Manifestação de rua é tema de enredo de carnaval em Guaianases

Agência Mural

O Cordão Carnavalesco Boca de Serebesqué, bloco de Guaianazes, na zona leste de São Paulo, terá como enredo as manifestações populares que tomaram as ruas do país em junho de 2013.

Na rua, nesse espaço de disputa/ Palco de glórias, samba e luta/ Mais uma vez vamos sonhar/ Que a rua seja toda prosa/ Sem calçada toda nossa”. Com esses versos, o bloco animará o sábado (1°) de carnaval na região.

Organizado por amigos e membros de diversos coletivos artísticos que formam o Movimento Cultural dos Guaianás -em referência aos indígenas que viviam na região e inspiraram o nome do bairro- o grupo sempre se propõe a abordar temas que marcaram a vida pessoal dos integrantes e também questões sociais nas quais eles atuam, se opondo ao caráter comercial do carnaval.

Bloco de carnaval de Guaianazes, na zona leste, terão as manifestações de junho como enredo
Bloco de carnaval de Guaianazes, na zona leste, terá as manifestações de junho como enredo

“Discutimos sempre algum assunto que marcou o nosso ano anterior, seja na vida pessoal ou na militância. Alguma coisa da nossa experiência e também da sociedade”, explica a cientista social e professora Monici Gomes, 29.

Desde 2009, o cordão parte da Casa do Norte na rua Deodato Cosme Tadeu e passa por algumas vias da região, encerrando o desfile na praça do Mercado Municipal de Guaianases. Eles, inclusive, entram no local e mobilizam funcionários e fregueses.

O nome “Boca de Serebesqué” foi um termo emprestado de um amigo do grupo que define quem fala demais ou pelos “cotovelos”.

Nos dois primeiros carnavais, os participantes pegaram instrumentos emprestados. Com o tempo, foram juntando dinheiro e fazendo vaquinhas até conseguirem os principais instrumentos da banda.

Com instrumentos próprios, o bloco percorre ruas da região e entra no Mercado Municipal do bairro
Com instrumentos próprios, o bloco percorre ruas da região e entra no mercado municipal do bairro

“O cordão é espontâneo, não tem grande pretensão, é mais pelo divertimento. A gente não ensaia muito, é difícil ter tempo”, comenta o professor Tita Reis, 35, que dá vida à letra do samba construído coletivamente por todos os organizadores.

“O pessoal vem com muitas ideias, com discursos, aí a gente tenta suavizar e colocar uma métrica musical, fazendo crítica com irreverência”.

Este ano é a primeira vez que o cordão faz parte da programação oficial do carnaval de rua da cidade. Os organizadores decidiram se cadastrar no portal da prefeitura para que tivessem a possibilidade da interdição de carros nas ruas por onde o bloco irá passar.

“Nos últimos anos, a gente só foi da Casa do Norte até o mercadão, porque uma vez um carro tentou atropelar algumas pessoas”, relata Gomes.

O enredo que animará os “marrecos” –animal mascote do cordão–, além das manifestações, também faz referências à rua como espaço para brincadeira das crianças e para o próprio carnaval, com “trânsito de carros alegóricos”, onde “a buzina é a batida do surdão”.

A concentração será às 14h30, na Casa do Norte da rua Deodato Cosme Tadeu. Às 16h, o encontro será no mercado municipal.

Lívia Lima, 27, é correspondente de Artur Alvim
livia.mural@gmail.com
@livialimasilva