Morador do Campo Limpo escreve trilogia sobre bairros periféricos

Agência Mural

Escritor de sete livros e autor da trilogia “Paraisópolis – Caminhos de Vida e Morte”, “Bixiga – Um Cortiço dos Infernos” e “Ângela: um jardim no vermelho”, José Marques Sarmento, mais conhecido como Zé Sarmento, é morador do Campo Limpo, zona sul de São Paulo.

Zé nasceu na Paraíba e cresceu no campo, entre irrigados e a secura nas estiagens que maltratavam o Nordeste. Trabalhou como boia fria até os 19 anos. Por ter pais analfabetos e na ausência de escolas, alfabetizou-se somente aos 14 nos e, de lá pra cá, nunca mais parou de ler e escrever.

Ainda jovem veio para São Paulo, se casou e se tornou técnico cinematográfico. Após completar 50 anos, decidiu concluir os estudos pelo EJA (Educação de Jovens e Adultos) e, com uma bolsa integral, se graduou em História.

Por todo seu histórico, por ser o primeiro da família na universidade e pelo curso que escolheu, surgiu o interesse em contar histórias da comunidade e da periferia.

Misturando ficção com a realidade, os personagens da trilogia são retirantes que escolheram São Paulo para fugir da miséria.  Por meio deles, Sarmento mostra o desenvolvimento da cidade e o crescimento desordenado com as invasões de áreas de riscos, de mananciais e córregos.

Zé Sarmento escreveu trilogia sobre bairros de São Paulo
Zé Sarmento escreveu trilogia sobre bairros de São Paulo

“Senti a necessidade de mostrar o ambiente de becos e vielas, no qual os personagens vivem, atuam socialmente, constroem suas moradias depois de muita luta das invasões e dos loteamentos populares feitos por espertos agentes imobiliários”, conta.

O autor explica que no primeiro livro da trilogia, o bairro de Paraisópolis se apresenta como solução para a casa própria, em um terreno intermediário da cidade.

No segundo, no Bixiga, no centro de São Paulo, o morador pode se consolidar por meio de invasões dos sem-teto. Já no terceiro, há a luta pela casa própria, nas encostas da represa de Guarapiranga, tendo como cenário o Jardim Ângela.

Para divulgar suas obras, Sarmento explica que onde ocorrer uma aglomeração “fervendo arte”, ele estará lá. Frequentador dos saraus da periferia e do centro, ele lê seus textos e divulga suas publicações. Em bibliotecas públicas, já foi convidado para falar de literatura para estudantes do ensino fundamental, médio e do EJA.

Zé Sarmento ministra palestras em escolas e bibliotecas públicas
Zé Sarmento ministra palestras em escolas e bibliotecas públicas

Este ano, doou 70 livros para uma escola pública em Paraisópolis. Agora, os alunos estão fazendo uma vaquinha para comprar mais 300 exemplares da sua obra, para um projeto de leitura com as turmas do ensino médio, no segundo semestre deste ano.

“O que vale para as editoras capitalistas é o nome, e não o conteúdo do livro. Por isso fui à luta, editei com tiragem reduzida e com produção por meio de demanda. E vou vendendo, doando e quando preciso, peço novos livros. Quem se interessa, envio por correio. Hoje é mais barato editar. Várias editoras já trabalham assim, por demanda”.

Cíntia Gomes, 30, é correspondente do Jardim Ângela
@cintiamgomes
cintiagomes.mural@gmail.com