Dengue e a saga por atendimento na zona norte de São Paulo
No dia 17 de abril, uma quinta, tinha muitas dores no corpo. Não me preocupei, pois pratico exercícios todos os dias e, na semana anterior, mudei meus treinos. Tomo vitaminas e não ficava resfriada há vários meses. Ou seja, para mim, eram apenas dores musculares.
Na mesma semana, um surto de dengue atingia meu bairro, a Vila Zilda, zona norte de São Paulo. Nem isso me preocupou.
À noite, porém, as dores aumentaram. Tive febre de 39ºC. Fiquei mal durante a madrugada e não consegui me levantar no dia seguinte. Para tomar café, pedi ajuda para minha mãe. Ela também ajudou a me vestir. As dores eram tão fortes que não conseguia fazer nada disso sem auxílio. É dengue, disse para ela.
No pronto-socorro filiado ao meu convênio, levei menos de uma hora para ser atendida. Meus exames também foram rápidos. Era dengue mesmo. Não consegui dormir de novo.
Minha mãe e eu conhecemos mais de 20 pessoas com dengue, somente no nosso bairro. Só se fala nisso.
Meu tio Daniel Antonio, 37, morador de Bortolândia, na zona norte, também pegou a doença. Ele foi até um hospital público no Jaçanã. Havia mais de 80 pessoas, a maioria com sintomas de dengue. Foi uma saga para ser atendido.
Primeiro ele foi orientado pelos atendentes para que nem procurasse o hospital em Santana, pois lá estava pior: não tinha médico. Acabou indo a um outro pronto-socorro no bairro, onde tinha gente deitada até na calçada, esperando atendimento há mais de 12 horas, conta ele.
Daniel então tentou outro hospital, na Vila Maria, e novamente foi avisado que não havia médicos. “Prefiro morrer em casa a procurar médico para me atender. Não tenho um convênio, porque acho muito caro”, conta Antonio.
Foi para casa e tomou remédio por conta própria, orientado por familiares. Já se passaram duas semanas e ele melhorou, mas até hoje não sabe se realmente teve dengue. Nos hospitais por que passou foi informado que o diagnóstico demoraria de 15 a 20 dias.
Com Fernando Henrique Tanci, 22, auxiliar operacional, não foi diferente. Ele tentou quatro hospitais e postos da rede pública, mas não consegui atendimento. A distância entre eles, de ônibus, é de quase uma hora.
A dona de casa Márcia Irani Bizarro, 51, está assustada com o surto de dengue na Vila Nova Mazzei, onde mora. “Liguei no 156 e pedi ajuda para virem aqui dedetizar, mas falaram para eu ir até um AMA mais perto da casa e fazer o pedido por lá”, afirma.
SEM TRABALHAR
Morador do bairro vizinho, Jardim Fontális, Airton Moreira, 25, preparador físico, ficou uma semana sem trabalhar por causa da doença. “Fui ao hospital público da região e demorei seis horas para ser atendido. Tenho vários amigos que pegaram também”.
“O médico só me deu atestado de três dias. Disse que a escola iria entender, pois todo mundo está sabendo do surto da dengue. Com medo, acabei indo para a escola depois de uma semana, mas a diretora viu que eu estava mal e pediu para eu ficar em casa. Fiquei 20 dias muito mal”, comenta a estudante Ágata Alves, 15, moradora do Jardim Boa Vista, próximo da região. “Meus tios que moram no Jardim Joamar também pegaram”.
Segundo a estudante, ela foi para o hospital público da região, mas preferiu terminar o tratamento em uma AMA mais perto, pois estava muito fraca e não aguentava esperar até oito horas para ser atendida.
Priscila Gomes, 30, é correspondente da Vila Zilda
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