Dia do Grafite é comemorado na zona leste com debate sobre a arte

Agência Mural

Na noite deste sábado (22), o Instituto Pombas Urbanas da Cidade Tiradentes, bairro da zona leste, realizou um debate em comemoração ao Dia do Grafite, que será celebrado na quinta-feira (27). Foram discutidos temas como a resistência à arte de rua, a construção de identidades e a presença da mulher no grafite.

A disseminação do ofício na região e o apoio de moradores foi comemorado pelo  grafiteiro Anderson Hope, 38, que atua no bairro há 20 anos. Segundo ele, cada vez mais a população tem tomado partido para defender os artistas.

“Tem cara que vê meu trabalho sendo apagado e não deixa, depois vem me avisar”, contou.

Também foram convidados para participar do evento o diretor do filme “Cidade Cinza”, Marcelo Mesquita, 32, o coordenador de cultura na Ação Educativa e organizador do livro “Grafitti em SP: Tendências Contemporâneas”, Antônio Eleilson, 46, e o morador e auxiliar de juventude da subprefeitura do bairro, Luiz Henrique, 28.

“O hip-hop, aqui na periferia, é nossa única alternativa muitas vezes, mas mesmo assim tem muito preconceito. Quando eu cantava num grupo de rap, meu pai nunca foi em uma apresentação, porque para ele isso é coisa de marginal”, contou Luiz Henrique.

Para Marcelo Mesquita, o diálogo tem se ampliado, mas a postura do poder público em apagar a arte de rua pela cidade, por exemplo, ainda é o sinal da imposição social do cinza. “O grafite e o pixo existem onde é mais necessário o diálogo. Por isso São Paulo é o grande centro do grafite no Brasil. É uma cidade desigual, desumana”, afirmou ele.

Debate na zona leste marca comemoração ao Dia do Grafite no Brasil
Debate na zona leste marca comemoração ao Dia do Grafite no Brasil, celebrado em 27 de março

Da plateia, Sandro Cajé, 49, professor universitário e morador do bairro, disse que o ato de retirar as marcas dos muros é uma forma de apagar a identidade dos sujeitos. “Quando você tira do outro o direito de deixar sua marca, você anula a humanidade dele”.

Outro ponto importante discutido foi a situação da mulher nesse cenário. Segundo Eleilson, a presença feminina no grafite ainda é pequena e precisa ser valorizada. “Nessa mesa deveríamos ter uma mulher”, questionou ele.

Foi uma unanimidade para a mesa que a questão de gênero ainda é um problema no hip-hop. “O risco a que uma mulher está exposta nas ruas ainda é muito maior do que dos homens”,  afirmou  Mesquita. O machismo e o risco da violência sexual também são desafios que a mulher enfrenta para ocupar esse espaço.

O encontro começou com o lançamento do livro “Grafitti em SP: Tendências Contemporâneas”, de Antônio Eleilson, seguido pela exibição do documentário “Cidade Cinza”, que acompanha a repintura de um enorme mural apagado na av. 23 de Maio.

A próxima exibição do filme acontecerá na terça (25), às 19h, no Centro Cultural Diadema, na Grande São Paulo. É possível acompanhar a agenda e locais das exibições pela página do filme na internet.

Regiany Silva, 25, é correspondente da Cidade Tiradentes
@regianysilfre
regianysilva.mural@gmail.com

Comentários

  1. Com problemas que se arrastam por décadas e várias legislaturas a ZL ensinou as mulheres a sair daqui ir trabalhar em outros bairros para ganhar mais dinheiro. Fica aí com esses debatezinhos que não servem para nada enquanto a fila nos postos não tem fim…

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