Projeto de jornalismo em escola conta histórias do Glicério

Agência Mural

O convite é feito pela “garota do elevador”, uma menina tenebrosa, que parece se divertir assustando os estudantes da escola municipal Duque de Caxias. Com um olhar que estarrece, a garota alerta: “Se você não vier…”, e gritos são ouvidos ao fundo. É com um vídeo de mais ou menos um minuto que os integrantes do “O Grito do Glicério” chamam novos alunos para suas atividades neste semestre.

O projeto é um espaço para discussão entre alunos, que produzem um jornal mural, podcast de rádio, uma carta ou mesmo uma reportagem. Ao produzirem o material, os alunos –moradores do Glicério, centro de São Paulo–, com o auxílio dos professores, tentam reconstruir suas identidades e a da região a partir de uma reflexão diária.

Atualmente, o “Grito do Glicério” tem dez integrantes, e é elaborado por duas professoras. Em 2011, 50 alunos passaram pela iniciativa. A queda pode ser explicada pela evasão escolar, segundo os professores.

As reuniões do projeto ocorrem no intervalo entre as aulas, três vezes por semana, na sala de informática do colégio –uma espécie de redação de jornal.

Nos encontros, os alunos podem propor discussões de vários temas. Eles e as professoras conversam sobre o que ocorreu na escola e no bairro. A partir daí, o ‘problema’ pode virar uma pauta, uma história. Os temas vão desde moradia a problemas internos do colégio, como brigas entre os alunos.

Espaço do Jornal Mural do Grito do Glicério
Espaço do jornal mural do Grito do Glicério

O “Grito do Glicério” existe desde 2009. Surgiu da parceria da professora de informática educativa Janaína Monteiro, responsável pelo programa “Alunos Monitor”, da Secretaria Municipal de Educação, e da professora de história Márcia Dias da Silva. O resultado possibilitou uma participação mais ativa da escola na realidade do bairro e na comunidade escolar.

Os passos seguintes foram se firmando com o jornal mural, com os podcasts de rádio publicado no blog e com o canal TVEscola Duque de Caxias.

O projeto traz Glicério no nome para promover o empoderamento dos alunos e, por conseguinte da comunidade, dizem os educadores. “Pelo nome é possível contar uma história que sempre é resgatada”, afirma Janaína.

“Apesar de ser fomentado pela prefeitura, foi uma iniciativa nossa. No início, em 2009, eu e a Márcia não recebemos nada. ‘Nas ondas do rádio’ é um programa que mudou muito. Hoje, a prefeitura conta com professores que saíram da sala de aula e sabem das necessidades da escola e que colocam suas vidas naquela proposta educacional”, esclarece.

Desde o início do ano, o projeto é tocado pelas professoras Janaína e Marília Gabriela Donoso, de artes.

Preocupada com as pautas e temas tratados no “Grito do Glicério”, Marília identifica trabalhos emblemáticos que foram realizados pelos estudantes. “O ano passado desenvolvemos um trabalho em sala de aula sobre a história do Glicério e sua identidade. O produto final dessa pesquisa que foi problematizada durante seis meses, pode ser visto na TV Duque de Caxias com os curtas em stop motion”, conta.

“O projeto é resistência e busca se pautar pela realidade do seu entorno. Tudo o que tem no Glicério tem no Duque. O Duque é um pequeno Glicério”, completa Janaína.

“Aqui, no Duque, nós temos um problema de baixa autoestima dos alunos. A iniciativa traz a possibilidade de pensar relações novas de professor e aluno, relações mais horizontais, e o reconhecimento desses alunos”, aponta a professora.

Stephany Santos, 12, está no “Grito do Glicério” desde o início do ano e vê no projeto uma possibilidade de mudança. “O olhar das pessoas que moram aqui tem que mudar também. O Glicério tem coisas boas”, enfatiza a aluna do 8° ano.

“Nesse monte de coisa negativa, há um ponto positivo: a gente”, afirma Mickael Mendes, 11, estudante do 5° ano e integrante do grupo. Confira os trabalhos aqui.

Carina Barros, 30, é correspondente do Glicério
@carinabarros
carinabarros.mural@gmail.com

Comentários

  1. SHOW!!! Ações educacionais devem ser permanentes e de integração entre crianças e comunidade. Parabéns as professoras idealizadoras do projeto.

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