Família de Poá faz festa para ajudar mãe a visitar filho que estuda medicina em Cuba
O evento “La Fiesta Cubana” tinha, na noite do último sábado (15), mais de 300 pessoas confirmadas para comparecer ao Salão Áurea, do Esporte Clube Concórdia, no centro de Poá, na Grande São Paulo.
O objetivo da festa, organizada pela família e pelos amigos do poaense Rogério Araújo, 28, estudante de medicina em Cuba, era arrecadar dinheiro para que a mãe dele, a doméstica Maria Aparecida da Silva, 54, pudesse viajar ao país e aplaudi-lo em sua formatura, em julho.
“Pretendemos arrecadar, pelo menos, o valor da minha passagem”, diz Maria, lembrando que o preço de um voo para Cuba sai por, no mínimo, R$ 2 mil.
O dinheiro angariado, que somou ao menos R$ 2 mil até o fim da festa, também vai contribuir nos custos de Araújo até que revalide seu diploma no Brasil. “Desde quando ele foi para Cuba, fizemos vaquinhas para comprar roupas e para ele se manter, pois ele só estuda, tinha que se dedicar”.
Com olhos marejados, Maria conta que o cargo de auxiliar de pedreiro foi o primeiro registro em carteira de seu filho. “O engenheiro da obra onde ele trabalhava desacreditou que um dia ele pudesse se tornar doutor”.
Há sete anos, antes de ser selecionado como um dos bolsistas da ELAN (Escola Latino-Americana de Medicina), Rogério Araújo frequentou por três anos o cursinho comunitário da UNEAfro (União de Núcleos de Educação Popular para Negros e Classe Trabalhadora), em Poá.
Passou depois por um curso preparatório para viagens internacionais na ENFF (Escola Nacional Florestan Fernandes), do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), por quase um mês. “Em 14 anos de cursinho, Rogério é o quarto estudante do município que se forma médico em Cuba”, informa Douglas Belchior, organizador da UNEAfro.
Cleber da Costa Firmino, 32, presente na festa, estudou medicina em Cuba de 2002 a 2008 – pelos mesmos meios de Araújo – e levou dois anos para validar seu diploma no Brasil. “As pessoas que vem da escola pública tem mais dificuldade, demoram para se adaptar. Da mesma forma que tem questões técnicas, tem afetivas, culturais e também políticas, de você ter de abandonar o seu país para estudar em outro lugar”.
Diante do fato de o país estar recebendo médicos cubanos pelo Programa Mais Médicos, do governo federal, Firmino lamenta as deficiências do Sistema Básico de Saúde (SUS) e o fato de muitos médicos brasileiros não trabalharem nas periferias. Também reclama da pouca presença de negros nos cursos de medicina. “Aqui negro não teria a mesma chance”, descreveu ele, que hoje realiza atendimentos e faz pós-graduação em psiquiatria. “Que o Rogério volte e ajude a melhorar a saúde pública em nossa país”, pontua.
O evento contou com a presença de ativistas e artistas da região, dentre os quais a banda Verbalize.
Com fotos de Che Guevara na parede, em meio a bandeiras de Cuba e do Brasil no teto, o que atraia os convidados à festa não era nem o churrasco nem o mojito (bebida tradicional cubana), mas o motivo pelo qual o evento se realizava, “como se a conquista de Rogério fosse um sonho sonhado por todos”, define Guaraci Donizete da Silva, 49, tia do novo médico brasileiro.
Tamiris Gomes, 23, é correspondente de Poá
@tamigomes_
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Oi Companherada. Parabens pela maravilha da festa. Não pude ir mas meu coração se enche de alegria pelo trabalho e esforço que todos fizeram para que a mãe do Rogerio esteja na sua formatura em Havana. Um abraço forte e solidario