, comunicação social, pedagogia, psicologia e até educação física – o que potencializa o processo de criação. “Todos têm DRT (Delegacia Regional do Trabalho), o que é uma conquista muito grande pra um grupo de periferia, que, na maior parte das vezes, é visto como grupo amador, mas nós conseguimos nos profissionalizar e somar com as outras formações”, diz a atriz do grupo Thalita Duarte, 26.
O grupo pretende expandir cada vez mais a produção voltada à periferia, não só em São Paulo, mas como em todo o país.
Neste sábado, o grupo apresenta o espetáculo Relicário de Concreto no CEU Pêra Marmelo – sala multiuso – r. Pêra-Marmelo, 226, Jardim Santa Lucrécia, região norte, tel. 3948-3967. 40 lugares. Sáb. (15): 18h. 70 min. Não recomendado para menores de 12 anos. Retirar ingr. 30 min. antes. GRÁTIS
Jéssica Moreira, 22, é correspondente de Perus
@gegis00
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