Grupo usa latas recicladas para levar música a Osasco

Agência Mural

“Já faz tempo que eu saí / De casa pra viver / No mar…”

A voz do músico e educador Fábio Galho, 35, vem acompanhada do som de tambores diferentes. É com latas usadas, decoradas com material reciclável, como coador de café, que alguns educadores começaram a levar vários ritmos musicais pelas ruas e em eventos na cidade de Osasco, na Grande São Paulo.

Eles fazem parte do “Atirei o Pau na Lata”, grupo que busca resgatar músicas do cancioneiro popular, com a mistura de várias linguagens como a dança, o teatro e o circo, nos espaços públicos do município.

A ação começou em agosto do ano passado e foi inspirada no coletivo “Pau e Lata”, de Natal (RN). A ideia partiu de dois potiguares que vivem em Osasco e que participavam do grupo nordestino. Hoje, 15 pessoas –entre intérpretes, dançarinos, artistas circenses– ensaiam todas as quintas e sábados em um espaço chamado Casa de Angola, cedido pela prefeitura.

Grupo se apresenta na Câmara Municipal (Foto: Divulgação)
Grupo se apresenta na Câmara Municipal de Osasco, na Grande São Paulo (Foto: Divulgação)

“Procuramos resgatar mesmo aquele ritmo que está esquecido. A nova geração não  sabe o que são os ritmos regionais, maracatu, afoxé, coco, ciranda, baião”, conta Fábio, que veio do Rio Grande do Norte há pouco mais de um ano e começou o grupo junto com Isis de Castro, 66, que mora há quatro anos em Osasco.

Por enquanto, eles têm buscado se inscrever em editais para participar de eventos e já se apresentaram na Câmara Municipal, no Centro de Formação dos Professores e, até mesmo, em blocos de carnaval de São Paulo. Durante as apresentações, os artistas se vestem com figurinos variados, baseado na ideia do colorido, da alegria, inspirada no Teatro Brincante de Antônio Nóbrega e no Barbatuques.

“O nosso foco, além de toda a questão cênica, é voltada para apresentação de rua. A gente faz cortejo, brincadeiras, põe a galera pra tocar junto, é muito interativo”, afirma Isis. Ela enfatiza, também, o aproveitamento de materiais recicláveis para realizar o espetáculo. “Fazemos essa construção para mostrar que, por meio do lixo, é possível criar situações de entretenimento, de prazer, de alegria, de batucada, de som, de música”.

Os tambores foram cedidos pela Ahpce (Associação Holística de Participação Comunitária Ecológica), entidade em que os educadores atuavam no projeto Escolinha do Futuro, no ano passado, onde se conheceram.

Os músicos Raul Cesar Santos Pereira, 24, e Lucas do Carmo, 19, entraram recentemente no “Atirei”. Eles tinham uma origem voltada ao rock, mas contam que tem se envolvido com o estilo. “Porque resgatar os ritmos brasileiros, além de ser bacana, traz muito da nossa história, do nosso país”, comenta Raul.

Segundo o grupo, existe ainda uma resistência aos ritmos apresentados. “Principalmente ritmos afro”, relata o Mestre Tiê, ou Lucidio Alves, 66, morador há mais de 40 anos da cidade e que já atuou em vários movimentos artísticos. “É uma função da arte quebrar os preconceitos”, conclui Isis. Veja mais sobre o grupo aqui.

 
Paulo Talarico, 24, é correspondente de Osasco
@PauloTalarico
paulotalarico.mural@gmail.com