Manifesto Crespo recebe líderes femininas de várias cidades em Embu
No sábado (8), o coletivo Manifesto Crespo encerrou um ciclo de vivências do projeto Tecendo e Trançando Arte, oficinas que abordam a estética da mulher negra e indígena, com foco no cabelo, resgatando elementos históricos e culturais.
Em atividade desde 2011, o grupo é composto por quatro mulheres jovens, negras e moradoras de diferentes bairros da capital paulista. Ao longo de um semestre, elas viajaram por comunidades que têm mulheres em posição de liderança. O evento de encerramento aconteceu no Teatro Popular Solano Trindade, em Embu das Artes, com o encontro das representantes de todos os locais visitados.
“Estou emocionada em ver tantas mulheres reunidas, mulheres líderes. Essa junção me dá esperança de um mundo melhor. Ver tantos jovens e adultos juntos e preocupados em fazer um trabalho sério para preservar nossa cultura e a nossa história me enche de alegria”, disse Raquel Trindade, a anfitriã e homenageada do dia.
Raquel é artista plástica, coreógrafa, folclorista, referência em cultura popular e ativista social. Raquel completou 79 anos esta semana, é a fundadora do teatro que recebeu o encontro e criadora da Nação Kambinda de Maracatu.
A versão itinerante do projeto, que antes transitava na cidade de São Paulo e arredores, começou em dezembro de 2014 com o objetivo de conhecer as tradições, organização e experiências políticas de líderes como Neide Ribeiro, do Centro Cultural Orùnmilá, em Ribeirão Preto; Alessandra Ribeiro e Vanessa Dias, do Jongo Dito Ribeiro, em Campinas; Jerá Guarani, da aldeia Tenondé Porã, no bairro de Parelheiros, e Maria Gabriel do Prado, do Quilombo da Caçandoca, em Ubatuba. Durante um bate-papo, todas contaram suas vivências e desafios como mulheres negras, indígenas e protagonistas de comunidades ou projetos localizados em regiões periféricas.
Mesmo com as diferenças regionais, a fala de cada uma delas evidenciou como suas lutas são marcadas, além do racismo e do machismo, pela dificuldade de terem seus espaços garantidos e reconhecidos. A ausência da proteção do Estado e o quanto suas conquistas foram, essencialmente, atingidas pelo coletivo. Todas relataram a necessidade de recorrem a ocupações para protegerem suas terras da especulação imobiliária e de um jogo de interesses que ignora o legado cultural e social que carregam em seus trabalhos.
Cada viagem promovida pelo coletivo permitia um número limitado de participantes, cerca de 30 pessoas por visita. Celia Reis, historiadora e educadora, participou de todas. Pra ela, projetos e reuniões como essas são fundamentais para uma real mudança de atitude e comportamento. “Na luta pela igualdade racial, essa troca representa a melhor forma de construir novas maneiras de nos relacionar. Receber, doar, partilhar, compreender, respeitar. Existe uma forma melhor de nos libertar?”
Segundo Nina Vieira, co-fundadora e integrante do Manifesto Crespo, nos últimos meses, cada oficina inspirou o coletivo a ampliar sua atuação geograficamente. Agora, a expectativa é se aproximar ainda mais do Nordeste e das mulheres africanas. Além dos novos planos, cada vivência intensificou o sentimento de relevância da proposta do coletivo.
“Todas as vezes que recebemos o agradecimento de uma participante, que reconfirmamos a importância da trança no processo de libertação do uso da química nos cabelos e nos deparamos com mulheres que resistem todos os dias ao racismo, o machismo e a padronização estética, concluímos que o nosso trabalho continuará essencial”, concluiu Nina.
Semayat Oliveira, 26, é correspondente da Cidade Ademar.
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