Vizinhos do estádio ficam de fora de abertura da Copa em Itaquera

Agência Mural

Vai ter Copa, mas poucos moradores da região de Itaquera, onde fica o estádio padrão Fifa, estarão nesta quinta na abertura, marcada para as 15h.

A grande maioria dos moradores do bairro, que tem cerca de 500 mil habitantes, não foi contemplada nos sorteios de compra dos ingressos do evento, ou não teve como arcar com os preços que variavam de R$ 80 a R$ 990, na tabela oficial. Há mais de 60 mil lugares na arena.

O auxiliar de farmácia Vagner da Silva, 36, é um dos que ficaram de fora. Corintiano, joga todo sábado com os amigos. Apesar de ter se inscrito nos sorteios, não conseguiu ingressos para nenhum jogo.

“Parece que foi combinado, ninguém conseguiu nada. Estamos tão perto e tão longe.” Seu irmão, o técnico em logística e também corintiano Raphael da Silva, 28, concorda. “É jogo só para a elite, para um ou outro que eles abrem exceção.”

Os irmãos Vagner e Raphael da Silva posam para o estádio no fim da rua onde moram
Os irmãos Vagner e Raphael da Silva, em foto tirada no fim da rua onde moram

 

Já o adolescente Agnaldo Barbosa, 16, morador de Cidade Tiradentes, que divide sua rotina entre os estudos e o trabalho na banca de lanches do tio no terminal de ônibus da estação Corinthians-Itaquera, nem tentou comprar ingressos e trabalhará normalmente durante a partida.

“Quando tem jogo, aqui fica tranquilo. Os turistas nem vão passar no terminal, vão direto para o estádio”, acredita.

O grafiteiro João Paulo de Alencar, 30, conhecido como Todyone, é educador de uma organização social que mantém um espaço em frente ao Itaquerão. Pessimista, ele se incomoda com os transtornos no entorno.

“Trabalhar em frente ao estádio é imprevisível, pois tudo pode acontecer, oportunistas que se apropriam dos locais estratégicos, ruas ao redor viram estacionamentos, o que atrai assaltos, venda de drogas, prostituição. O dia a dia é um caos”.

Postura diferente tem a dona de casa Maria José Picossi, 61 –a Jô- que, apesar de não assistir o jogo do lado de dentro do estádio, está motivada para torcer pela seleção brasileira com a família.

“Eles ignoram a gente, mas estamos animados, enfeitando tudo”, comenta Jô, que até convidou a reportagem do Mural a participar do churrasco, com cerveja e pagode, que acontecerá na casa nova da cunhada durante o jogo.

Lívia Lima, 27, é correspondente de Artur Alvim
livia.mural@gmail.com