Moradora de Mauá cria brechó itinerante de artesanato e roupas afro
É com tecidos africanos e brasileiros que Juliana Ferraz, 31, faz sua arte. Moradora do bairro São Gabriel, em Mauá, na Grande São Paulo, a professora de artes e de dança africana divide o tempo com a atuação como artesã e a criação do brechó itinerante Arte e Identidade.
Formada em artes cênicas e licenciada em artes visuais, ela customiza roupas, confecciona bolsas e saias. Participante desde os 15 anos do movimento hip-hop, o teatro e a dança ofereceram-lhe outras experiências.
“A questão da valorização para mim veio muito cedo, através do hip-hop. Nunca alisei meu cabelo, mas eu era muito urbana. Nossos primeiros figurinos no teatro foram de chita e fuxico, no grupo de dança Koteban; nós fazíamos o figurino com tecido africano, foi aí que eu me apropriei desses tecidos”, conta.
Ela começou fazendo fuxico, peças feitas com retalhos de tecidos, ainda quando cursava a segunda faculdade, em 2009. “Colocava a florzinha no cabelo, para valorizar o cabelo afro, aí veio o pensamento ‘vou fazer várias e não vou comprar, vou fazer do meu jeito’. Vi que isso tinha uma identidade. Fui fazendo um monte e quando vi já estava vendendo”, comenta.
Com dois empregos, a prática que era mais uma forma de lazer com o tempo foi deixada. Em 2012, contudo, ficou desempregada após ficar grávida, o que fez depender apenas da renda do marido, o analista de sistema e músico, Emerson S. Queiroz, 30. Preocupada, retomou a atividade.
Não demorou muito para que ela voltasse a dar aulas, mas com o retorno financeiro do artesanato, optou por um emprego e usar o restante do tempo livre para expressar sua criatividade.
Com a ajuda do marido, abriu em fevereiro um bazar de roupas usadas, em um espaço onde ficaram apenas por 5 meses. Por conta do alto valor do aluguel, optaram por um modelo itinerante.
Juliana expõe o trabalho em vários espaços e eventos culturais, como o Centro Cultura Dona Leonor, na feira de artesanato em Mauá, no Sarau do Hip – Hop, Sarau do Fórum, em São Bernardo, e no
Sarau na Quebrada, em Santo André. Por mês, ela chega a conseguir R$ 500. A venda sai mais sob encomenda e por pedidos pela internet.
“Se você for em lojas populares, as roupas são sempre as mesmas, dificilmente tem roupa parecida com a gente, com o que a gente quer vestir. Quando tem roupas específicas, são caras”, opina.
Juliana desenha seus próprios moldes: mulheres gingando capoeira, tocando tambor, visando quebrar estereótipos de papeis anteriormente associados apenas ao gênero masculino. Registros históricos que ela anexa às roupas de forma que conta sua própria trajetória. A artesã pretende se tornar autônoma e visa parcerias para montar uma confecção.
“Uma das coisas que me atrai é a valorização da nossa ancestralidade. Os tecidos e suas cores fazem com que a gente se sinta mais bonito, sem a coisa do ‘exótico’ e sim a naturalização dessa estética”, diz o cliente Raifah Monteiro, 28, músico e educador social. “A maioria das peças são únicas, parecidas, mas nunca iguais, pois é uma produção artesanal e este tipo de trabalho traz outra carga, outro cuidado com o que se produz”, ressalta.
Fabiana Lima, 30, é correspondente de Santo André
fabianalima.mural@gmail.com
@Fabianasilim