Grafiteiros se juntam para trazer arte à estação de trem em Guaianases
O artista plástico Paulo de Alencar, 31, é conhecido no bairro de Guaianases, na zona leste de São Paulo, por seus desenhos. Chamado de Todyone, é possível ver obras dele em diversos muros, praças e postes.
“Sou artista plástico. O grafite veio até mim em 1997 por um primo, desde lá nunca mais parei, aprendi a dançar break, a cantar rap, fazer freestyle e a pintar muros”, conta. Com a ajuda de outros grafiteiros, o trabalho se estendeu para as estações da CPTM na região.
Um dos trabalhos de maior destaque foi um painel que fez na estação de trem Dom Bosco (Linha 11). Desde lá carregava a vontade de pintar a estação de Guaianases, bairro onde mora e em que cerca de 2 mil usuários passam diariamente. No último mês, o espaço recebeu uma série de grafites por meio do projeto “Museu a Céu Aberto”.
A ideia de colorir as estações de trem começou em 2001 quando um tio, Gilson, foi morto enquanto trabalhava como segurança dentro da estação Tatuapé. “Queria mudar um pouco este ar triste que carregamos há anos”, afirma.
Paulo Ito, 37, é outro artista de rua que trabalha há anos com spray e foi convidado para a ação. “Guaianases, bem como toda a periferia, aloja pessoas das classes mais baixas e de força trabalhadora. Quis que elas se vissem de uma maneira digna”, diz.
As obras carregam críticas sociais. O boneco de dread representa o negro indo ao trabalho de forma alegre. O artista ‘Ozi Stncl’ recriou “O beijo” do pintor austríaco Gustav Klimt, com a ideia de que o povo precisa de afeto. Há também um grafite que remete ao movimento que pede às mulheres negras com cabelos cacheados “mais cachos, menos chapinha”.
Entre os grafites que chamam a atenção está a figura de uma mulher que, segundo o autor, é um tributo ao trabalhador. “É aquele conceito antigo que respondemos quando desdenham do imigrante nordestino, por exemplo. Mas foi com o suor deles que essa cidade foi erguida. Procurei botar isso na parede”, afirma Ito.
Desde que foram feitas, os passageiros que passam por ali se sentem atraídos pelas cores das pilastras que se tornaram espaços para ‘selfies’ dos moradores.
“Só o impacto da arte na estação já quebrou a rotina de quem usa o transporte todo dia, como eu”, afirma o supervisor de operações, Emerson Carneiro, 23, morador de Guaianases. “Como a arte expressa a época em que vivemos, acho importante para as pessoas do bairro, onde nos sentimos largados. O grafite mostra que existe alguém preocupado com a nossa cultura e educação”, reforça.
Lucas Veloso, 20, é correspondente de Guaianases
lucasveloso.mural@gmail.com
Grafiteiros de Mairiporã fazem intervenção artística na cidade
Chegada de haitianos muda a rotina de Guaianases
Ocupação dos Saraus em Guaianases propaga literatura periférica