Tradicionais tapetes de Corpus Christi voltam a decorar ruas de Mairiporã
A cidade de Mairiporã, na Grande São Paulo, é a uma das muitas no Brasil que mantém a tradição de fazer tapetes para o dia de Corpus Christi, quando segundo a fé católica, é celebrada a Eucaristia. Ela representa o corpo e o sangue de Cristo.
A tradição veio de Portugal durante a colonização e é muito difundida por todo o país. Mas montar os tapetes não é uma tarefa fácil; exige tempo e união da população.
Por muitos anos, Mairiporã esteve prestes a abandonar a tradição, como em 2013 quando as chuvas fortes impediram a elaboração do tapete. Com a união dos moradores e a participação de voluntários, a maioria jovens, a tradição se manteve viva por mais um ano.
“Desde a época de meus pais já se fazia esse ritual. Os costumes só engrandecem e aumentam nossa fé. Era trabalho de uma semana, pintando serragens e coletando outros materiais, tudo para fazer o tapete para nossa procissão”, comentou assistente de compras Leandro Augusto da Silva, 38.
“Todo dia de Corpus Christi fico imensamente feliz. Primeiramente por que a Igreja festeja a Eucaristia, e também pelas lembranças que tenho da minha juventude, quando preparávamos o tapete com muita união e fé.”
O trabalho de preparação é intenso e começa muito tempo antes, com o recebimento e a organização das doações de materiais, como serragem, cal, tampas de garrafa e pó de café. Há também materiais inusitados, como pipoca e casca de ovo.
Depois de tudo planejado, na noite da véspera do dia de Corpus Christi o tapete começa a ser feito. O trabalho dura toda a madrugada e segue pela manhã. Durante a tarde é realizada a missa, seguida da procissão, que percorre o caminho do tapete e atrai centenas de fiéis.
O funcionário público Paulo César Morellato, 25, é voluntário há muitos anos. Para ele, as tradições precisam do interesse dos jovens para continuar.
“Lembro até hoje da primeira vez em que participei, era a primeira vez que eu amanhecia na rua longe dos meus pais montando aqueles tapetes incríveis. A partir daí, todos os anos eu estava lá com os amigos”, contou.
“Em 2013, não pudemos construir o tapete, fiquei decepcionado, mas não teve outro jeito. Fico com receio de as tradições acabarem, isso não é bom nem para as pessoas e nem para a cidade, principalmente para os jovens que estão perdendo o interesse. Tradições como esta não podem ser apagadas, precisam continuar”, concluiu.
Humberto Müller, 23, é correspondente de Mairiporã
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